Famoso por suas pinceladas fortes, tons vivos e imagens de girassóis, Vincent Van Gogh é um dos pintores mais adorados do mundo. Apesar da popularidade atual, a biografia dele é marcada por pobreza, relacionamentos fracassados e muitas especulações sobre uma suposta loucura que lhe rendeu a alcunha de “gênio incompreendido”. Hoje símbolo da cultura pop, ele ganha uma história mais comum e sem idealizações no livro “Clara e Vincent”, do escritor Sérgio Corrêa.
O ponto de partida do romance é a temporada que o holandês passa no interior da França, pouco antes de morrer. Em 1888, o pintor até então desconhecido e malsucedido muda-se para Arles. Com esses elementos inspirados na história real do artista, a ficção inicia quando Van Gogh conhece Clara, uma jovem arlesiana responsável por lhe entregar o pão diariamente.
Ao entrar em contato com a obra artística dele, a moça se apaixona por seus quadros e personalidade criativa. Inspirada pela natureza de Arles, ela o incentiva a usar novas cores e elementos em seus quadros, como os famosos girassóis, e se torna testemunha da realização de algumas das telas mais famosas de Vincent. A convivência faz nascer uma paixão profunda que despertará o lado mais belo dos dois e transformará a história da arte mundial.
“Clara sentiu o ar lhe faltar. Ela tinha visto Vincent montá-lo, mas, de onde se encontrava, mesmo tendo uma imagem próxima do ponto de vista dele, nada daquilo que ali estava ressaltou aos seus olhos. Como podia ter ele visto daquela forma? A luz era exatamente aquela, lembrava-o bem. Ali estava um momento único, fixado na retina do pintor, transposto para a tela numa sobreposição de camadas de tinta que lhe dava composição tridimensional e faziam as imagens saltarem da tela numa pantomina de cores, acrescentando-lhe vida própria. Era a paisagem por detrás de sua casa, porém, como que vista em sonho. Um sonho maravilhoso, de cores intensas, explodindo de vida”. (Clara e Vincent, p. 30).
O livro é uma ficção que busca ir além do senso comum criado ao redor da figura de Van Gogh, e, para isso, o autor mergulha nas emoções e na psique dos personagens. “Isso proporciona uma visão mais íntima e sensível da experiência do artista, destacando como o amor e o apoio emocional podem ter impactado sua criatividade e bem-estar”, explica Sérgio Corrêa. O destaque está no modo como ele foge da associação corriqueira do pintor com a loucura, e constrói um personagem complexo e instável, movido principalmente pelo desejo de representar a beleza do mundo em sua arte.
Com descrições de obras conhecidas como “Noite estrelada sobre o Ródano”, e das belas paisagens da Provença, “Clara e Vincent” é um retrato delicado sobre duas pessoas unidas pela sensibilidade e pelo fascínio com a vida. É uma leitura para agradar os fãs de romances históricos, assim como os das artes. 150 páginas. R$ 44,46.