Dona de uma carreira nas artes incontestável, Lucélia Santos soube usar da fama em prol de seus valores e não somente para enriquecer ou para benefício próprio. Em sua biografia “Lucélia Santos: Coragem para Lutar” conhecemos histórias e temos acesso a depoimentos que narram a trajetória de uma mulher que fez de seu personagem mais icônico, uma escrava, o trampolim para que sua voz, imagem e ações convergissem em uma luta – travada até hoje – contra discursos de ódio e em defesa das minorias.
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A obra que chega às livrarias pela Editora Telha foi escrita pelo jornalista Eduardo Meirelles, narra a trajetória que mescla os momentos de fama da atriz talentosa com a mulher de fibra, dona de si e que colocou a carreira em cheque para lutar em prol de seus ideais. A atriz esteve no front de diversos movimentos e batalhas políticas nos últimos 40 anos, desde as movimentações em defesa da Anistia aos presos políticos, as Diretas Já, o processo de surgimento da figura Luiz Inácio Lula da Silva, a fundação do Partido dos Trabalhadores e do Partido Verde, este último do qual teve protagonismo central em sua construção no período de redemocratização.
“Lucélia Santos: Coragem para Lutar” conta como foi fundamental a relação de Lucélia como agente de construção de acordos bilaterais com a China que, à época, acabara de sair da Revolução Cultural e abria-se para o mundo capitalista. Foi peça chave para as primeiras construções de acordos comerciais e culturais entre Brasil e China que estão vigentes até os dias atuais, sendo a China, hoje, uma das maiores parceiras do Brasil no que tange ao comércio exterior.
O uso do termo “Coragem” não deixa dúvidas que Lucélia sempre foi uma mulher de princípios e que guerreou com as armas que tinha para atingir seus objetivos. Seu ativismo foi retratado em sua luta pela preservação do meio-ambiente, da fauna, em defesa dos povos da floresta, os direitos e representatividade social das mulheres, dos LGBTQIA+, na luta contra o racismo e o trabalho escravo, contra a fome, pelo acesso à educação, saúde e qualidade de vida para todas as brasileiras e brasileiros, além de lutas na década de 1980 que ainda eram tabus na sociedade, como o surgimento do HIV no Brasil, direito das prostitutas e o aleitamento materno.
Lucélia fez do protagonismo que Isaura lhe proporcionou o combustível para, assim como a escrava perseguia na novela, ter o protagonismo na sua vida, lutar por seus ideais e atingir todos os seus sonhos. Lucélia é protagonista de suas histórias seja na ficção ou na realidade, mas principalmente na estrada de vida que escolheu para escrever seu nome. 140 páginas. R$ 59.