Que o ano só começa depois do Carnaval, já virou ditado popular, e 2021 veio nos confirmar isso. Devido ao Covid-19, não só projetos pessoais sofreram, mas também tradições e uma delas vamos enfrentar neste próximo final de semana, com a falta daquela que é a maior festa de rua do mundo, o Carnaval. E o que isso tem a ver com esta coluna?
Esta festa é também a maior celebração da música afro-brasileira aqui no Brasil. Com seus ritmos dançantes, festivos, a riqueza musical e a vibração que é descarregada sobre nós possui uma magia indescritível. O reinado por quatro dias é do batuque, que mexe com as cadeiras não deixando ninguém quieto, mesmo os mais tímidos são contagiados pelo som que está amalgamado ao sangue afro, e nem que seja o pezinho, não dá pra ficar parado.
A festa que se popularizou no país, no período do reinado, trouxe para as ruas o som que saía das senzalas, dos guetos, das mãos e das vozes daqueles e daquelas que foram escravizados. Uma das pessoas que ajudou para essa popularização foi Chiquinha Gonzaga, uma musicista talentosa, filha de um marechal branco com uma negra alforriada, que trazia em si a pulsação de sua ancestralidade. Mesmo criada dentro de uma cultura europeia, o lundu, a umbigada e outros ritmos oriundos da África nunca saíram de seu repertório e a influência destes ritmos nos deu pérolas, que se diga “Ô Abre-Alas”, a primeira marcha de carnaval com letra.
É mágico como o samba se alastrou pelo país gerando desdobramentos lindos. No Rio de Janeiro, o samba carioca impera majestosamente, com as marchinhas dos blocos de rua e com beleza visual proporcionada pelas escolas de samba, que mesmo se apresentando por um fim de semana, une o povo com uma preparação que dura praticamente um ano, num ideal: a exaltação à nossa cultura.
Já imaginou, Tia Ciata?!
Coisa que acontece também em São Paulo, com um samba diferente do carioca, contudo com a mesma gana e lindeza que só este ritmo tem. Porém o país do Carnaval tem sua capital, que é também a primeira capital do Brasil, Salvador. Aqui se tem a maior festa de rua do mundo, ao contrário do restante do país, o furdunço não se faz apenas em quatro dias, mas duram dez. Com trios elétricos e cortejos acalorados, somos rendidos ao som do afoxé, pagodão baiano, axé music e muita batucada que faz até a alma dançar. E se tem uma coisa que é lindo de se ver, é um baiano dançando.
Eita que despertou gatilhos!
Vamos adiante que não quero parar por aqui.
Não posso deixar de falar de Olinda e Recife, onde o acrobático frevo – influenciado pela capoeira – ferve com suas cores e hipnotiza nos meneios da dança com aquela “marcha de ritmo sincopado, obsedante, violento e frenético”, como diz Câmara Cascudo. Também somos encantados pelo desfile guiado pelos tambores marcando o maracatu, que nascido de um ritual de sincretismo religioso, hoje faz parte da festa dita profana, com suas fantasias únicas e tradicionais.
Enfim, este é um carnaval atípico, em que temos um feriado que não será feriado, curtindo a folia não pela tv, mas pelas lives. Este é um carnaval que ficará marcado pra sempre, e a sensação de que o ano tem que começar de qualquer jeito, mas não deixemos de celebrar a negritude e que tal montar aquela playlist, apertar o play e curtir este carnaval ao som de nossos irmãos e irmãs?
Axé.
*No texto foram citadas apenas algumas das manifestações culturais do carnaval .