Como poderia alguém ter criado o universo do nada? Como acreditar num Deus, conforme a tradição judaico-cristã, que criou o homem para ser objeto de punição eterna? Será que poderia existir um Deus tão mau assim? Por que ele não aparece? Por que a manutenção de “verdades” impenetráveis à razão humana? Se Deus verdadeiramente ama os homens, por que permitiu a prevalência do ódio, da selvajaria e das injustiças cometidas contra seus semelhantes por todo o tempo de nossa história?
As inquietações de Omar Ferri poderiam ser as de qualquer pessoa. No livro “Razão x Religião: O Primado e os Primatas”, o escritor, advogado e ativista dos direitos humanos parte da quase naturalidade do Big Bang para relatar como a humanidade passou a crer em acontecimentos metafísicos e a buscar, no inexplicável, acolhimento espiritual e conforto para suas dores. Nesse mergulho, o autor passeia pelas descobertas e teorias científicas sobre o nascimento do planeta e da vida na Terra.
“De Darwin até os dias de hoje, já não se pode mais duvidar de que o homem seja o produto de uma montagem evolucionista. Essa constatação significa que toda tentativa de explicação do fenômeno matéria, vida e mente pelo uso de argumentos teológicos fracassou rotundamente. Da mesma forma, é ponto pacífico que toda matéria vivente descendeu de um único ancestral denominado “célula” e que surgiu há uns 3,5 bilhões de anos” – (Razão x Religião, p. 65).
O autor também se debruça, na segunda parte da obra, sobre algumas entre as mais de 200 religiões e crenças ao redor do mundo. Entre politeístas e monoteístas, apresenta as origens e características de denominações difundidas como o cristianismo, judaísmo e islamismo, passa por cerimoniais religiosos como budismo, sikhismo e hinduísmo, além de discorrer sobre as religiões sem deuses e o animismo, baseado no sobrenatural, em espíritos que se movem em volta do homem.
Com a visão linear de que todas as religiões sempre dispensaram as reflexões da ciência, “Razão x Religião”, publicado pela Citadel Grupo Editorial, propõe um mergulho sobre a trajetória humana e “acende luzes estimulantes”, nas palavras do prefaciador, jornalista Alexandre Garcia. No alto dos seus 90 anos, Omar Ferri consagra o princípio de que a lucidez é a maior conquista da humanidade e que somente os livres pensadores estão imunizados do obscurantismo causado pela onda anticientífica dos dias de hoje. 288 páginas, R$ 46,70.