Se os desenhos clássicos do Ursinho Pooh (quando por aqui ainda se chamava Puff ) fizeram parte de sua infância, parafraseando a canção de abertura de sua antiga série de TV, “vá correndo, vá voando” assistir ‘Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível’.
Quer uma prova? Veja o trailer estendido ao final deste texto e tente não se emocionar. É como se entrássemos na pele do protagonista e passássemos a sentir o mesmo que ele. E aí, meu amigo (a), já é meio caminho andado para grudarmos em qualquer filme e não querer mais largá-lo.
Após se despedir dos eternos companheiros do Bosque dos Cem Acres, o jovem Christopher (Orton O’Brien) passa a viver num internato. Nos anos 40, já adulto (e interpretado por Ewan McGregor), casa-se com Evelyn (Hayley Atwell) e é convocado para a Segunda Guerra. Ao retornar, conhece a filha Madeline (Bronte Carmichael), nascida durante o conflito, e torna-se um atarefado chefe de departamento em uma fábrica de malas, emprego que o deixa cada vez mais frustrado e distante de sua família.
É neste momento da vida de Christopher, burocrática, mecanizada, cinzenta, que Pooh reaparece, gracioso como nunca, e na cativante simplicidade de sempre, para recolorir os dias de seu melhor amigo com os mais nobres valores. Logo se juntarão ao restante da turma: o depressivo burrinho Ió (antigamente, Bisonho), o assustado Leitão, o impetuoso Tigrão, o sistemático coelho Abel, além do confuso Corujão e da mãe Can e seu filho Guru.
Mesmo com inúmeras referências às aventuras anteriores dos personagens, sejam dos livros, filmes ou séries de TV, há diálogos caprichados, de inspirada sagacidade, vindos principalmente dos habitantes do bosque, que tanto nos encantam quanto desconcertam esse estranho Christopher adulto, cheio de preocupações, que ressurge em suas vidas. É admirável a poesia contida na forma com que ele reconquista a amizade dos antigos amigos, numa batalha imaginária contra o terrível “efalante”, figura que tanto os apavora.
Mas o principal mérito de ‘Um Reencontro Inesquecível’ é juntar a encantadora história da reunião entre velhos amigos que não se viam há muito tempo (a revisita à infância), aproveitando essa trama sobre amizade e autoconhecimento para também propor uma importante reflexão sobre as relações de trabalho entre patrão e empregado, contestando modelos de gestões administrativas que prejudicam o bem-estar psicológico e emocional dos funcionários (o lucro a qualquer custo).
Nada que espante a atenção dos pequenos, pois é tudo feito com equilíbrio e bom humor, como na cena em que Leitão, Tigrão e Ió, descrevendo o que vêem pela janela do trem, definem perfeitamente situações que nossa sociedade ainda enfrenta desde as revoluções industriais: “pânico, medo, catástrofe”, diz o suíno; “perigo, altura, velocidade”, observa o felino; “desonra, vergonha, humilhação”, arremata o equino.
Essa maturidade de roteiro (que entre outras mãos esteve a cargo de Tom McCarthy, vencedor do Oscar em 2016, por ‘Spotlight’), aliada à boa direção de Marc Forster (‘Em Busca da Terra do Nunca’, 2004), e um lindo visual em tons dourados de nostalgia (e mel, por que não?) resultam na melhor adaptação de animações da Disney para filmes com pessoas reais em cena (chamado “live-action”), ainda que seu desempenho nas bilheterias esteja longe do estrondoso sucesso que ‘A Bela e a Fera’ fez em 2017.
Por fim, é válido dizer que, embora ‘Christopher Robin’ não faça parte do universo Marvel, há uma cena bônus durante os créditos finais!
Assista o trailer:
Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível (Christopher Robin) – EUA, 104 min, 2018 – Dir.: Marc Forster – Estreou em 16/8.