Versátil, Rodrigo Santoro é ponto de equilíbrio em ‘O Tradutor’

Inspirado em fatos reais, filme traz ator brasileiro falando russo e espanhol
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15.04.2019

Divulgação

Admire ou não, é incabível dizer que Rodrigo Santoro está acomodado em seu ofício, tamanha a variedade de desafios que permanece a se propor em mais de duas décadas de carreira. Em ‘O Tradutor’, coprodução entre Cuba e Canadá inspirada numa história real, o brasileiro atua em dois idiomas.

Com o espanhol, além de uma importante participação no drama argentino ‘Leonera’, lançado por Pablo Trapero em 2008, Santoro ainda viveu Raúl Castro na cinebiografia sobre Che Guevara que Steven Soderbergh estreou no mesmo ano. A façanha, agora, foi aprender a língua de Tolstói e Dostoiévski, uma vez que encarna Malin, professor de literatura russa na Universidade de Havana.

Em meados da década de 80, o governo cubano convoca ele e seus colegas a deixarem as aulas de lado para serem interlocutores entre a equipe médica local e as vítimas do então recente desastre nuclear de Chernobil, na Ucrânia, enviadas pelo regime soviético para receber o tratamento oferecido pela ilha caribenha.

Malin fica encarregado da ala infantil desses pacientes, muitos deles em condições clínicas irreversíveis. Com um filho da mesma idade dessas crianças, e a esposa grávida, o estresse emocional que a circunstância naturalmente já provocaria se torna ainda maior. O envolvimento afetivo é inevitável. Não é o tipo de trabalho que se deixa facilmente da porta de casa para fora.

o tradutor

A direção do filme é assinada pelos irmãos Rodrigo e Sebastián Barriuso. O primeiro estava em processo de gestação quando os fatos retratados aconteceram. O outro, mais velho, é o garotinho que acompanhou de perto o desgaste que o episódio causou na relação de seus progenitores. Malin representa, na verdade, o pai deles, Manuel Barriuso. O roteiro de Lindsay Gossling nos conta como o professor enfrentou a delicada situação.

Apesar de planos e movimentos de câmera cuidadosamente executados, de uma trilha sonora sóbria, mas envolvente, e de não panfletar a favor do regime de Fidel Castro – ao contrário, cita sem cerimônias as dificuldades que o iminente colapso da União Soviética começava a causar em Cuba – há na montagem de ‘O Tradutor’ um triste flerte com o apelo emocional. É quando, em determinados momentos, ficamos ali, por excessivos segundos observando a face de uma criança que padece pelos efeitos da alta radiação a que foi exposta.

critica o tradutor

Segundos a mais que denotam insegurança por parte de seus realizadores quanto a tudo o que já foi previamente apresentado. É como se forçadamente nos dissessem: “se não se emocionou ainda, agora é o momento. Ande, derrube uma lágrima por essas crianças!” É sutil, mas se de sutilezas nasce um grande filme, é também por elas que outros se tornam apenas medianos. Forjar sentimentos e empatia desta maneira não só causa o efeito contrário ao desejado, como ainda atrasa o andamento da trama.

O que nos mantém atentos e genuinamente envolvidos com a terrível desventura dos pequeninos é o competente trabalho de Rodrigo Santoro, que dá a seu personagem toda a humanidade necessária para que se torne crível e dê autenticidade a tudo ao seu redor. É o ator brasileiro, em sua atuação mais expressiva desde ‘Heleno’ (2011), que traz equilíbrio às sutis instabilidades de ‘O Tradutor’, contribuindo significativamente para que este primeiro longa-metragem dos irmãos Barriuso seja, por fim, uma bela homenagem ao pai e aos pequenos guerreiros de Chernobil.

O Tradutor (Un Traductor) – Cuba/Canadá, 107 min, 2018. Dir.: Rodrigo e Sebastián Barriuso – Estreou em 04/4. Assista o trailer:

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