D’OS TINCOÃS COMBINAM A COMPLEXIDADE RÍTMICA DO CANDOMBLÉ À SOFISTICAÇÃO BARROCA DA CULTURA CATÓLICA NO ÁLBUM “CANTO CORAL AFROBRASILEIRO”

O PROJETO É APRESENTADO PELA NATURA MUSICAL E JÁ ESTÁ DISPONÍVEL NAS PLATAFORMAS DIGITAIS. OUÇA
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20.04.2023

Divulgação

O precioso legado d`Os Tincoãs está prestes a alcançar mais ouvidos e almas com o lançamento do álbum inédito “Canto Coral Afrobrasileiro” (Sanzala Cultural) pela Natura Musical. O registro realizado em 1983, semanas antes de o trio vocal formado por Dadinho, Mateus Aleluia e Badu, em Cachoeira, Bahia, partir para Angola, já está disponibilizado nas plataformas digitais.

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No disco, o grupo fundamental da música brasileira, que combina a complexidade rítmica e melódica de temas do candomblé à sofisticação barroca da cultura católica, encontra-se com o Coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro em seis músicas. Nas outras quatro faixas prevalece o som d`Os Tincoãs no formato que os consagrou.

No ano em que a obra completa 40 anos de sua gravação, Mateus Aleluia, o remanescente vivo que integrou o lendário trio baiano por mais tempo, desejou disponibilizar as dez faixas, quatro delas nunca gravadas antes. Com o violão de Dadinho, os atabaques de Mateus e o agogô e ganzá de Badu, todas as músicas do álbum foram compostas e adaptadas pela dupla Mateus e Dadinho e também serão lançadas em vinil. A idealização do projeto é do produtor do trio na época, Adelzon Alves. Com Os Tincoãs desde 1973, ano de lançamento do disco de estreia homônimo, que trazia a cultuada “Deixa a Gira Girar”, o produtor identificava no grupo, segundo Mateus Aleluia, “uma projeção para um coral de cantos indefinidos, o verdadeiro canto coral afrobrasileiro”.

Graças aos conhecimentos musicais fruto de sua atuação como radialista, ouvido em todo Brasil na década de 1970, Alves aproximou o gênero musical spirituals – cânticos religiosos entoados por corais de pessoas pretas do Sul dos Estados Unidos – do trio. “Eu queria fazer algo assim com Os Tincoãs: um gospel afrobrasileiro, mas com as músicas que eles cantam em iorubá e banto, cuja origem tem mais de 2500 anos, segundo especialistas, um repertório de grande importância antropológica e histórica para o Brasil e o mundo”, explica o carioca de 83 anos, que produziu e lançou nomes como Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Alcione e João Nogueira.

“A música é um potente veículo de conexão. Os projetos selecionados pelo edital Natura Musical representam diferentes pontos de vista e perspectivas e têm o poder de conectar conhecimentos e referências para promover novos imaginários. Essa é mais uma tecnologia social que vai impulsionar mudanças no presente e projetar o futuro”, afirma Fernanda Paiva, Head of Global Cultural Branding.

Os africantos ecoavam mais longe do que nunca. Ainda assim, uma sensação de incompletude estava presente entre a expectativa em relação ao tal do sucesso“As portas estavam abertas, mas, depois, para sentar à mesa, não conseguíamos sentar…”, relembra Seo Mateus. Desembarcaram, então, em Luanda para uma temporada de sucesso e revelações na ancestral capital angolana. Andando em meio ao desgastado casario colonial lusitano, sentiram, imediatamente, uma familiaridade com a baiana Cachoeira. Luanda e o Caquende eram quase uma coisa só.

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Quando o grupo brasileiro cantou afinadíssimo, em quimbundo arcaico, para o novo público foi recebido com uma poderosa energia e muitos aplausos. Milhares de pessoas juntaram-se ao trio para entoar “Sou de Nanã Ewá /Ewá Ewa ê/ Sou de Nanã Ewá/Ewá Ewá”. O almejado lugar à mesa estava, definitivamente, sendo conquistado do outro lado do Atlântico. Parecia que as coisas, finalmente, se ajeitavam.

Os búzios ainda estavam sendo movimentados nas mãos do destino e antes de completar um mês de chegada, Badu informou a Dadinho e a Mateus que voltaria para o Rio de Janeiro. A decisão precipitou o fim do trio já que a dupla remanescente continuou em Angola. Mateus passou a atuar com publicidade (voltou à música em 2002) e Dadinho, no comércio, tendo falecido de derrame em Angola, em 2000. A dupla ainda gravaria um LP, em 1986. Badu é, atualmente, cantor, produtor musical e vive nas Ilhas Canárias (Espanha).

Enquanto os Tincoãs ganhavam o Velho Continente, no Brasil, Adelzon dedicava-se à missão de completar o projeto afro-coralístico. Para escrever os arranjos vocais, escolheu o maestro Leonardo Bruno, então colaborador de Gilberto Gil, Golden Boys, Clara Nunes, Erlon Chaves e do próprio trio baiano, para o qual arranjou a faixa “Chapeuzinho Vermelho” no LP de 1977. A próxima etapa seria eleger um coral apto para a empreitada e seu regente. A incumbência coube ao maestro Armando Prazeres que regia o Coral dos Correios e Telégrafos – além do próprio Leonardo Bruno, que também assinou a batuta. Para reforçar as bases rítmicas nas faixas com coral, foi arregimentado o não menos lendário percussionista brasileiro, Pedro Sorongo. Ouça na íntegra:

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