Assim como o fole, que, em um instrumento musical, mantém o fluxo constante de ar, permitindo a emissão dos sons, Zeca Veloso refresca as nuances do interior e circula entre diferentes perspectivas a partir da música que vem de lá em “O Sopro do Fole”. Homenageando a arte e os costumes, ele narra uma conversa do campo para a cidade, do interior para o litoral. A faixa é a primeira de seu álbum de estreia.
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Escrita por Zeca Veloso com inspiração na guarânia sertaneja e nas músicas caipiras que sua tia Maria Bethânia canta, a canção tem dois momentos: Bethânia emprestou sua indiscutível interpretação à composição e gravou a primeira versão da música para o álbum “Noturno”, de 2021. A inspiração transbordou e Zeca completou “O Sopro do Fole” com uma segunda parte, que traz mais do interior, além de celebrar a música de nomes como a saudosa Marília Mendonça e João Gomes.
“Pode-se dizer que ´O Sopro do Fole´ é sobre o sertanejo na cidade grande, no litoral, no Rio. O sertão que me inspirou a fazer essa música é tanto o de Elomar, quanto o de Marília Mendonça, é tanto o de Cascatinha e Inhana, quanto o de Zé Neto e Cristiano ou Gusttavo Lima. É tanto o de Almir Sater, Sérgio Reis… a moda de viola, quanto o de Maiara & Maraísa. Tanto o de Xangai, quanto o de Zé Vaqueiro, João Gomes, mas, embora minha música possa parecer mais com a dos primeiros, foi principalmente por ver o Rio de Janeiro tomado pela música dos segundos que eu compus essa canção. Fole é um jeito de chamar o acordeom, mas também é um instrumento usado para acender o fogo”, explica.
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“O Sopro do Fole” chega acompanhada de clipe que apresenta o conceito elaborado pelo artista. O vídeo estabelece uma sensível relação traduzida nas imagens que acompanham a canção, como explica Zeca: “Na música, um homem sertanejo fala com um moço do Sudeste sobre a vinda da gente do interior para a cidade grande, e da música rural com ela, usando o acordeom como símbolo. No clipe, que dirigi com meu parceiro Pedro Koeler, apareço com o fole no peito, no Rio, e em cenas no campo e na roça, filmadas em Minas. De alguma forma, talvez eu interprete esse eu lírico da música. Mas penso melhor no vídeo sentido do que explicado”.
Sobre a letra, ele acrescenta: “Eu tinha acabado de ouvir uma guarânia gravada por um cantor sertanejo mineiro, e a melodia de ´O Sopro do Fole´ apareceu na minha cabeça enquanto pensava nas músicas caipiras que minha tia Bethânia canta. Junto com as primeiras notas do refrão, eu ouvia ´eu sou passarinho sem casa…´ e fiquei com a ideia, que eu chamava de ´passarinho´, um tempo na cabeça. Terminei fazendo em volta dela a primeira parte da letra: um homem sertanejo fala com um rapaz do litoral. ´Moço, esse vento que aqui |Tirou meu chapéu, balançou meu cordão |É o sopro do fole de festa que aqui | Chegou do sertão´ e termina com ´Passa o trabaio e a boiada | É pousar na viola e tocar um modão | Não me diga que não gosta não´.
Ele continua: “Era, pra mim, principalmente uma canção que se opunha ao preconceito contra a música e cultura sertanejas. Mostrei a Thiago Amud, que logo disse ´você já sabe quem vai gravar, né?´. Eu pensei também em minha tia Bethânia, mas não imaginei que ela realmente fosse gravar. Ela ouviu a música, e algumas semanas depois tinha gravado e lançado no seu disco ´Noturno´. Fiquei felicíssimo”.
“Comecei a trabalhar no meu álbum e sentia que faltava uma segunda parte para aquela letra. Logo em seguida morreu uma das maiores cantoras brasileiras de todos os tempos, Marilia Mendonça. Talvez eu tenha tido coragem de escrever uma outra parte um dia antes, ou dois. Pra minha surpresa, me apareceu uma letra tão inspirada quanto a primeira. Menos consistente, mas maior por outro lado. Fala de mais coisas do sertão, faz referência a outras músicas do meu disco. Pra mim, tem Marília, tem uma homenagem ao grande João Gomes, que na época era #1 do Brasil”, finaliza. Assista ao clipe: