Uma praia no sul da Índia chamada Mahabalipuram e a prática de yoga inspiraram Enzo Buono, da Kosmik Band, a originar a ideia do disco que o grupo acaba de lançar, “Mantras On The Beach”, o segundo de sua trajetória. Com nove faixas e gravado na frequência 432hz – capaz de proporcionar tranquilidade, o álbum traz mantras em sânscrito acompanhados de melodias relaxantes, reafirmando a relação duradoura da banda com a cultura indiana. “Mantras são como canções de amor e retratam a relação dos hindus com o divino. E eles têm muitas divindades, como Shiva, Vishnu, Brahma, e os mantras refletem o amor que eles sentem por essas energias”, comenta Enzo.
O cruzamento de culturas está no DNA da banda, que conta com integrantes de diferentes partes do mundo, com percursos diversos. Da Argentina, Charo Bogarín – La Charo – tem origem guarani e incorpora suas raízes indígenas no seu trabalho, Enzo Buono é produtor e atuou com o projeto Playing for Change registrando a criação musical de artistas ao redor do mundo, Carlos “Patán” Vidal, membro mais recente do grupo, é um dos mais importantes pianistas de jazz do país; da Espanha, o guitarrista Diego “Twanguero” García é vencedor do Grammy Latino por seu trabalho com o cantor de flamenco Diego El Cigala; e do Brasil, Nanan,é músico e ambientalista conhecido mundialmente pela canção “Casa da Floresta”.
Sobre o processo de cantar os mantras em sânscrito, La Charo afirma: “Gravar mantras é um processo de aprendizagem contínuo, pois tenho que cantar em línguas que não são coloquiais, nem de práticas espirituais típicas do nosso continente. Tenho sangue Guarani e estou habituada a cantar nas línguas ancestrais do meu povo e de outros povos irmãos da América do Sul. Esta é uma viagem à Índia através do som. Aprender a pronúncia dos mantras foneticamente, captando o significado do que dizemos para expressá-lo desde o espírito, é um processo muito enriquecedor a nível musical e pessoal”.
Em “Mantras On The Beach”, o grupo cria uma trilha sonora que passa por diferentes momentos até alcançar a quietude do savasana, postura de repouso profundo da yoga. O disco tem início com “Ganesha”, mantra utilizado na Índia para iniciar celebrações e remover obstáculos. “Yogi” homenageia os professores espirituais e o pai de Enzo Buono, que faleceu após uma batalha contra o câncer. Em “Anamaya”, se retrata o corpo físico, enquanto em “Svasti” se pede bençãos para 100 primaveras. “Gayatri” convida à meditação sob a luz suprema da criação. “Varanasi”, por sua vez, celebra a cidade indiana homônima e as águas sagradas do rio Ganges. “Chakra” se volta à energia da Kundalini e “Sarvesham” ao desejo pela paz. “Shariputra” é a última faixa, composta apenas de instrumentais que encerram a jornada do álbum.
A arte da capa é assinada por Pedro Roth, artista húngaro de 85 anos responsável por todas as capas de músicas da Kosmik Band lançadas até o momento. Sobrevivente do Holocausto e residente em Buenos Aires, Roth recebeu em 2023 o Prêmio Nacional que reconhece a importância de sua trajetória artística, oferecido pelo Museu Nacional de Belas Artes em parceria com o Ministério da Cultura do país.
O embrião do grupo surgiu pela primeira vez na década de 2000, altura em que Enzo, inspirado por um retiro espiritual que frequentou na Índia, desafiou-se a transformar os mantras “lentos e contemplativos” que aprendeu “em algo que as pessoas pudessem dançar”.
Dessa missão surgiu, em 2009, um projeto, inicialmente chamado La Oneness Band, que cruzava a transcendência indiana com os sons das latitudes que descobriu enquanto produtor da Playing For Change, instituição de ação social através da música com a qual viajou a países como a República Democrática do Congo, Jamaica, Cuba, Senegal e Mali. Depois de conhecer Nanan, em 2019, não demorou muito a descobrir ali um novo grupo: à identidade sonora que Enzo vinha recolhendo pelo mundo fora, Nanan veio acrescentar “o toque mágico brasileiro”. Mais tarde, somaram-se ao grupo La Charo, Diego “Twanguero” García e Patan. Ouça o álbum na íntegra: