“AUSÊNCIA”, OBRA DE NANA MORAES, MERGULHA NO UNIVERSO DE MÃES PRESIDIÁRIAS

A FOTÓGRAFA MOSTRA A SOLIDÃO E O IMPACTO DO ENCARCERAMENTO FEMININO POR MEIO DE BORDADOS QUE UNEM FOTOS E CARTAS
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02.06.2022

Divulgação

Histórias de vidas de mães encarceradas, o abandono e as dores na relação entre essas mulheres e seus filhos estão retratados no livro “Ausência”, que a premiada fotógrafa Nana Moraes lança este mês pela Editora Nau.

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“Ausência” é resultado do projeto Travessia, desenvolvido pela fotógrafa no presídio feminino Nelson Hungria, no Complexo de Gericinó, no Rio de Janeiro. Ao mergulhar no universo das presidiárias, Nana percebeu que elas quase não recebem visitas e ficam anos sem notícias dos filhos. O projeto teve como objetivo estabelecer uma via de comunicação entre as mães encarceradas e suas famílias, por meio da fotografia e cartas.

No projeto, mulheres presas escreveram cartas para seus filhos e foram fotografadas por Nana em um fundo de céu preparado especialmente para elas. As fotos e os textos foram enviados pela fotógrafa às famílias, com um pedido de autorização para que os filhos também fossem retratados em casa. “Pode-se imaginar como fui atingida por essas histórias. Encontrei vidas esgarçadas, retalhadas, marcadas, cheias de cicatrizes, rasgadas violentamente”, conta Nana.

O primeiro fruto do projeto Travessia foi a exposição “Ausência”, montada em 2017 no Centro Cultural Correios e que, em 2018, integrou as celebrações dos 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos em nova montagem na Cavalariça da Fiocruz. As histórias foram contadas através da costura de fotos, cartas, retalhos e bordados, sob inspiração das arpilleras chilenas – a técnica têxtil, manual, que borda retalhos e sobras de tecido, foi utilizada pelas mulheres do Chile para se expressar sobre a resistência política nos anos de ditadura.

Para as obras, Nana buscou pedaços de seda, jeans, algodão em confecções, costureiras, roupas velhas, pano de chão. Em seguida, ampliou as fotos em preto e branco em papel canvas, de forma que as fotos também se tornassem retalhos. E, por fim, fez ampliações de trechos das cartas das mães.

Para o livro “Ausência”, Nana criou uma espécie de “livro arpillera” – bordou mais de 50 páginas com fotografias, retalhos, objetos. Também os textos que contam as histórias são costurados em “retalhos” – a fotógrafa entrelaçou trechos das cartas das mães, filhos, cuidadores, famílias para tecer diálogos que expressam essas relações.

Com texto da diretora executiva da Anistia Internacional Brasil, Jurema Werneck, na orelha do livro; e prefácio da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, “Ausência” utiliza a linguagem artística para debater questões como encarceramento feminino, seu impacto nas famílias e na sociedade e possíveis formas alternativas de cumprimento de pena. Este é o segundo título da trilogia DesAmadas, na qual Nana se volta para vidas de mulheres estigmatizadas pela sociedade. No primeiro, a fotógrafa retratou mulheres que trabalhavam como prostitutas em uma das principais estradas do país, a Rodovia Presidente Dutra.

“Pratico uma fotografia que chamo de Fotografia de Escuta: para ver, é preciso antes escutar. Julgar é fácil, o julgamento moral da sociedade é implacável com as mulheres. Escutá-las que é difícl. E é preciso ter muito cuidado, pois são vidas muito machucadas”, diz Nana, que recebeu, pelo projeto Travessia, a Medalha Jorge Careli de Direitos Humanos, concedida pelo Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz. R$ 145,90.

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