Família é brutalmente executada. Assassinos permanecem impunes. Cônjuge sobrevivente parte em busca de justiça com as próprias mãos.
O enredo é bastante manjado. Pelo título recebido no Brasil, percebe-se que a distribuidora também sacou a semelhança entre ‘Peppermint’ (nome original, que significa “hortelã”) com Punisher, personagem da Marvel conhecido aqui como Justiceiro.
Versões femininas de populares filmes de ação têm sido uma tendência nos últimos anos. A ideia é ótima. O problema é que nenhum deles – ‘Caça-Fantasmas’ (2016), ‘Oito Mulheres e um Segredo’ (2018), etc. – acertou em cheio até o momento. Ainda que ‘A Justiceira’ não se baseie oficialmente em Punisher, falta-lhes, sobretudo, um toque de originalidade. Em ‘Peppermint’, a escolha de Jennifer Garner para o papel principal é até irônico: na década passada a atriz protagonizou o filme solo de Elektra (2005), personagem do mesmo universo de Demolidor e Justiceiro. Pode-se dizer, contudo, que seu explosivo desempenho comprova um retorno triunfal às cenas de luta corporal.
Já o roteiro de Chad St. John – do curta ‘O Justiceiro: Roupa Suja’ (2012), estrelado, veja só, exatamente pelo personagem da Marvel – não se dá ao trabalho sequer de escolher um local menos clichê para a cena do massacre inicial: um parque de diversões. O que se torna apenas um pormenor, se comparado às improbabilidades seguintes.
A saber, é muito difícil acreditar que Riley North (personagem de Garner) realmente seria capaz de identificar os autores do crime contra sua filha e seu esposo nas circunstâncias em que ocorreu – distância, luminosidade, tempo decorrido… Mas ela consegue. Em vão, porque no corrompido tribunal, a situação é revertida. Considerada emocionalmente instável, Riley é intimada a se internar. O que ela faz, na verdade, é sumir do mapa, a fim de, cuidadosamente, preparar sua vingança.
Em meio a um sem número de situações previsíveis, a câmera do diretor francês Pierre Morel – notabilizado pelo sucesso de ‘Busca Implacável’ (2008) – até se destaca em algumas ocasiões, com movimentos dramaturgicamente bem calculados. A empatia maior, no entanto, se dá pela causa da jovem viúva, em permanente luto também pela filha, na caça aos responsáveis diretos e indiretos pela sua dor. A motivação é nobre, ainda que a execução suscite questões morais.
Afinal, quem não gostaria de fazer justiça por conta própria, se infiltrar nas organizações criminosas mais complexas, destruindo um a um, agindo de forma totalmente autônoma? E ainda por cima tendo a chance de destruir a vida de juízes e magistrados que não agem com isenção e imparcialidade? Mesmo que para isso sejam necessários anos de treinamento altamente especializado, que incluem manuseio de todo tipo de arma e técnicas avançadas de lutas marciais e táticas furtivas. É o sonho de qualquer “cidadão de bem”, tão acessível e banal quanto ir comprar café e cigarro ali na esquina.
A Justiceira (Peppermint) – EUA, 101 min, 2018 – Dir.: Pierre Morel – Estreou em 18/10. Assista ao trailer: