“JANELAS ABERTAS PARA O MUNDO”, NOVO MURAL DE EDUARDO KOBRA, CELEBRA A DIVERSIDADE DOS MIGRANTES E REFUGIADOS

“SIMBOLICAMENTE, O MURO É UM IMPEDIMENTO, AQUILO QUE NÃO PRECISAMOS NO MUNDO”, DIZ O MURALISTA
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01.09.2022

Divulgação / Alan Teixeira

O conhecido muralista brasileiro Eduardo Kobra pintou uma nova e impactante obra no muro em frente à fachada do Museu da Imigração, no bairro da Mooca, na Zona Leste de São Paulo. Com 736 m² (5,8 m de altura por 127 m de extensão), o mural “Janelas Abertas para o Mundo” mostra oito migrantes e refugiados, de diferentes origens, todos personagens reais retratados pelo artista urbano com as cores que caracterizam sua obra.

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Ao longo do mural, em janelas pintadas, estão Andres Samuel Peralta Guedez, 15 anos, da Venezuela; Mafueni Delfina, 9 anos, e Mabanza Victor James Henoe, 6 anos, de Angola; Noura Bader, 35 anos, Palestina; Priscília Mbuku Bazonga, 12 anos, da Líbia; Vijay Bavaskar, 52 anos, e Deepali Bavaskar, 49 anos, da Índia; e Seema Bashar Hameed Aluqla, 8 anos, do Iraque.

Para realizar a obra, Kobra contou com a parceria da organização humanitária IKMR (I Know My Rights), que indicou as pessoas retratadas. Kobra conversou com cada um dos refugiados para conhecer suas histórias e personalidades. No prédio em que o museu está situado, ficava originalmente uma hospedaria que recebia migrantes, muitos deles refugiados, que muitas vezes ficavam em suas janelas observando o movimento na nova cidade. Agora, quem está nos jardins do Museu poderá ver as janelas que existem no muro e, como se fossem portais, “conversar” com essas pessoas e talvez se interessar por suas histórias e pela questão dos milhões de refugiados no mundo inteiro. 

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“Simbolicamente, o muro é um impedimento, aquilo que não precisamos no mundo. É o que separa, o que demarca as diferenças e o que impede o ir e vir. Por isso, escolhi mostrar os personagens nas janelas abertas, olhando para fora, para as pessoas que passam, muitas vezes indiferentes”, diz Kobra.

De acordo com o artista, tão nociva quanto o ódio e o preconceito contra o migrante e o refugiado é a indiferença, é passar por seres humanos sem enxergá-los, como se não existissem. “Mais do que nunca as cores que utilizo nas obras têm um significado bem especial aqui. As pessoas, com suas origens, culturas e características diversas, tornam o país e o mundo mais bonito. É preciso abrir as janelas, mas também as portas, os olhos e os corações para acolher essas pessoas que abdicaram de suas pátrias e precisaram, por diversas razões, se deslocar”, afirma Kobra, que complementa: “que sejam felizes e consigam reconstruir suas vidas no solo brasileiro”.

Até o final de setembro, Kobra fará uma peça exclusiva, com a imagem do mural e todo o recurso da sua venda em um leilão online (data ainda indefinida) será revertido para a IKMR

Segundo Vivianne Reis, fundadora e diretora-geral da IKMR, o mural retrata pessoas em situação de refúgio que fazem parte da comunidade que a organização atende. O Museu da Imigração “é um espaço especial em São Paulo e para as nossas crianças, que amam brincar no seu jardim. Em minha opinião, essas são janelas para o mundo, que trazem a histórias incríveis de resiliência e de superação. E todos terão a oportunidade de conhecer um pouco da história dessas pessoas que estão aqui”, afirma.

“PORTINARI PARA TODOS” PERMITE ÀS NOVAS GERAÇÕES A SE ENVOLVEREM NA SINGULARIDADE DA OBRA DO ARTISTA

Para a diretora da IKMR, é incrível que o museu tenha pensado nisso. “Todo mundo que estiver no jardim terá, ao ar livre, a oportunidade de admirar essa obra de arte impactante e principalmente de refletir sobre a importância dessa causa para o mundo”, diz, acrescentando que desde o ano passado, “embora ainda não conste do calendário oficial, 27 de agosto também é o Dia da Solidariedade à Infância Refugiada”.

Um dos protagonistas da obra é o venezuelano Andres, que, junto com a sua família, iniciou o processo migratório em 2019. Depois de saírem do país de origem, passaram pela Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, até chegarem ao Brasil. Apesar das diferenças encontradas em São Paulo, onde está há um ano e quatro meses, Andres não se arrepende da mudança, procura compensar com muita dedicação os anos de dificuldade e destaca os aprendizados vivenciados, como em relação à cultura, ao idioma, aos sonhos e à luta cotidiana: “Atualmente, estou no primeiro ano do Ensino Médio e trabalho em um hospital através do programa Jovem Aprendiz. Também estudo canto em um instituto, treino futebol e vou para a academia”, conta com orgulho.   

A jovem Priscília, nascida na Líbia, também é mostrada no mural. Ela e sua família migraram, devido à guerra, para o Congo, mas por problemas políticos, buscaram refúgio em outro país. Chegaram ao Brasil em 2014. Com apoio de uma organização humanitária, começaram um curso de português e conseguiram um albergue para ficar. A possibilidade de viver em paz é um aspecto positivo mencionado pela mãe de Priscília, Mamie, que também relembra como foi triste começar tudo de novo, longe da família, das pessoas queridas e do trabalho. Priscília destaca o que mais gosta ao se ver no mural: “É estar de braços abertos! É como se eu estive abraçando as pessoas. E é exatamente isso que eu desejo: que cada um que olhar essa pintura se sinta abraçado”.

Depois de se casar, aos 21 anos, a palestina Noura, nascida em Gaza, se mudou com o marido para a Arábia Saudita. Devido à sua origem não conseguiram documentos nem oportunidade de trabalho. Também ficou impedida de retornar pelo fechamento das fronteiras. Quando receberam um convite de um amigo do marido, que vivia no Brasil, não pensaram duas vezes para mudar em 2016, já com dois filhos, de continente e país. Em poucos anos, conquistaram a cidadania brasileira e foi no novo país que Noura teve seu terceiro filho.

A  menina Seema, iraquiana (mas nascida na Jordânia, assim como seus três irmãos, para onde sua família emigrou devido à guerra no Iraque), há quatro anos no Brasil, já passou por muitas dificuldades em seus oito anos de vida, mas é dessas pessoas que contagiam a gente com um largo e espontâneo sorriso e fazem com que acreditamos que a vida é boa, bela e sempre vale muito à pena. Ela própria está encantada com a expressão do seu rosto captada por Kobra: “Meu sorriso ficou muito bonito. Eu amei. É importante que mesmo que algo esteja difícil ou incomodando a gente nunca tire o sorriso do rosto”, afirma. 

OS DESAFIOS DOS REFUGIADOS, AO REDOR DO MUNDO, SOB A ÓTICA INFANTIL

Segundo Alessandra Almeida, diretora executiva do Museu da Imigração (MI), a ação tem o propósito de estimular a produção cultural, compreendendo que a arte pode ser uma linguagem universal para problematizar e tornar sensíveis conceitos importantes para o entendimento dos deslocamentos humanos. “Desse modo, o projeto torna-se uma continuidade ao trabalho realizado pelo MI ao longo dos anos, de buscar a aproximação da temática das migrações históricas e contemporâneas, bem como aclarar assuntos relacionados ao refúgio e prover reflexões sobre racismo estrutural e direitos humanos”.

O novo mural segue a linha de temáticas utilizadas pelo artista ao longo de sua trajetória. Kobra é autor de projetos como “Greenpincel”, onde mostra imagens fortes de matança de animais e destruição da natureza; e “Olhares da Paz”, onde pinta figuras icônicas que se destacaram na temática da paz e na produção artística, como Nelson Mandela, Anne Frank, Madre Teresa de Calcutá, Dalai Lama, Mahatma Gandhi, Martin Luther King, John Lennon, Malala Yousafzai, Maya Plisetskaya e Frida Kahlo.  

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