A VIDA ANSIOSA OFERECIDA ÀS MULHERES

PRECISAMOS FALAR SOBRE A NOSSA SAÚDE MENTAL E PRECISAMOS ENTENDER A GRAVIDADE DESSES TRANSTORNOS
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23.04.2021

Katie Crawford

Em 2019, dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) mostraram que o Brasil é o país mais ansioso do mundo. “A conjuntura política, social e econômica do Brasil passa por períodos complicados. Isso impacta não somente as instituições nacionais, mas também os cidadãos, que precisam se adaptar a novas realidades, como o desemprego”, diz Laura Alegre no Jornal da USP no mesmo ano. Se já não tínhamos uma conjuntura que favorecesse nossa saúde mental naquela época, uma pesquisa mais recente do instituto Ipsos, encomendada pelo Fórum Econômico Mundial e cedida à BBC News Brasil, aponta que 53% dos brasileiros declararam que seu bem-estar mental piorou um pouco ou muito no último ano. Estamos – ainda mais – ansiosos, sabemos. Mas o que talvez nem todos saibam, é que a ansiedade é ainda mais comum entre as mulheres. Os motivos vão desde problemas relacionados ao machismo até questões hormonais.

BEM, NA MEDIDA DO POSSÍVEL!

Sentir-se constantemente preocupada, com medo ou incapaz, ter enjoos, problemas para dormir, falta de ar e coração acelerado, são alguns dos sintomas da ansiedade.  Estruturalmente, nós mulheres já nos vemos obrigadas a estar em alerta o tempo todo. Estamos inseridas em uma realidade extremamente violenta e cruel. A cada 2 minutos uma mulher sofre agressão física, e a cada 8, uma mulher é estuprada, diz o Fórum Brasileiro de Segurança Pública em 2019. E ainda como fruto do machismo e da sociedade patriarcal em que vivemos, temos inúmeras cobranças, imposições, e trabalhos não remunerados que cercam a vida das mulheres desde muito cedo.

MY ANXIOUS HEART (MEU CORAÇÃO ANSIOSO) POR KATIE CRAWFORD

Em paralelo a essas questões, mas longe de ser o principal e único motivo, os hormônios femininos podem colaborar com a ansiedade. Desde a minha adolescência, eu noto as mudanças que tenho no meu comportamento no período pré menstrual. Na época, lembro de conversar sobre isso com as minhas amigas mais próximas e perceber que algumas tinham os mesmos sintomas. Busquei informações e pude entender que não era uma coincidência. E mesmo que isso não tenha resolvido o problema, foi uma informação de extrema importância para saber como lidar com isso.

JENIFFER NASCIMENTO – “A ESCUTA É ALGO MUITO IMPORTANTE PARA AJUDAR ALGUÉM COM DEPRESSÃO”

Mas, se não bastassem todos esses fatores presentes na vida das mulheres, o isolamento social, o home office (para aquelas que têm essa possibilidade) e todos os outros desdobramentos da pandemia, só agravam a situação. Se já existia uma sobrecarga antes, nesse momento foi intensificada. Aquelas que conseguem trabalhar de casa, ao mesmo tempo em que trabalham, têm que limpar, cozinhar, cuidar dos filhos e de todas as tarefas domésticas – que sempre foram tidas como responsabilidade das mulheres e como demonstração de amor, mas que na verdade são trabalhos invisíveis e não remunerados. Mulheres que não tem a opção do home office, lidam também com essas responsabilidades domésticas, além do desconforto de se expor ao sair para trabalhar todos os dias em uma pandemia e, principalmente para as mais pobres e/ou chefes de família, o medo do desemprego e da falta de renda.

As mais jovens também são afetadas de maneira negativa nesse cenário. A rotina de aula online é extremamente esgotante, principalmente para aquelas que não dispõem de equipamentos tecnológicos ou internet de boa qualidade. Com isso, também vem o medo de não conseguir se especializar, medo de fracassar e até mesmo não corresponder às expectativas que tanto colocam sobre nós e nosso destino.

MY ANXIOUS HEART (MEU CORAÇÃO ANSIOSO) POR KATIE CRAWFORD

Antes da pandemia, essas situações visivelmente cansativas, eram contornadas, mesmo que minimamente. Nós estamos há mais de um ano comprovando todos os dias o quanto ter contato com outras pessoas, poder sair para se distrair com amigos, viajar e levar uma vida normal, faz total diferença para a nossa saúde mental e física. Estamos atravessando um momento em que nos tiraram muita coisa, dentre elas as distrações e separação de espaços e atividades. O quarto que deixou de ser quarto e virou escritório/sala de aula pode dificultar o relaxamento do nosso corpo e da nossa mente, e a gente não consegue “desligar”. Poder sair, encontrar com outras pessoas, estar em ambientes diferentes e se desconectar por algumas horas dessa rotina tão acumulada de funções, tão cheia de cobranças e responsabilidades, poderia amenizar bem esse caos, mas parecem situações distantes demais da nossa realidade por agora.

Felizmente esse assunto tem sido abordado frequentemente nos últimos anos, mas existe um caminho longo pela frente. São de extrema importância a ajuda profissional e o acolhimento das pessoas mais próximas. Precisamos falar sobre a nossa saúde mental, precisamos entender a gravidade desses transtornos e precisamos, principalmente, saber como cuidar da nossa mente. Ainda existe uma visão muito distorcida sobre esse assunto, e é conversando sobre ele que, enquanto sociedade, conseguiremos buscar caminhos e rotinas que contribuam o menos possível para esses transtornos.

Cuidem-se e peçam ajuda.

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