“Me veio uma sensação que se eu não me jogasse na música passaria o resto da minha vida com a dúvida do ‘e se’. Era um acúmulo de certeza”, reflete Lara sobre a intuição que a fez render-se à sua arte. Para que o desejo de pegar um microfone para cantar suas músicas chegasse à superfície, foram necessárias inúmeras conexões internas da mente, adquiridas a partir do conhecimento e das experiências vividas, a conexão com o íntimo e a visão de mundo.
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Foi a partir desse movimento que Lara entendeu o recado e imergiu no processo criativo para apresentar a cantora e compositora que pulsava dentro de si desde criança. O resultado é o projeto de estreia “Faíscas” (ouça abaixo), que acaba de sair do forno. São cinco faixas autorais e uma versão de “Preciso Dizer Que Te Amo”, de Cazuza e Bebel Gilberto, produzidas pela também cantora Mahmundi, entre abril e junho de 2023. “A Mahmundi conseguiu organizar esse tanto de curiosidades, ambição e vontade. Nesse primeiro projeto, a voz é o instrumento principal”, explica a artista que se mostrou totalmente entregue à realização do álbum e bastante à vontade para rever conceitos nos próximos trabalhos.
Em todas as peças que compõem o projeto indie pop de Lara, o conhecimento adquirido nos anos e anos de estudos dedicados à arte, além da firmeza característica de sua personalidade, nas palavras dela, herdadas do pai Fausto Silva, reforçam a identidade da artista que desponta com a promessa de surpreender pela simplicidade vinda do lúdico. Lara está bem longe de contar somente com a intuição. Foram aulas de canto, piano, violão, composição, direção de fotografia, produção musical, direção de cinema, dança contemporânea e mais diversas oportunidades de aprendizados, os quais a artista pretende aperfeiçoar a cada dia.
Para compor as cinco faixas autorais do EP, a cantora e compositora se uniu a um coletivo no formato de acampamento criativo. A consequência é um trabalho sofisticado e de qualidade, concebido a partir desse encontro com compositores contemporâneos como Clara Valverde, Filipe Toca, Josefe, Pedro Serapicos e Lorena Chaves.
Já na música “Avenidas Se Cruzam”, que abre o álbum, a voz de Lara propõe uma viagem ao seu íntimo, onde não há armaduras ou proteção. Há somente a certeza de que a cantora está disposta a espantar os fantasmas que insistiam em distraí-la de seu ofício e, agora, são elementos estimulantes para sua jornada. “Estou começando um pouco mais tarde porque tentei me preparar ao máximo para oferecer algo de qualidade ao meu público, algo que possa contribuir para o cenário musical”, diz a artista de 25 anos.
As composições bem estruturadas, que ora soam biográficas ora ficção, chegam acompanhadas por arranjos ora melancólicos ora dançantes. A cada track, o ouvinte é transportado para universos variados onde é possível mergulhar no desconhecido ou ocupar uma lacuna no espaço, em ambos sem entender com o que vai se deparar. E para Lara pouco importa o sentido lógico, a proposta de “Faíscas” é esquivar-se do blasé. “O belo é fazer algo muito bem pensado, sem ser incompreensível. As pessoas precisam se emocionar e não necessariamente entender as referências”, afirma.
O sofisticado, ousado e elegantemente estranho são elementos presentes em cada videoclipe de “Faíscas” (assista abaixo), cuja direção criativa traz assinatura da cantora. Cada música recebe um tratamento que reforça o desejo de Lara em agregar a todos incorporando novas ideias de maneira despretensiosa, mas propondo uma viagem pelo imaginário.