Muitos sonham em ter filhos, formar uma família e ensinar aquele pequeno ser humano a se tornar uma pessoa melhor em um mundo tão cruel e preconceituoso, assim foi o tão esperado dia da adoção da pequena Aurora, pelo casal homoafetivo, o enfermeiro Juliano Peixoto de Pina, 38 anos, e o gerente de pousada, Jonathan Pereira de Araújo Peixoto, 41 anos, casados há doze anos. “Após 6 anos de casamento resolvemos ampliar nossa família, um desejo que já era individual e criou força depois de nossa união”, reforça Juliano.
O casal passou por um longo período de habilitação, que exige a apresentação de inúmeras certidões e atestados médicos, além de um acompanhamento psicossocial e obviamente uma comprovação de renda para o sustento e bem estar da criança. Após a inscrição no SNA (Sistema Nacional de Adoção), passaram-se seis anos até a chegada da criança em seu lar. “Aurora quer dizer “raiar da luz” e foi exatamente isso que ela trouxe para nossas vidas, uma luz nova”, comentou emocionado.
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“Todos se apaixonaram logo de cara, nossa princesa já era esperada por todos que fazem parte ativa de nosso contexto familiar e social. Minha mãe se chama Ana, conhecida como “Sinhá”, tem 78 anos e há 8 anos foi diagnosticada com Alzheimer. A chegada de nossa pequena trouxe uma nova perspectiva, se tornou a vovó, um sonho antigo. Sorrisos, brincadeiras, situações há muito tempo não vistas retornaram”, disse.
Após doze dias de alegria no lar de Juliano e Jonathan, o Tribunal de Justiça de Goiás ordenou que o casal entregasse a filha para a família acolhedora, que cuidava de Aurora antes de ser abandonada pelos pais biológicos, dependentes químicos, a tutela naquele momento tinha sido suspensa pela justiça, afinal, que justiça é essa que tira uma criança de um leito familiar acolhedor e estável e anula o direito de um casal homoafetivo de se tornarem pais? Essa questão ainda não possui uma resposta, pois o processo segue em segredo judicial.
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“Quando minha netinha vai voltar?”, se pergunta todos os dias a Dona Sinhá. “Estamos passando por um período de imenso luto e desesperança até que resolvemos buscar ajuda”, diz Juliano referindo-se a uma petição que circula na internet para captar o maior número de assinaturas para serem apresentadas à Justiça. Ao perguntarmos se o fator da anulação teria sido um possível ato homofóbico, ele responde: “não podemos fazer tal afirmação e desejo até mesmo não acreditar em tal hipótese, mas me pergunto, será que se fossemos um casal heterossexual a decisão seria a mesma?”.
“Esperamos que a mobilização pública reflita de forma positiva nas decisões subsequentes, precisamos que a lei seja aplicada garantindo o bem estar da criança como preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e que nossa filha retorne para casa e sua família. A distância dela é o que mais machuca, não a vimos mais nem temos nenhum tipo de notícia”, indagou entristecido.
A próxima audiência deve acontecer no dia 15 de março. Caso saiam sem a guarda da criança, o casal pretende recorrer a instâncias superiores como o STJ (Superior Tribunal de Justiça). “Ver a possibilidade de ter nosso sonho destruído por um sistema fragilizado, apenas nos deu mais um motivo para seguir em frente e lutar com toda a nossa força”, finalizou.