Estreou no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo, “Uma Mulher Vestida de Sol”. A peça inédita de Ariano Suassuna com direção de Fernando Neves e apresentada pela Cia Vúrdon de Teatro Itinerante, se apresenta em curta temporada. O drama que conduz o enredo está nas disputas de terra, em uma trama familiar de amor e sangue. Esta obra trágico-lúdica de Suassuna apresenta uma estética sertaneja que se une ao romanceiro ibérico.
O universo imaginoso dessa tragédia sertaneja conta com telões “armoriais” pintados por Manuel Dantas Suassuna (filho de Ariano), cenografia de Guryva Portela, figurino e visagismo de Leopoldo Pacheco e Carol Badra e trilha sonora original, incluindo os arranjos de canto, em criação assinada por Renata Rosa. No elenco, Guryva Portela, Marcello Boffat, Jorge de Paula, Bruna Recchia, Kátia Daher, William Amaral e Carlos Ataíde.
“Uma Mulher Vestida de Sol” traz uma atmosfera épica de amor e violência, permeada por elementos como sede de sangue, palavra de honra, amor e assédio paterno nas exatas medidas dramáticas e trágicas. Não realista, parte de um drama humano para falar da grande tragédia coletiva do sertão: a luta do homem com a terra queimada de sol. Disputas por terra, briga de famílias, feminicídio e ameaças de morte são temas latentes na peça.
Uma cerca que divide duas propriedades é o epicentro do conflito. De um lado, Joaquim Maranhão (Guryva Portela), violento e sanguinário, fazendeiro, criador de gado e pai de Rosa (Bruna Recchia); do outro, Antônio Rodrigues (Marcelo Boffat), agricultor pacífico e pai de Francisco. Como pano de fundo, a história do amor impossível entre os primos Rosa e Francisco (Jorge de Paula) que deveriam ser inimigos, mas se apaixonam profundamente.
“O texto de Suassuna vai muito além do tema. Trata-se da realidade do sertão elevada à tragédia. A terra é o que menos interessa no contexto geral. A cerca é a razão, simboliza os sentimentos, a vida, a falta de espaço”, argumenta o diretor. Ele explica que esta cerca se naturaliza em cena, movimentando-se em diferentes sentidos e direções. “Esta cerca existe dentro das personagens, elas estão cercadas. A cerca é a peça”, diz.
“Uma Mulher Vestida de Sol” é um texto importante não só pelos valores próprios, mas também por ser a primeira grande tragédia produzida no Nordeste, ainda inédita nos palcos brasileiros. Escrita em 1947, para um concurso promovido pelo Teatro do Estudante de Pernambuco, e classificada em primeiro lugar, deu início também à carreira de autor teatral de Ariano Suassuna.
O diretor Fernando Neves ressalta a relevância desse texto, “o primeiro de um advogado, um filósofo que, vendo o circo, se apaixona pelo teatro”. Ele destaca a qualidade da dramaturgia e as possibilidades que ela oferece, tendo claras as camadas clássicas de tempo, espaço e ação. “O texto é enxuto, trata de uma tradição familiar, sem viés psicológico, exigindo o aprofundamento do ator”, comenta.
Sobre a concepção da montagem, Fernando Neves, mestre no ofício da reinterpretação do circo-teatro há quase duas décadas, explica que “a estética parte do arquétipo, da tipologia circense, mas retrabalhada na delicadeza, na precisão do domínio da linguagem”. O espírito onírico, a música e os cânticos estão presentes no espetáculo, entoados pelo elenco, performando momentos lúdicos no decorrer da história, que se passa em apenas 24 horas. A encenação de Neves traz também momentos de humor como respiros no trágico enredo.
Segundo Suassuna, “Uma Mulher Vestida de Sol” foi sua primeira tentativa de recriar o romanceiro popular nordestino. “Salientei, na época, a semelhança existente entre a terra da Espanha e o sertão, o romanceiro ibérico e o nordestino. Tomei um romance popular do sertão e tratei-o dramaticamente, nos termos da minha poesia – ela também filha do romanceiro nordestino e neta do ibérico. Procurei conservar na minha peça o que há de eterno, de universal e de poético no nosso riquíssimo cancioneiro onde há obras primas de poesia épica, especialmente na fase denominada pastoreio”, palavras do autor sobre sua obra.
Ao receber este espetáculo, o Centro Cultural Banco do Brasil oferece ao público contato com a obra de um dos maiores artistas do país, reafirmando seu compromisso com a promoção da arte e ampliação da conexão dos brasileiros com a cultura.
SERVIÇO
Espetáculo “Uma Mulher Vestida de Sol”
Onde: Centro Cultural banco do Brasil São Paulo
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112, Centro Histórico, São Paulo
Quando: 25 de janeiro a 12 de fevereiro de 2023
Horário: quarta a sexta às 18h30 e sábados e domingos às 17h
Quanto: R$ 15
Classificação etária: 14 anos
Duração: 100 minutos
Informações: (11) 4297-0600 ou através do site