“Viver É Uma Arte: Transformando a Dor em Palavras”, lançamento da editora Letramento, marca a estreia de Beth Goulart. Repleto de afetos, de histórias de mãe e filha unidas pela arte, mas, acima de tudo, pelo amor e pela maternidade. A mãe, Nicette Bruno; a filha, Beth Goulart. Atrizes que dividiram a vida e o palco, que planejaram escrever um livro juntas, em que contariam um pouco de suas histórias, da filosofia e percepção sobre a vida, os momentos inesquecíveis de cumplicidade entre elas e em família.
NICETTE BRUNO: “NÃO EXISTE MAIS UM BILHETE, NINGUÉM CONVERSA MAIS”
O amor de Nicette Bruno e Paulo Goulart atravessou décadas, gerações em frente à TV, nas plateias dos teatros. Estava combinado que Beth seria a narradora; Nicette faria uma costura, e com sua sabedoria iria tecer comentários sobre os temas como amor, afeto, família, fé e a arte que está no DNA de toda a família.
O livro começaria com a morte de Paulo Goulart em 2014, depois de uma luta de quatro anos contra um câncer, e como foi vivenciada essa perda tão profunda por elas. Mas a força tão poderosa do teatro ajudou as duas a transformarem essa dor em arte, quando Beth fez a adaptação do livro “Perdas e Ganhos”, de Lya Luft, e dirigiu sua mãe neste espetáculo, que foi uma catarse pessoal e coletiva.
“Foi uma forma de tirar mamãe daquele luto e transformar aquela tristeza em história, com as boas lembranças da vida que viveram, que vivemos com ele”, diz Beth. Tudo seria compartilhado no livro como um dos temas mais significativos: a superação, mas 2020 chegou com a inesperada pandemia pela Covid-19, e o processo do livro que havia começado há pouco tempo foi interrompido pela brusca e dolorosa partida de Nicette Bruno, após 21 dias do diagnóstico.
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“Choque. Dor. Morte. Pausa. Silêncio. Amor. Pausa. Silêncio. Saudade. Fé. Eternidade. Essência. Luz. Amor. Pausa. Silêncio. Paz. Deus. Amor. Deus. Amor. Deus”. Essas são algumas das palavras compartilhadas logo após as primeiras páginas da apresentação de Beth Goulart para a publicação. Mais uma vez o luto foi necessário, e o livro teve que esperar o tempo de recolhimento da filha que precisou seguir sozinha seu caminho de transformação.
“VIVER SEM SABER” RELATA VIVÊNCIAS DE UMA FILHA AO LADO DA MÃE COM ALZHEIMER
Agora, “Viver É Uma Arte: Transformando a Dor em Palavras” chega às livrarias, como uma homenagem à Nicette Bruno, com prefácio de Nélida Piñon e posfácio da atriz Fernanda Montenegro, amiga de uma vida inteira de Nicette e Paulo.
Uma família que viveu diante de uma plateia chamada Brasil, um país inteiro que aprendeu a amar aquele casal e seus filhos, todos dedicados à arte. Uma história que se mistura com a chegada da televisão na sala de jantar, com as novelas e a possibilidade de ver de “perto” os atores que representavam mocinhas e mocinhos, anteriormente reconhecidos apenas por suas vozes pelas radionovelas.
Beth conta que, ainda pequena, pegava os livros na coxia dos teatros e inventava histórias, já aos três anos seu avô dizia que seria escritora. Beth é atriz premiada, autora e diretora de teatro, cinema e televisão, narradora de documentários e obras inteiras de nomes como o de Cora Coralina, Nélida Piñon e Clarice Lispector. Esta última lhe rendeu vários prêmios com atuação e direção do espetáculo “Simplesmente Eu”, Clarice Lispector.
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“Viver É Uma Arte: Transformando a Dor em Palavras” relata em sua primeira etapa as histórias do amor, da família e da arte do casal Nicette e Paulo. Nestas primeiras páginas, está lá o combinado: a narradora Beth, os comentários amorosos de Nicette. Depois, a experiência da filha sem a mãe, a dor da perda, o se descobrir sozinha e por conta própria.
Beth reflete: “Aprendemos agora a conviver com sua ausência. Isso nos obriga a olhar para nós mesmos e descobrir nossa força. Quem somos nós, diante da vida, do mundo e de nós mesmos. Agora temos que assumir nossa voz, nossas vontades, nossa coragem e insegurança muitas vezes, nossa sabedoria ou dúvida, nossa própria autoridade. Autonomia, independência, responsabilidade, liberdade de ser. Agora meu compromisso é comigo mesma, com meu propósito de vida, com minha fé, minha família, minha arte. Meus sentimentos e meu olhar para o mundo. A clássica pergunta ‘quem sou eu?’ se intensifica dentro de nós e aí descobrimos um caminho. O caminho do autoconhecimento, da autoestima, da autoconfiança. É um caminho sem volta. Agora são nossos pés que escolhem a melhor estrada. São nossos valores que orientam as atitudes. É, enfim, a nossa esperança que semeia novas oportunidades. Estou aprendendo a ser mãe de mim mesma, me ninar nas noites sem sono, me acalmar nas adversidades, me alegrar quando recebo carinho e afeto, me preparar para servir cada vez mais e melhor ao todo que pertencemos”.
E ao seguir com os ensinamentos deixados pela mãe, Nicette, para a filha, Beth, quem ganha é o leitor, que pode conhecer um pouco mais de Beth Goulart, a autora que transformou sua dor em palavras de sabedoria, ao partilhar suas vivências com todo um país, como forma de amor e homenagem a sua Nicette Bruno. 138 páginas. R$ 59,90.