Na última semana estreou a temporada 2022 de “No Limite”, na Rede Globo. Eu, particularmente, amei essa nova fase e vir aqui pontuar os acertos dessa edição, bem como refletir sobre alguns feitos que podemos levar como boas práticas às nossas carreiras e negócio.
Contrate alguém que “dê um match” com o cargo e os valores da empresa
Na edição passada, o apresentador escolhido para comandar o “No Limite” foi André Marques, que não agradou nada ao público, por estar visivelmente desconfortável e apático em sua função, mesmo sendo muito querido como apresentador do “The Voice”.
O QUE EVITAR EM NOSSOS NEGÓCIOS COM OS ERROS DE “NO LIMITE”
Logo, um dos grandes acertos foi a contratação de Fernando Fernandes, ex-BBB e paratleta olímpico, que nitidamente respira esportes radicais e está muito confortável nesse formato de programa. Já no primeiro episódio, Fernando chegou de paraquedas, além de tomar chuva e passar perrengue com os participantes, no momento das provas.
Portanto, observe se a pessoa que será contratada ou promovida para uma nova função “dá match” com o cargo. Na minha vida profissional, vi excelentes vendedores, apaixonados por suas funções, serem promovidos para coordenadores e não se sentirem à vontade no cargo, pois não gostavam de assumir uma posição de liderança, ou não estavam/foram preparados para estar ali.
Diversidade e inclusão importam
Os grandes ganhos dessa edição, além das provas mais criativas, são o apresentador e o elenco, os quais dão aula, quando o assunto é diversidade.
Diversidade refere-se aos indivíduos que compõem a sociedade com a qual a empresa está inserida. Sabe-se que, historicamente, o privilégio recai em homens adultos, brancos, cis e heterossexuais.
Ao observarmos o elenco de “No Limite”, nos deparamos com uma pluralidade de pessoas, as quais representam de fato a população brasileira: além dos homens brancos, há no casting mulheres, pessoas pretas, indígenas, envelhecentes (pessoas 40+), orientais, pessoas LGBTQIA+, pessoas com diferentes crenças e religião, de diferentes regiões do país.
Algumas coisas ainda precisam melhorar, afinal, não temos nessa edição nenhum participante trans, apenas duas mulheres que não performam um físico magro, forte ou malhado (onde foram primordiais para prova de inteligência que havia um quebra-cabeça e nunca fizeram “corpo mole” nas provas de força e resistência), nenhuma pessoa gorda – um estudo efetuado pelo SUS (Sistema Único de Saúde), com uma equipe de 17 pessoas entre Brasil e Chile, que foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mostra que o Brasil possui 55,4% com excesso de peso, em 2019, afinal, nem sempre estar acima do peso indica-se problemas de saúde ou sedentarismo, como mostra a influenciadora Alexandra Gurgel, ao abordar sobre o tema Corpo Livre e Gordofobia – e apenas uma mulher acima de 50 anos.
Porém, mesmo assim, já temos grande parte do elenco na faixa dos 30 aos 49 anos, o que já é um marco aos realities. Se olharmos o BBB22, o participante mais velho foi o Rodrigo Mussi, de 36 anos.
Além do mais, Fernando Fernandes é um grande representante da comunidade PCD (Pessoa com Deficiência), em um programa na TV aberta, sendo o primeiro a assumir o posto de apresentador em um reality na emissora.
Após o acidente de carro que sofreu em 2009, Fernando se debruçou ainda mais ao esporte e se tornou um dos grandes nomes da paracanoagem no país, conquistando o tetracampeonato mundial na modalidade.
O que é mais admirável em Fernando Fernandes é sua postura anticapacitista, ou seja, ele não se coloca ali como uma pessoa “vencedora”, ou “batalhadora”, ou “vítima”, mas como alguém que possui uma condição ou deficiência e que é muito capacitado para função.
Em entrevista ao “Fantástico”, em março de 2022, o atleta afirmou que “a sociedade criou o limite para aquele cara que está em uma cadeira de rodas, e então eu falei: ‘Não, não é esse o limite. Quem define o limite sou eu'”.
O QUE PODEMOS APRENDER COM A SAÍDA DE TIAGO LEIFERT DA REDE GLOBO?
Muitas vezes, assistindo ao programa, nem notamos que Fernando Fernandes é cadeirante, e isso ocorre por conta de um próximo passo para Diversidade dentro das organizações: a Inclusão.
Já escutei várias vezes uma frase que nunca mais me fez esquecer a diferença entre diversidade e inclusão, a qual era mais ou menos assim: “diversidade é levar a pessoa até a porta, inclusão é convidá-la para entrar e se sentir parte daquela casa”.
Inclusão é conscientizar que existe diversidade na sociedade e que, para incluí-las dentro das organizações, necessita-se de uma cultura organizacional que façam com que as pessoas tenham as mesmas chances de desenvolvimento e promoção que as demais.
Notem que, com os equipamentos adequados e adaptados, Fernando Fernandes desliza rapidamente sobre as areias da Praia do Coqueiral, em Flecheiras, no Ceará, dando-lhes condições de mostrar seu trabalho, sem distinções de pessoas sem deficiência, e destacando o que importa: sua competência e seu trabalho.
Mas por que Diversidade e Inclusão são algo cada vez mais debatido nas empresas? Porque “simplesmente” dão lucro: conforme um estudo da Organização McKinsey & Company, empresas com diversidade étnica e racial possuem 35% mais chances de ter rendimentos acima da média do seu setor, enquanto as empresas com diversidade de gênero possuem 15% a mais de chances de ter rendimentos acima da média. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, para cada 10% de aumento na diversidade racial ou étnica na equipe de executivos, os lucros aumentam 0,8%.
Portanto, pense sempre em construir uma equipe mais diversa, sem se esquecer da inclusão, afinal, a partir do momento que temos pessoas heterogêneas em uma equipe, cada uma traz sua diferente experiência e vivência, olhando o problema a ser resolvido de diferentes perspectivas.
Escute atentamente os feedbacks de seus clientes
Após receber uma enxurrada de críticas quanto ao formato, casting e apresentador do programa, no ano passado, Boninho “pôs seucropped e reagiu”, ouvindo atentamente o que seu público tinha a dizer para nova edição de 2022:
Mudou o apresentador, trazendo alguém que de fato ame esportes radicais e tenha a cara do programa;
Mudou o cenário: dessa vez, o programa tem como pano de fundo a intocada e selvagem Praia do Coqueiral, em Flecheiras, Ceará, com acampamentos que façam os participantes passarem por perrengues reais;
Casting com diversidade, com a participação de pessoas anônimas, e não de ex-BBBs. Assim, a atração conseguiu trabalhar com provas mais desafiadoras e seus participantes também se colocaram mais a prova e não tiveram medo de encarar os desafios;
Atração sendo veiculada duas vezes por semana, para não se tornar esquecida ao público, já que nos dias de hoje há grande concorrência, não é como nos primórdios do “No Limite”, que ocorriam apenas aos domingos e esperávamos ansiosos o próximo episódio.
Dessa vez, o reality passará de terça e quinta, e aos domingos contará com a entrevista com um dos eliminados.
O canal do Youtube “O Brasil que deu certo” sugere para Globo, ao invés de ter apenas a entrevista com eliminados, trabalhar com making offe conteúdo extra da atração (também exclusivos para assinantes do GloboPlay), além de inserir trechos do programa nos programas da grade normal da emissora, como Ana Maria Braga e Encontro, assim como fazia no BBB. Já o canal WebTV Brasileira indica abordar a história dos participantes no meio da edição e trazer uma prova de imunidade, antes da votação, assim como há no programa “Survivor”, formato original do “No Limite” na gringa, bem como uma trilha sonora mais emocionante na edição do programa;
Trabalhar com um patrocinador que tenha sinergia com o programa: na edição passada, o programa conseguiu patrocinadores como a Ambev e Hoteis.com, cujas provas não tinham muito sentido com o grande propósito do programa: desafio, perrengue, superação.
Para esse ano, o programa conta com um grande patrocinador, Jeep, que tem total sinergia com o reality: ambos trabalham com o arquétipo do explorador e já no segundo programa conseguiram inserir o carro em uma de suas provas, mostrando o grande diferencial do veículo (subir e descer dunas muito complicadas, que qualquer simples carro atolaria), ao mesmo tempo dando dinamismo a prova.
A vida não é feita só de ganhar provas, mas sim de outras competências
“No Limite” é um jogo que não há votação do público semanalmente, apenas no final do programa.
Enquanto isso, não cabe apenas aos participantes desempenharem um bom papel nas provas: ele deve saber estabelecer relações saudáveis com membros da equipe e criar alianças com seus futuros aliados.
Fazemos um paralelo com a vida profissional: não basta atingir apenas as metas estabelecidas pela empresa e passar como um trator por cima das pessoas. Você precisa também respeitar as diferenças, efetuar as tarefas que contribuam ao bem-estar do grupo, ser pró-ativo, auxiliar as pessoas a crescerem junto com você, escutar feedbacks e melhorar, se propor a crescer junto à equipe.
BODY POSITIVE: UM CONVITE A AMAR NOSSA APARÊNCIA DO JEITO QUE É
Um dos grandes motivos para que uma participante se tornasse a primeira eliminada (não vou dar spoilers do nome) foi não ajudar o grupo nas tarefas diárias e fazer “corpo mole” nas provas, já que esta não nadava. A que ficou em segundo lugar como mais votada é uma participante que não se enturma e está ali por conta do jogo, porém, ela se esqueceu que o “No Limite” não é feito só de ganhar provas: precisa-se estabelecer alianças, para não ser votado.
A outra participante que ficou na “berlinda” no segundo episódio quase foi votada, pois dá mais ordens do que faz as coisas às equipes. E outro participante que foi muito votado é que ele faz várias intrigas e passa por cima de todos os participantes, subestimando a inteligência de muitos e manipulando outros.
Creio que todos esses ensinamentos podemos levar para nossa vida profissional e pessoal: não adianta nada conquistar umjob e ser uma pessoa de ruim convivência. Tanto que uma das grandes tendências para os próximos anos em gestão de pessoas chama-se Legado: o que líderes e funcionários deixarão como uma marca registrada inesquecível e bem-quista aos olhos da equipe? O que tornará essa pessoa inesquecível? Esse é o questionamento do próximo tópico.
Quem deixará o seu legado?
Ainda é muito recente para falarmos de alguém que deixará seu legado e se tornará inesquecível em um reality, como Juliette, Gil do Vigor, Felipe Prior, Babu, Grazi Massafera, Sabrina Sato e o próprio Fernando Fernandes foram em suas edições do BBB, bem como a Elaine, campeã de uma das primeiras edições do “No Limite”.
O indígena Janaron Uhãy, participante do “No Limite” 2022, é do Povo Pataxó, na Bahia, tem 27 anos, é monitor pesqueiro e tatuador. Em seu vídeo de apresentação, contou que não perde o contato com a terra, a natureza, e está com o pé no chão.
Jana, como é chamado carinhosamente pelos participantes, é uma pessoa que se destaca muito nas provas coletivas e, ao mesmo tempo, é de fácil convivência, faz muito bem a sua parte no acampamento, sempre trazendo ensinamentos de seu povo aos participantes, sem ser arrogante e ao mesmo tempo tornando-se um líder e exemplo a sua equipe, sendo motivo de muito orgulho aos indígenas que se sentem bravamente representado por ele.
Logo, fica o grande questionamento para esse texto, que é “qual legado você quer deixar por onde passa? Qual exemplo que você quer que fique? Como você quer ser visto pelas pessoas ao seu redor? O que você faz para evoluí-las?”.
Por mais realities shows que nos ensinem, tanto quanto “No Limite”.