Mesmo sem carnaval, meu mês de fevereiro chega ao fim cheio de cores. Nessas últimas semanas tive o imenso prazer de mergulhar no universo da maquiagem teatral e resgatar muitas sensações que o teatro trazia quando ainda era possível fazê-lo de forma presencial.
Considero muito importante dizer que é impossível falar de teatro sem mencionar as máscaras teatrais, que foram tão utilizadas e conhecidas através do Teatro Grego, no início do teatro ocidental. Naquela época uma das principais funções da máscara era ampliar o alcance da imagem e da voz dos atores, com o passar do tempo novos significados foram atribuídos a esse adereço – na Commedia Dell’arte, por exemplo, os personagens, sempre fixos, eram identificados através da máscara de cada um. O surgimento do palco italiano – com coxia, iluminação na ribalta e menor distanciamento físico com o público – possibilitou a criação de máscaras coladas no rosto dos atores – a maquiagem teatral.
Um pouco mais adiante, o Teatro Expressionista, através da sua linguagem, estudou a anatomia humana para fazer os contornos e criar a sensação de profundidade e protuberância. Dessa maneira, se assim posso dizer, a maquiagem teatral é uma filha da máscara teatral há um tempo considerável. Hoje é muito utilizada, em algumas linguagens, para compor não apenas o personagem, mas a estética, o cenário e os signos da história e da peça, principalmente quando pensada com a iluminação, resultando em efeitos e sensações que agregam para quem assiste (e quem faz).
Depois de um ano sem poder pisar em um palco e utilizar meu corpo para contar histórias que eu não vivi, eu tive medo que algumas sensações pudessem ser esquecidas. Costumo dizer, desde o começo do isolamento social que, para mim, a grande dificuldade da atuação nesse formato, é conseguir me desvincular de quem eu sou para poder, de fato, ser o personagem em questão e contar sua história. A prática de me caracterizar em diversos personagens (totalmente diferentes de quem eu sou e dos meus hábitos) durante esse mês nas minhas aulas, foi de extrema importância para esse momento em que eu me encontro enquanto atriz. Como eu já disse, foi um resgate de sensações que o palco me causa, mas que esse formato de teatro online ainda não tinha me causado, até mesmo por uma enorme dificuldade de concentração da minha parte também, acredito.
Lembro que durante uma aula da semana passada, a minha professora Luciana Birindelli comentou o quanto esse momento sempre a ajudou a se concentrar. São minutos ou horas que antecedem o espetáculo. É um momento muito importante para conseguir se entregar e se envolver verdadeiramente com o universo do seu personagem. Muitos consideram esse momento um ritual, porque exige concentração (nos desenhos e técnicas da maquiagem e no seu próprio personagem), tranquilidade e um encontro com elementos que te inspiram e despertam criatividade.
Com técnicas que eu já utilizava nos meus desenhos e nas minhas pinturas, quase todas as minhas maquiagens teatrais foram feitas em momentos muito prazerosos e cheios de significados. Venho percebendo o quanto desenhar – em qualquer superfície – me faz bem também. A união dessas duas artes tem sido o caminho. Principalmente em momentos tão cruéis como esse.