Carolina Augusta, Sofia Tolstói, Pilar Del Río, Zélia Gattai, Vera Nabokov, todas talentosas mulheres, tão importantes quanto seus maridos, mas que foram relegadas ao “mérito” de companheiras de grandes homens.
Muito além de musas e fazedoras de reis, todas influenciaram direta e indiretamente o nascer de obras clássicas com suas ideias, datilografando, revisando, editando, reescrevendo, retificando, traduzindo e assim vai.
Mais ao lado do que à sombra, elas bateram de frente com uma realidade cheia de empecilhos para seu reconhecimento intelectual, uma vez que ao gênero durante séculos foi negado o direito básico à educação. É nessas mulheres que pensa o filme “A Esposa” (The Wife), do diretor sueco Björn Runge, com roteiro de Jane Anderson, baseado no romance homônimo de Meg Wolitzer, que estreou em 10 de janeiro.
Na obra, Joan Castleman (Glenn Close), é uma dedicada esposa que abandonou suas ambições de escritora para se dedicar a carreira do marido, o literário mulherengo Joe Castleman (Jonathan Pryce). O ponto incitante se dá logo nos primeiros dez minutos de cena, quando Joe é laureado com um Prêmio Nobel de Literatura e Joan se confronta com uma iminente reavaliação de suas escolhas.
O longa é em si sólido e tradicional, uma obra que entrega o que promete e nada mais. O grande destaque é a atuação de Glenn Close, que carrega o filme nas costas reafirmando o que todos já sabem, é uma atriz de primeiro escalão.
Durante os 100 minutos da história, em camadas e mais camadas de uma carga emocional reprimida, vemos como o “nós” do casal se tornou o “eu” com o passar de 40 anos de casamento. Na entrega do Nobel, grande auge de Joe, a câmera opta por mostrar Joan e todos os sentimentos sustidos brotam da atuação de Glenn Close, ao mesmo tempo que um sutil desfoque na imagem nos conta muito sobre a vida da personagem apagada por um homem medíocre, no sentido mais puro da palavra.
Glenn é uma verdadeira instituição da sétima arte, sua carreira abrange quase meio século, passando pelo teatro, cinema e televisão, com “A Esposa” já garantiu o Globo de Ouro de Melhor Atriz, o que aumenta suas chances para o tão merecido Oscar. Esta seria sua sétima indicação e, se seu, que esse prêmio coroe sua majestosa carreira e de todas as mulheres marginalizadas pela história. Como a própria disse em seu discurso no Globo de Ouro: “temos nossos filhos, nossos maridos e, se tivermos sorte, nossos pais, mas temos que encontrar aquilo que nos faz sentir realizadas. Temos que seguir nossos sonhos e dizer: eu consigo, e tenho o direito de conseguir”.
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