DAS RESTRIÇÕES SOCIAIS À PRIVAÇÃO DAS EMOÇÕES – QUEM ESCUTA AS MENINAS?

A FORÇA QUE NOS EXIGEM COMO MULHER É MUITO MAIOR DO QUE A DESENVOLVIDA AO BRINCAR DE PANELINHAS
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21.08.2021

Raoni Libório / Helen Salomão

“Nasceu!
É uma menina!”

E o que vem depois? Imposições.

“Vai usar rosa!  Vai ter longos cabelos! Vai se casar! Vai ser mãe e formar uma linda família!”

Estes são trechos do texto inicial da peça “Mulher a Vida Inteira” criado pelas Atuadoras, coletivo feminista de teatro, a partir de desabafos reais feitos por mulheres em situação de violência. Este texto ou outras afirmações também se repetem na vida, como imposições quase que inquestionáveis, tanto em nosso país quanto em outras culturas, como o que está à tona nos noticiários, sobre regimes religiosos em diferentes proporções e lugares do mundo, tudo isso parece distante de nós, mas não se engane, o fundamentalismo e um Estado regido pela religião vêm nos ameaçando todos os dias e gerando graves consequências. 

O que está por trás das restrições sociais em torno do corpo da menina? 

Parece só um cuidado, um jeito de educar, uma proteção: não subir no muro, fechar as pernas, falar baixo. Não incomodar! Será? Parece tão rotineiro, mas que educação é essa que deprime ao invés de instigar? O músculo para se desenvolver precisa de movimentos, a coordenação motora precisa de repetição e para expressar emoções é preciso estar em relação. Na transição para a adolescência, meninas se queixam de ficar mais em casa, de ter medo e de serem proibidas de saírem nas ruas por conta da violência direcionada a um tipo de corpo – para mulher é assustador crescer, o corpo é motivo de ameaça.

NEM MOCINHA, NEM VILÃ: ANTI-HEROÍNA

Leda Freitas no artigo “Quando ser menina é ruim: percepções de gênero em crianças e adolescentes” da Revista Psicologia e Sociedade, afirma que o processo de adolescer é apontado, como de perda da liberdade, aumento de responsabilidades em casa e de maior confinamento no espaço doméstico.

As diversas restrições das ações do corpo da menina podem afetar desde o desenvolvimento criativo na infância e adolescência até a autonomia na vida adulta, por restringir movimentos e experiências de um corpo no ambiente em que vive, dificultando assim até o entendimento de sentimentos e a comunicação das emoções. 

“Qual o seu compromisso para fazer do Brasil e da América Latina um lugar melhor para as meninas?”. Esse foi o mote da live de lançamento dos resultados da pesquisa Direitos das Meninas para um Futuro com Igualdade: Compromissos na América Latina e no Caribe, que aconteceu dia 19 de agosto no canal do Tiktok do 1 Milhão de Oportunidades, e ainda está disponível no canal do Youtube UNICEF Brasil. As adolescentes entrevistadas declararam que os poderes públicos consideram suas opiniões de forma limitada ao tomarem decisões que as afetam.

Além de todas as questões sociais, vale lembrar que cada corpo é integral e único, e se o movimento é restrito, a coordenação motora, a amplitude das articulações e a força muscular também podem ser afetadas com um simples “desça daí! Isso não é coisa de menina!”, e privados de desenvolverem uma série de possibilidades e capacidades físicas, que vai do equilíbrio para atividades de vida diária, a dores na coluna por uma rigidez osteomuscular  e até dificuldades de se expressar e falar de si ao longo da vida. 

Movimento é existência, experiência, se o lugar em que estamos está restringindo nosso mover ou apagando partes do nosso corpo estabelecendo limites e punições, é mais do que proteção, é restrição e vem de um poder social comum e normativo, já conhecido por todas. 

Incentive umas às outras, a força que nos exigem como mulher é muito maior do que a desenvolvida ao brincar de panelinhas. Incentive ao invés de podar, porque isso o poder militar já está pronto pra fazer, e a religião, preparada para reproduzir discursos contra o desenvolvimento e autonomia do corpo tido como feminino.

“Nós, mulheres, aprendemos o caminho da Liberdade e não abriremos mão de sermos livres para pensar, agir, atuar, movimentar, escolher e erguer nossas vozes por uma vida sem violência”, Amelinha Teles para a peça “Estamos Vivas” das Atuadoras.

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