Entre os anos de 1822 a 1889, o Brasil viveu o Período Imperial Monárquico, não tínhamos um rei ou rainha, mas sim um imperador, chamado Dom Pedro I, o reinado foi marcado pelo autoritarismo e incompetência administrativa do país, sendo assim, nosso líder foi pressionado e renunciou o cargo, as terras tupiniquins ficaram em poder de regentes até que o filho do imperador completasse 18 anos e assumisse o trono de seu pai – entramos no Período Regencial. Após um século, com a evolução política, o país deixa de ser monarquia, mas os brasileiros ficaram presos no tempo e iniciaram a nomear celebridades como reis e rainhas de determinados segmentos, suprindo uma necessidade ou carência de servir alguém em posição superior.
“Podemos pensar no fanatismo como algo que preencha uma falta, onde a pessoa projeta em um ser ou mesmo em um objeto, algo do qual não se encontra em seu repertório pessoal. Penso que o termo fanatismo por si só esteja relacionado com obsessão/excesso, significado esse muitas vezes não condizentes com os cuidados em saúde, já que todos os tipos de excesso podem ter como resultados prejuízos para uma vida. Porém é possível reconhecer que há fanatismo que causam maiores prejuízos do que outros”, explica o psicólogo da Vibe Saúde, André Guimarães Wolff.
O título de realeza para rotular celebridades que se consideram melhores ou pioneiros em suas áreas passou a fazer parte do cotidiano dos brasileiros. As nomenclaturas iniciaram com Emilinha Borba, nomeada a eterna “rainha” do rádio, logo após surge o “rei” Roberto Carlos, rótulo que carrega até hoje, Pelé considerado o “rei” do futebol, Hebe Camargo, a “rainha” da televisão, Xuxa a “rainha” dos baixinhos, Gretchen, conhecida como a “rainha do rebolado, e hoje se autointitula a “rainha” da internet, até Roberta Miranda se autointitulou como a “rainha” dos sertanejos, seguida pela “rainha” dos caminhoneiros Sula Miranda, e Reginaldo Rossi, o “rei” do brega, mas você acha que foi uma moda passageira, ledo engano, em tempos de Millenials, a internet coroou Carlinhos Maia como o “rei” do Instagram. Esse hábito terrível de colocar celebridades em pedestais não é algo especialmente brasileiro, na terra do Tio Sam, os rótulos também têm sua força, como: Michael Jackson, o “rei” do pop, Madonna é considerada a “rainha” do mesmo ritmo e até Beyoncé ganhou o título da nobreza. Ufa!!! São muitos reis e rainhas espalhados pelo mundo para súditos tão fiéis e fanáticos.
“Muitas pessoas acreditam que tem um vinculo real com seus ídolos, que são amigos de verdade, então passam a deixar suas próprias vidas em segundo plano para viver a vida do ídolo. É como se houvesse uma simbiose entre o ídolo e aquele que idolatra. Importante perceber quando esse fanatismo ou idolatria esta atrapalhando sua vida real, você deixa de fazer coisas que gosta e que são importantes para seguir e acompanhar seus ídolos. Começa a perder sua identidade tentando ser cada vez mais parecido com ele. Nesses casos é fundamental haver uma interferência profissional para que o idólatra receba tratamento adequado para rever suas características pessoais e redescobrir quem é”, pontua Adriana Severine, psicóloga especialista em terapia cognitiva comportamental.
Qual a necessidade de coroar uma celebridade, dando a elas um título de realeza e não um rótulo de astro/estrela de determinadas profissões? Afinal, Elvis Presley foi um astro do rock, Fernanda Montenegro é uma estrela da dramaturgia, assim como Luiz Gonzaga é um fenômeno do baião, e isso não altera em nada quando citamos outras profissões como médicas, vendedores, policiais, enfermeiras, advogados que também possuem seus astros e estrelas, a diferença da celebridade e outra profissão é a fama que fanáticos lhe dão, concebendo um poder imaginário de superioridade em relação ao resto da população.
OPINIÃO – CELEBRIDADE É ARTISTA, ARTISTA QUE NÃO FAZ ARTE
“Muitas pessoas que atingem a fama de forma muito rápido acabam se “perdendo” em quem são na realidade, a atenção extrema que passam a receber de uma hora para outra, a deferência como são tratados e a “familiaridade” que muitas pessoas parecem ter com as famosas, muitas vezes levam a celebridade a se desconectar da realidade, realmente acreditando que são seres diferentes, superiores e que merecem e devem ser tratados como pessoas superiores. A mudança muito radical e repentina faz com que sua autoestima vire uma mistura de egoísmo e egolatria, eles próprios passam a se idolatrar, por isso é tão comum ver famosos se referirem a eles mesmos na terceira pessoa, como se fossem entidades diferentes. E novamente a pessoa com essa egolatria, perde-se da realidade e acreditam que podem infringir várias regras sociais e morais por não se sentirem como “simples seres humanos”. Passam a acreditar que todos devem tratá-los com deferência e ressaltar sua importância. Quando isso não ocorre podem agir com desrespeito e até mesmo com violência contra as pessoas que não destaquem essa “diferença imaginária”, conclui Adriana Severine.
Então, deixamos os títulos de rainha para a Dona Elizabeth e rei para o Sr. Juan Carlos. Não considere como uma regra, e sim uma reflexão sobre o assunto.