A Amazônia do fim do século XIX era lugar de todas as gentes, de todas as cores, de todas as caras a falar um mundo de línguas. Mas nem tudo é verde esperança na floresta amazônica. “A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia 1865-1908”, do autor Mauricio Zouein, conduz, quem ler o livro, a se enveredar pela experiência de vida de quem produziu e de quem foi o foco das imagens. Lançado pela Editora Telha, a obra desperta a curiosidade de quem está na Amazônia ou longe dela. Daqueles que desejam entender a exploração humana dissimulada na bem-aventurança do progresso.
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Grandes palacetes, modernos bondes elétricos, tratamento de água, óperas famosas. Assim era a Amazônia nos tempos da borracha. A “Paris dos trópicos”, título disputado entre Manaus do Amazonas e Belém do Pará. Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais… tiveram a chance. Como afirma o autor, nas imagens fotográficas da Amazônia brasileira era mostrada “a pobreza na condição de ser civilizado e o exótico na condição de ser explorado”. Será que ainda somos assim? Reféns dos nossos preconceitos.
Esta obra, repleta de iconografias da época, tem por objetivo a compreensão das relações sociais, políticas, econômicas e culturais, transformadas em expressões visuais, que nos mostram a luta local pela preservação do tradicional e do “progresso a qualquer custo”. A magia que impera no coração da maior floresta do planeta vem sucumbindo, pouco a pouco, às ações de degradação do homem, seja através das mãos dos escravos do passado, seja através da mineração ilegal do presente.
“Para nos lembrar de nosso dever de historiadores que é justamente o dever de contar muito bem essa História para que as crianças indígenas tenham condições de continuar a resistir à falácia do progresso e da civilização que durante tantos séculos tentaram propalar como sendo a única possibilidade da humanidade e do Brasil. Quantas vidas mais irão embora, quanta violência mais será usada e justificada na primazia do lucro? Até quando a Amazônia irá aguentar os ataques do famigerado capitalismo que destrói o planeta e toda a beleza dessa natureza e dos guerreiros povos indígenas registrados nesses álbuns?”, diz o prefácio.
Em “A Ideia de Civilização nas Imagens da Amazônia 1865-1908”, somos capazes de refletir juntos sobre esses conceitos de arqueologia e genealogia, em que escavamos o passado com o olhar do presente. Através da tríade “Comunicação, Territorialidades e Saberes Amazônicos”, é possível contemplar investigações que deem conta do intenso trânsito étnico e cultural da região. A partir deste ponto, o que temos é uma reflexão do autor sobre a seguinte pergunta: Como se constitui historicamente a ideia de civilização nas imagens fotográficas da Amazônia brasileira? 270 páginas. R$ 69.