A misteriosa história de Kaspar Hauser, o menino sem identidade e linguagem que foi encontrado na Alemanha em 1828, serve como fonte de inspiração para o espetáculo “E o Zé, quem é?”, com texto e direção do premiado Marcello Airoldi. A peça tem uma temporada gratuita no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, até o dia 5 de março.
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O elenco traz André Capuano, Carolina Parra, Dani Moreno, Eugênio La Salvia, Fagundes Emanuel e Silô Moreno, além dos músicos Felipe Chacon e Juh Vieira. Além disso, o espetáculo conta com a participação em off da grande atriz Laura Cardoso. Já a direção de produção é assinada por Kiko Rieser.
O trabalho dá continuidade à pesquisa que o autor e diretor vem desenvolvendo em teatro para crianças. Seu espetáculo anterior, “Mequetrefe Sorrateiro”, lhe rendeu o Prêmio São Paulo (antigo Femsa) de autor revelação, além de indicações em diversas outras categorias. Já a relação do artista com a conhecida trajetória de Kaspar Hauser também é antiga: em 2007, ele escreveu e dirigiu a peça “A Casa do Gaspar – O Órfão da Europa”, ao lado do Teatro Ventoforte.
A peça se passa em um país que parece fictício, dominado por um governo autoritário, e conta a história de um garoto que é encontrado no meio da praça. Sozinho e em trapos, ele não sabe falar nenhuma língua e mal consegue andar. Todos ao redor especulam de onde o menino teria vindo, mas ninguém sabe a resposta para essa pergunta. Uma pessoa desconhecida não é ninguém, concluem os agentes do governo, e alguém que não é ninguém pode se tornar qualquer coisa, o que é muito perigoso. Assim, o menino sem nome vai preso por vadiagem, e, tornando-se assunto da cidade inteira, só faz aumentar a curiosidade sobre sua identidade.
Depois de um mês, a justiça faz um acordo com a cidade: solta o garoto, mas obriga toda a população a ficar responsável por ele, revezando-se mensalmente em sua guarda com um auxílio financeiro. Enquanto segue a investigação para descobrir sua história, ele se torna uma espécie de filho da cidade toda e ganha finalmente um nome: Zé. Nas muitas casas em que passa a morar, Zé aprende a falar e a andar e cada um da cidade transmite a ele seus próprios valores: o Cidadão lhe explica economia e como lucrar a todo custo; a Autoridade o ensina a atirar; e a Professora é a única que o estimula a olhar para o mundo com os próprios olhos.
Ao longo da história, Zé percebe que pode ser quem quiser e que não é necessário desvendar sua história, porque é possível reescrevê-la dali para frente.
“Toda a história da peça gira em torno da busca pela história pregressa de Zé, como se ela, por si só, fosse capaz de lhe conferir uma identidade. No entanto, o desconhecimento da linguagem nos evidencia que Zé nunca esteve em contato real com outro ser humano e, portanto, jamais poderia ter desenvolvido qualquer identidade. É apenas em relação direta com os outros que somos o que somos, e isso também é um ponto fundamental de ser discutido perante um público de crianças. O respeito à diferença e à alteridade deve nascer não só pela razão ética, mas também pelo entendimento de que dependemos do outro para nos constituirmos enquanto indivíduos, seja absorvendo, seja refutando aquilo que vemos à nossa volta”, comenta o autor e diretor Marcello Airoldi.
Além desses temas, o espetáculo faz uma importante homenagem à Cultura e à Educação (simbolizada pela personagem da Professora), que, segundo o encenador, são “os pilares que constituem a identidade de qualquer pessoa e de qualquer nação”.
SERVIÇO
Espetáculo “E o Zé, quem é?”
Onde: Teatro Cacilda Becker
Endereço: Rua Tito, 295, Lapa – São Paulo
Quando: 11 de fevereiro a 5 de março
Horário: sábado e domingo às 16h
Quanto: entrada gratuita – ingressos distribuídos uma hora antes do espetáculo
Duração: 70 minutos
Classificação etária: livre
Informações: (11) 3864-4513
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