A Enciclopédia Sapatão da Casa 1 foi inaugurada em uma data marcante para a militância LGBTQIA+ no Brasil: 19 de agosto, dia em que, em 1989, houve o levante do Ferro’s Bar, motivado pela proibição da circulação do jornal “ChanacomChana”. O país vivia a ditadura militar e militantes lésbicas com o apoio de grupos feministas, se uniram no famoso bar localizado no centro de São Paulo para reivindicar direitos de igualdade e civilidade. Até hoje, neste dia é comemorado o Dia Nacional do Orgulho Lésbico.
Para feitura da enciclopédia, que já pode ser consultada pelo site, a Casa 1 buscou perfilar figuras que trouxessem pluralidade para o projeto, abordando as infinitas possibilidades de existir enquanto mulher lésbica e jogar os holofotes para essas vivências, sempre com um cuidado em pensar os recortes de raça, classe e outros marcadores importantes na constituição das identidades.
MULHER NEGRA CIS LÉSBICA E UMA TRAVESTI ESCREVEM LIVRO DE POESIA SOBRE O AMOR ENTRE ELAS
“Mulheres lésbicas, assim como outras minorias, também precisam se ver representadas e especialmente em contextos positivos. É muito comum que lésbicas cresçam em ambientes lesbofóbicos. A Enciclopédia Sapatão é para mostrar para estas pessoas que existe a possibilidade de uma existência feliz e plena enquanto lésbica”, explica Thays Eloy, redatora da Casa 1 e uma das criadoras do projeto.
Os perfis são divididos por categorias, que englobam as áreas de atuação das mulheres perfiladas, que variam desde atrizes de teatro a profissionais de saúde e educação, com destaque também para militantes de causas como pessoas com deficiência, além de ativistas do movimento negro. Após o lançamento, a ideia é expandir a base de dados para contar a história do maior número de mulheres possível. “Também não nos consideramos detentoras exclusivas do conhecimento e acreditamos na soma dos saberes e esforços, por isso deixamos aqui as portas abertas para quem desejar inserir biografadas na nossa enciclopédia”, afirma o manifesto de apresentação, assinado pelas mulheres lésbicas da Casa 1.
Qualquer pessoa pode enviar sugestões de mulheres lésbicas que poderiam entrar na Enciclopédia. Para isso basta enviar o perfil (com um texto entre mil e dois mil caracteres) e uma imagem na melhor resolução possível para o e-mail enciclopediasapatao@casaum.org
A partir desse contato por email, a equipe de comunicação da Casa 1 realizará a manutenção e atualização do site, para que as histórias de muitas mulheres sejam registradas pelo projeto. Para além de seu papel documental, o site também pode funcionar como uma fonte de pesquisa para pessoas que queiram contratar, se inspirar e acompanhar o trabalho das mulheres perfiladas.
“IRMÔ, CANÇÃO DE LIA SOPHIA FALA SOBRE OS DESAFIOS DE SER LGBTQIA+ NO BRASIL
Se em meados de 2010 os movimentos ativistas LGBTQIA+ passaram a grafar a sigla da comunidade iniciando com a letra L, o apagamento histórico que lésbicas enfrentam segue existindo, inclusive nos espaços feministas. Vale ressaltar que o movimento lésbico também se organizou ao longo das décadas no Brasil, como no Grupo de Ação Lésbico-Feminista fundado em 1979, que viria a se tornar o Galf – Grupo Ação Lésbica Feminista no ano seguinte.