Quando “Yank – O Musical” chegou até Hugo Bonemer em 2016, ele não tinha ideia no que se transformaria e o quanto marcaria sua carreira. O musical, que ganhou duas temporadas no Rio de Janeiro, foi sucesso de público e crítica, ganhou prêmios e uma legião de fãs fiéis que até hoje anseiam por uma nova temporada da história de Stu, personagem principal vivido pelo ator. Bonemer irá trazer todo o universo da história em forma de HQs feitas especialmente para os fãs e admiradores em “Yank – Diário de Guerra”, que será lançada no dia 12 de junho, durante o mês do Orgulho LGBTQIA+.
“A ideia de produzir as HQs veio da vontade de me experimentar como diretor criativo em outra mídia, de explorar a skill de produtor, e eternizar um espetáculo tão querido pra gente”, diz. Até chegar ao resultado final, e colocar no papel, foi um longo processo. “Foram quatro anos de trabalho, e finalmente consegui o apoio de uma empresa que viabilizasse a impressão de uma primeira edição”, revela Hugo.
O projeto conta a história de um correspondente de guerra, chamado Stu, que trabalha na revista Yank, a maior publicação americana para soldados durante a segunda grande guerra, ele se apaixona por um soldado e precisa lutar pelo seu amor enquanto luta pelo seu país. “O projeto se entrelaça com minha vida em diversas cenas, e o feedback do público era de identificação imediata, há histórias comuns entre pessoas lgbts, e nesse caso, o empoderamento do personagem no final causa identificação muito forte com mulheres heterossexuais também. Nessa mistura de ficção com autobiografia fica difícil saber o que me emociona mais”, ressalta.
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A importância da história que é contada, que retrata a segunda grande guerra, onde aconteceu a maior reunião de pessoas LGBTs da história moderna, é outro ponto que destaca. “A ligação de ‘Yank – Diário de Guerra’ com a história mundial é outro ponto importante, pois dali voltaram dezenas de casais. Quem serviu na Ásia se concentrou em São Francisco e quem serviu na Europa se assentou em New York. Não à toa são hoje, duas cidades importantes na luta por direitos a pessoas LGBTQIA+”, explica.
Para o “Yank – Diário de Guerra”, Bonemer chamou sete artistas com traços distintos para reproduzir essa história. “Chamei artistas lgbts e aliados que por suas subjetividades contam um capítulo da história. Por isso ela é dividida em nove revistas curtas. Para protegê-las estou “eu mesmo” costurando pastas de couro vegano para acompanhar os kits de quem quiser apoiar mais ainda. Minha ansiedade em saber que as pessoas finalmente estarão lendo não está cabendo em mim”, confessa.
Hugo Bonemer detalha o trabalho de cada artista escolhido para as HQs e o seu querer em ter a comunidade representada na história e nos bastidores com recortes de raça, gênero, identidade e orientação afetiva, nesse projeto que fala sobre coragem e aceitação.
“Eri Welli é um artista de Rio Grande do Norte; ele quem começou o projeto comigo e desenhou o storyboard de todos os capítulos, tem um traço realista que parece pintura em tela. O Petit Abel, artista do Pernambuco, conhecido pelos desenhos sobre o Big Brother Brasil, traz no traço a ingenuidade que o momento precisa. A Priscilla Tramontano, de São Paulo, imprime todo romantismo que o capitulo dela precisa; Gibran Gomes, conhecido por ter feito o clipe de ‘Rajadão’ da Pabllo Vittar, tem a agilidade no traço e as cores vibrantes como marca, ele mostra o personagem saindo do casulo e virando adulto; Owlsheep, artista de São Paulo, ilumina a cena de um jeito muito particular e tem os olhos como característica marcante nos desenhos; ele quem faz o reencontro emocionante dos personagens depois de meses afastados; a Mina Velicastelo, do Ceará e que mora em Portugal, resgata a ingenuidade pra história e faz a primeira vez dos personagens com um traço que deixa o afeto maior que a erotização, então Eri (Welli) volta pra fazer mais uma revista com suas pinturas realistas e é quando entra Lee Hoffa, de Curitiba, com seu hiper-realismo, em que vemos os poros dos personagens numa cena violenta de tortura. Na última revista alguns artistas voltam para dar um adeus, e como a essa altura o leitor já está acostumado com a troca de estilos, dei uma cena da mesma revista pra cada um”, detalha.
Sobre a data escolhida para o lançamento, no mês de junho, Hugo fala sobre o porquê da escolha. “Escolhi o mês que é comemorado o Dia do Orgulho LGBTQIA+, pois é preciso muita coragem para cada decisão importante que a vida nos reserva. ‘Yank – Diário de Guerra’ é uma história que homenageia os que têm coragem”, enfatiza.
Bonemer ainda dá um pequeno spoiler, pois nas HQs haverá diálogos conhecidos de quem assistiu a história no teatro, mas ele teve a liberdade de criar novas situações e ambientações. “O livro permite irmos além dos cenários e situações da peça como na sequência em que Stu treina tiro de madrugada ou que se defende do ataque de soldados em Okinawa. A personagem Louise, secretária abertamente lésbica que protege Stu foi transformada em uma mulher preta reforçando a importância de se incluir o recorte racial na pauta lgbt com tantas histórias de pessoas pretas ainda não contadas. A Louise é inspirada na secretária do presidente Eisenhower, que segundo conta-se, ao ser questionada sobre lésbicas gabinete escreve o próprio nome no primeiro da lista”, exemplifica.
Ele atuou de forma direta durante todo o processo a fim de trazer esse projeto para “a vida”. “Fiz a direção artística desde o storyboard à diagramação final, trabalhando em processos como a adaptação do texto, roteirização das cenas, criação de enredos complementares e captação de recursos. Mas só deu certo porque reuni uma equipe talentosa e engajada, que acreditou de coração e alma no projeto”, revela.
Hugo Bonemer ainda deixa o seu recado para os que anseiam em ler “Yank – Diário de Guerra” e qual o sentimento que espera que os leitores sintam. “’Yank – Diário de Guerra’ é pra quem deseja se sentir representado, superar um coração partido, abrir a cabeça e jogar o preconceito no lixo”, finaliza.