“ENTRE BARATAS E RINOCERONTES” SEGUE A ABORDAGEM DA INCORPORAÇÃO ANIMAL DO HOMEM, DA BRUTALIZAÇÃO DO HUMANO

“UMA CENA SOCIAL E SUBJETIVA ONDE AS FALAS E OS ATOS HUMANOS SÃO, AO MESMO TEMPO, ANIMALESCOS”, DIZ MAURO MENDES DIAS
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21.10.2021

Divulgação

“Entre Baratas e Rinocerontes” chega ao leitor um ano e quatro meses após lançamento de “O Discurso da Estupidez”, no qual Mauro Mendes Dias mostra, desde a Psicanálise, como funciona do discurso da estupidez, responsável pela produção de efeitos que nomeou de vociferações, que não se reduzem a falas estúpidas ou asneiras, mas sem excluí-las. Afirmação que ele situa a partir do funcionamento dos discursos, tal como elaborados pelo psicanalista Jacques Lacan, em seu seminário, O Avesso da Psicanálise e em outros momentos de sua obra. 

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Entre os termos que compõem o discurso da estupidez, o autor inclui no lugar do agente do discurso, o estúpido; no lugar da verdade, a crença; no lugar daquele a quem o discurso é dirigido, as vociferações; e no lugar do que esse discurso produz, desde as vociferações, inclui a barata. A causa para a instalação desse discurso está o consentimento à retirada da própria voz: o sujeito fala, sem particularidade, na medida em que, incondicionalmente, se entrega ao discurso do outro. O psicanalista ressalta com o discurso da estupidez, a presença da barata e do rinoceronte entre nós, como já mostrou a literatura de Ian McEwan, no livro “A Barata”, e o teatro de Ionesco, na peça “O Rinoceronte”. “Os animais estão entre nós, e são cativantes para muitos. Se as baratas foram incluídas no discurso da estupidez, como produto dele, é pelo fato de que a produção de baratas retroalimenta o estúpido, fazendo-o cada vez mais asqueroso, como na literatura, e na vida – pública e privada”, afirma. 

É nessa questão que Mauro Mendes Dias se detém na nova obra. “Baratas, rinocerontes e até formigas carnívoras são encontradas no livro. Participam de uma cena social e subjetiva onde as falas e os atos humanos são, ao mesmo tempo, animalescos”. Em “Entre Baratas e Rinocerontes” segue a abordagem da incorporação animal do homem, da brutalização do humano. “Não é o mesmo que andar e se expressar como eles, mas falar como um animal e andar na vida como ele. Uma coisa é dizer da presença do animal no ser humano, como analogia. Outra coisa é falar do homem pela presença do que ele conserva e admira na conduta animal. Aprendendo, então, com as baratas e os rinocerontes em busca de objetivos hediondos, destruindo o patrimônio ecológico como uma manada de rinocerontes, admirando o ataque em bando das baratas, de forma a aprender com elas as leis do esgoto”, esclarece o autor.

 

O psicanalista escreve sobre o que reconhece estar acontecendo ao nosso redor por meio do discurso da estupidez e pela incorporação animal. O livro traz uma clara e profunda leitura do atual momento político e social que presenciamos, e nele nos inserimos com altos riscos de consequências. Fala da brutalização que atinge a todos ao ressoar da esfera política e social para o âmbito pessoal, familiar, profissional, humanitário. “Não desejo engrossar a crítica política, mas desdobrar o discurso nas subjetividades e atentar para o fato de que a disseminação e proliferação do ódio são maiores do que se quer admitir”. O autor alerta para consequência clínicas suscitadas pelo domínio do discurso da estupidez, animalizado, pelo poder da palavra sem considerar a reflexão, pela agressividade e violência que podem causar danos, tornando as pessoas mais brutas nos afetos. 

Sobre o combate à infestação da bestialidade, Mauro Mende Dias reflete. “Acreditar numa eliminação definitiva das baratas, depois de terem retornado em massa, é semelhante a apostar que a presença das manadas de rinocerontes podem ser convencidas a mudar de direção depois de avançar. Não foi à base de um pó mágico que essa metamorfose se deu. Foi devidamente adubada e regada pelo discurso da estupidez até o dia de seu retorno, e não desaparecerá por mágica da imaginação. Os animais humanos vieram para ficar. Precisamos inventar alternativas para reduzir as bestialidades, para o cultivo de longa duração, de retomada e comemoração do humano, com seus impasses e fracassos”

“Entre Baratas e Rinocerontes” integra uma série de lançamentos, iniciada com “O Discurso da Estupidez”, que o autor promete, junto à editora Iluminuras, tratando dessa incorporação animal do homem. Os dois livros dão continuidade ao trabalho de pesquisa que o autor vem realizando, há alguns anos, sobre a voz na psicanálise, levado adiante no Instituto  Vox. “Tenho como objetivo incluir outros animais que me permitam avançar na escrita, tanto quanto na reflexão e no esclarecimento de outras questões”, finaliza Mauro Mendes Dias. 72 páginas. R$ 39.

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