Com sobriedade, ‘A Pé Ele Não Vai Longe’ reflete sobre alcoolismo desenfreado

Filme é baseado em autobiografia do cartunista norte-americano John Callahan
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03.01.2019

Divulgação

Com atuação comovente, Joaquin Phoenix (‘Ela’, 2013) protagoniza esta cinebiografia baseada no livro de memórias do cartunista norte-americano John Callahan (1951-2010), ‘Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot’ (“não se preocupe, ele não chegará longe a pé”, em tradução livre), lançado em 1990.

Escrito e dirigido por Gus Van Sant, dos louváveis ‘Elefante’ (2003) e ‘Milk: A Voz da Igualdade’ (2009), assim como do desnecessário remake de ‘Psicose’ (1998), ‘A Pé Ele Não Vai Longe’ fica no meio-termo entre um e outro. Longe de ser ruim, mas igualmente distante de momentos tão geniais quanto os vistos nos melhores exemplos acima.

Um de seus pontos mais positivos é a maneira sóbria, sem apelos emocionais, com que Van Sant trata a profunda dependência alcoólica e as trágicas consequências causadas ao personagem principal. Ao contrário, carrega parte do sarcasmo e humor negro que caracterizam a obra e a personalidade de Callahan. Tetraplégico aos 21 anos, devido a um acidente de carro, o cartunista descobriu sua vocação para o desenho durante seu processo de reabilitação.

Interessante, também, que o roteiro não enfoque o posterior reconhecimento profissional alcançado por ele. Não é desse tipo de conquista, tão venerada em Hollywood, de que o filme trata. A busca do herói, aqui, é vencer não só a dependência química, mas igualmente o trauma de infância causado pelo abandono da mãe biológica, algo que colaborou diretamente para o vício depois adquirido.

Já a performance de Jonah Hill (‘Anjos da Lei’, 2012) merece um parágrafo à parte. Fora de seu âmbito comum, de personagens cômicos que costuma interpretar mesmo em filmes mais conceituados, como em ‘O Homem Que Mudou o Jogo’ (2011) e ‘O Lobo de Wall Street’ (2013), em ‘A Pé Ele Não Vai Longe’ o ator vive Donny, uma espécie de guru que conduz reuniões privadas entre alcoólatras anônimos, realizadas em sua própria mansão. De fala mansa, olhar sereno e visual bem diferente do habitual (barba e cabelos longos), Hill mostra grande desenvoltura para papéis dramáticos, nos entregando a atuação mais surpreendente de sua carreira.

Há ainda, participações importantes de Jack Black (‘Escola de Rock, 2003), cujo personagem dirige o carro durante o acidente de Callahan, e Rooney Mara (‘Carol’, 2015), como a fisioterapeuta com quem o cartunista desenvolve grande amizade e acaba por compor o lado romântico da trama.

A Pé Ele Nao Vai Longe

A atriz Rooney Mara

A montagem, intercalada por momentos passados e presentes, dá certa dinâmica ao filme, mas não impede que o ritmo decaia lá pela metade, quando já assimilamos as limitações enfrentadas pelo protagonista enquanto tetraplégico, assim como as dificuldades que isto lhe causava para se livrar das crises de abstinência. Há um natural desejo de vermos a história seguir adiante. É o típico caso em que um corte final mais justo, isto é, que deixasse de fora uma ou outra cena, faria bem ao resultado final.

Ainda assim, impressiona ver tanta humilhação e constrangimento que uma pessoa é levada a sofrer através de uma necessidade incontrolável por uma determinada substância química. No caso, talvez nos espante tanto por sabermos tratar-se da mais comum e acessível destas substâncias.

A Pé Ele Não Vai Longe (Don’t Worry, He Won’t Get Far on Foot) – França/EUA, 114 min, 2018 – Dir.: Gus Van Sant – Estreou em 27/12. Assista ao trailer:

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