Em 1997, a dramaturga Consuelo de Castro (1946-2016) publicou sua versão de Medeia, com a ideia de desconstruir sua imagem – na mitologia grega é a mulher que mata os filhos para se vingar da traição de seu marido, Jasão. A montagem de “Memórias do Mar Aberto: Medeia Conta Sua História”, idealizada por Roberta Collet, que também está no papel principal e dirigida Reginaldo Nascimento, estreia dia 17 de fevereiro, no Teatro Paiol Cultural, em São Paulo.
“Sempre quis montar Medeia e convidei o diretor Reginaldo para embarcar nessa ideia comigo. Mas ele preferia atualizar o original, para se conectar com questões do nosso tempo. Assim, durante nossa pesquisa encontramos a dramaturgia da Consuelo, que se casava perfeitamente com o que queríamos”, conta Collet. O texto de Consuelo de Castro mostra Medeia por outros ângulos: na trama, ela tem ideais políticos e chefia a expedição dos Argonautas no lugar de Jasão.
De acordo com o mito, a missão desses navegantes era ir à Cólquida buscar o Velocino de Ouro, um presente dos deuses cujo poder era atrair prosperidade. Medeia lutava para garantir a paz entre os povos do Ocidente e do Oriente. Por esse motivo, foi traída não só pelo amor de Jasão a outra mulher, mas por uma aliança política dele com o rei Creonte. Para abordar todas essas dimensões no espetáculo, a encenação coloca o poder feminino a partir dos atos finais de vida, mortes e renascimentos que atravessam o caminho de Medeia. Ela representa a luta de tantas outras pela paz ao longo da história.
A traição aparece em cada desejo inescrupuloso dos homens que a cercam no desenvolvimento da tragédia. “Ela é deslegitimada pelos deuses, pelos oráculos e pelo próprio Jasão. Em sua visão, todos esses agentes matam as pessoas que a ajudam e roubam seu direito de ser rainha”, comenta o diretor Reginaldo Nascimento. Medeia conta sua história de uma maneira diferente. Por isso, de acordo com o diretor, a concepção do espetáculo se pauta em uma encenação limpa. “Nosso foco está na força das palavras e na potência das interpretações. Dessa maneira, o cenário é minimalista e a trilha sonora serve apenas para ambientar o espectador”, acrescenta.
Na proposta cênica, todos os personagens já estão mortos, exceto Medeia, pois ela se tornou um símbolo. “Como minha ideia é que ela esteja expurgando os pecados, a narrativa acontece em retrospecto, como um filme. Ou seja, o palácio já foi queimado e os filhos já estão mortos. Assim, quero que os atores e atrizes estejam chamuscados pela poeira do fogo e do tempo – e o figurinista Chriz Aizner vai viabilizar isso”, detalha o diretor.
Em relação à sonoplastia, Reginaldo Nascimento pensou em utilizar apenas músicas instrumentais. Haverá também a projeção de um mar, com o barulho constante de água, raios e trovões, dando o clima de uma tragédia grega. Os intérpretes são Roberta Collet, Felipe Oliveira, Haroldo Bianchi, Joca Sanches e Rodrigo Ladeira. A peça foi montada com recursos próprios, sem o apoio de leis de incentivo. “Para nós, é uma alegria montar esse texto no Teatro Paiol Cultural, que abriu as portas em 1969, justamente com um texto de Consuelo de Castro”, afirma Nascimento.
SERVIÇO
Peça “Memórias do Mar Aberto: Medeia Conta Sua História”
Onde: Teatro Paiol Cultural
Endereço: Rua Amaral Gurgel, 164, Vila Buarque – São Paulo
Quando: 17 de fevereiro a 24 de março
Horário: sábado às 20h e domingo às 19h
Quanto: R$ 60 (inteira) R$ 30 (meia)
Classificação etária: 14 anos
Duração: 90 minutos
Informações: (11) 2364-5671 ou através do site