O universo e a condição da amante, essa figura transgressora e indissociável ao casamento que geralmente é condenada sem direito à defesa, inspira a criação do solo teatral “Vaca”, com direção, dramaturgia e atuação de Bruna Betito. O espetáculo estreia no dia 30 de junho, na Sala de Espetáculos II do Sesc Belenzinho, em São Paulo.
VULVA, PRAZER! A BELEZA ESTÁ NA SINGULARIDADE
O trabalho parte da autobiografia da própria atriz e autora do texto, mas, já de início, essas experiências são deslocadas para um universo onírico, surreal e mitológico, a partir dos sonhos dela com o Apocalipse, que são narrados e dramatizados, misturando realidade documental, ficção e uma dose de sarcasmo.
Em cena, a performatividade, a dança, o recurso de materiais e situações que presentificam a atriz e o público num jogo interativo e irrepetível também são pontos essenciais para a criação cênica e dramatúrgica. Exemplo disso é o estabelecimento de uma espécie de santa ceia, que, na verdade, se transforma em um fórum, no qual o público é convidado a discutir sobre “infidelidade” de forma anônima. Nesse sentido, trata-se de uma dramaturgia na qual a presença do público soma sentidos e conteúdos para a obra.
Além da referência autobiográfica, a criação dramatúrgica utiliza-se de outros autores como inspiração, entre eles Gustave Flaubert com sua “Madame Bovary”; Elisabeth Abbot com seu compêndio “Amantes: Uma História da Outra”, que retrata a biografia de várias amantes desde a Antiguidade até os anos 1960; e Esther Perel com seu “Casos e Casos”, um diário de psicoterapia com casais que passaram por situações de infidelidade.
Outras referências importantes são o universo da mitologia grega com suas histórias de amor e traição, em especial a história do triângulo Zeus-Hera-Io(também retratada na peça “Prometeu Acorrentado”, de Ésquilo). Nesse mito, Hera, transforma a amante de Zeus, Io, em uma vaca branca. E por último, a Bíblia, que possui histórias, parábolas e mandamentos muito precisos a respeito deste tema.
A História da Outra, por Bruna Betito:
“Não tive relações sexuais com aquela mulher”, presidente Bill Clinton
“Henrique VIII e Ana Bolena. Cleópatra e Júlio César. Elizabeth Taylor e Richard Burton. Monica Lewinsky e Bill Clinton. Shakira e Piqué. Eu e você. Histórias de casos amorosos nos consumiram, cativaram, aterrorizaram e excitaram ao longo da história. Além do voyeurismo desses casos públicos de celebridades, todos os dias podemos encontrar casais que foram devastados pela infidelidade.
Neste exato momento, em todos os cantos do mundo, alguém está traindo ou sendo traído, pensando em ter um caso, aconselhando alguém que está no meio de um ou completando o triângulo como amante secreto. O adultério existe desde que o casamento foi inventado. Ele é tão condenado que possui dois mandamentos na Bíblia: um por consumá-lo e outro só por pensar nele. Portanto, como devemos entender esse tabu consagrado pelo tempo? Universalmente proibido e universalmente praticado?
Há poucos termos neutros para falar sobre o adultério. O próprio termo ‘adultério’ é derivado da palavra ‘corrupção’. Raramente alguém, em meio a uma conversa sobre ‘casos’, quer ficar isenta de tomar algum partido. O que o trabalho aqui pretende é ampliar as fronteiras do problema, uma vez que se reduzirmos a conversa apenas para um juízo de valor, não nos resta conversa nenhuma, muito menos, um trabalho artístico.
Longe de propor uma ‘receita’ de como se relacionar ou criar ‘certo ou errado’ para as situações da vida humana, o que interessa ao espetáculo, são seus clichês, rituais, gestos, discursos e coreografias sociais culturalmente construídas. Olhar para estas práticas a fim de investigá-las, tensioná-las e confrontá-las, na tentativa de deslocar imagens profundamente enraizadas a respeito do papel da mulher.
A proposta é de um encontro baseado na contradição, um acontecimento irrepetível que possa nos convocar a uma ultrapassagem de nós mesmos e a um trabalho ético-político, ético-estético. Potencializar a experiência amorosa no que ela tem de revolucionária e não de conformista”.
SERVIÇO
Espetáculo “Vaca”
Onde: Sesc Belenzinho
Endereço: Rua Padre Adelino, 1000, Belém, São Paulo
Quando: 30 de junho a 23 de julho
Horário: sexta e sábado às 21h30 – domingo às 18h30 – dias 14, 15 e 16 de julho terão interpretação em Libras
Quanto: R$ 30 (inteira) R$ 15 (meia)
Classificação etária: 18 anos
Duração: 60 minutos
Informações: (11) 2076-9700 ou através do site