Especialista em cultura brasileira, o fotógrafo documental Marcelo Oséas inaugura a sua primeira galeria fotográfica no centro histórico da cidade de Paraty, no Rio de Janeiro, a Marcelo Oséas Galeria.
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A partir do dia 31 de julho, o espaço abre as portas e recebe a exposição “Quase Dez Anos”, que revisita a trajetória do artista na fotografia que retrata diferentes povos do Brasil, como os ribeirinhos da Amazônia e os artesãos do Alagoas, ao longo de 21 imagens capturadas nas viagens realizadas pelo país.
Unindo um recorte de fotografias já conhecidas com outras inéditas do fotógrafo, a mostra é construída por elementos que compõem os modos de viver que existem, resistem e se adaptam ao Brasil contemporâneo. Na seleção, “estão retratados elementos que compõem a forma de vestir, de festejar, de navegar, de comer, de trabalhar e de se viver de diferentes grupos do país”, explica Oséas. Entre as imagens que foram produzidas ao longo de quase 10 anos – a década de trabalho será celebrada em 2023, o destaque é a fotografia “O Céu da Dona Laudinete”. A fotografia retrata o teto do ateliê desta artesã que mora no litoral de Alagoas e trança belas cestarias, com a fibra de coco, uma das matérias-primas locais desta região tão rica.
A foto inédita “A Cuia” é um outro exemplo da riqueza de elementos produzidos pelos povos brasileiros. Na imagem, o fotógrafo registra aquele utensílio que, por natureza, nasce pronto. Apesar da aparente simplicidade, o fruto da cuieira é trabalhado pelos ribeirinhos do Amazonas e ganha marcadores únicos daquela cultura. Hoje, a tradição de fazer cuias é considerada um patrimônio cultural pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Além do Amazonas e de Alagoas, as fotos da exposição “Quase Dez Anos” foram tiradas em expedições para o Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais), o agreste de Pernambuco, Maranhão, Bahia, Paraty, Ubatuba e Ilhabela (litoral de São Paulo). Nessas viagens, Oséas dialogou e fotografou indígenas, caiçaras, quilombolas, ribeirinhos e caipiras, de forma social e ecologicamente responsável.
A Marcelo Oséas Galeria é fundada em um prédio em ruínas, o que não se traduz em nenhum demérito ao espaço. Na verdade, a ideia foi preservar as histórias da construção, localizada em uma esquina do centro histórico da cidade de Paraty. A construção original das paredes e a estrutura aparente do telhado foram mantidas. Somando a estes elementos já existentes, uma treliça de ferro aramada foi instalada no teto e os quadros descem, por cabos visíveis.
Enquanto isso, o chão é feito em pó de xadrez vermelho. Do lado de fora, banquinhos estão instalados, como mais um espaço de convivência para locais e turistas. Todo o mobiliário da galeria é feito com sobras de madeiras, coletadas em estaleiros – espaços onde se constroem ou se reparam embarcações tradicionais da cidade de Paraty. Sem iniciativas de reaproveitamento, como esta, todo o material seria incinerado. Este trabalho foi feito por arquitetos locais.
Para o artista, o exercício de fotografar não deve ser apenas clicar as imagens e partir. A melhor foto é feita a partir do diálogo e da troca, o que implica também em contrapartidas sociais. Cada grupo que é fotografado recebe um percentual de venda das fotos, através de financiamentos para iniciativas que o próprio grupo desenvolve. Outro ponto de compensação é o ecológico. A cada fotografia comercializada pela galeria — em tiragens limitadas de 50 impressões — uma árvore é plantada. O plantio das mudas é feita através da organização TNC (The Nature Conservancy), o que permite o replantio de espécies típicas de cada bioma beneficiado.
SERVIÇO
Abertura Marcelo Oséas Galeria
Endereço: Rua Dr. Pereira, 125, Centro Histórico Paraty – Rio de Janeiro
Quando: 31 de julho
Horário: 16h01
Quanto: entrada gratuita
Informações: através da rede social