Dono de uma filmografia abragante e diversificada, Cristiano Burlan lança nos cinemas paulistanos nesta quinta seu novo longa “Ulisses”, com produção e distribuição assinadas por Bela Filmes e Chatrone. O longa é o primeiro de uma trilogia, que conta também com “Nosferatu”, que fez sua estreia mundial no Festival de Brasília em setembro passado, e o inédito “Dom Quixote”.
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Com Rodrigo Sanches, no papel-título, o longa é uma jornada a partir de fragmentos de vida, construída a partir de lembranças, afetos e perdas, formam um quebra-cabeça que não quer ser montado. O caminho de um homem perdido entre ruínas e rastros apagados encontra eco numa São Paulo labiríntica, onde cada rua, rosto e gesto é um signo em disputa.
A fotografia em preto e branco de Helder Martins traz uma São Paulo marcada por fluxos interrompidos e zonas de passagem. Assim, a cidade é um estado mental do personagem, a partir de sua arquitetura de viadutos, ruas do centro, construções degradadas.

Burlan trabalha em “Ulisses” com um cinema que experimenta suas possibilidades formais, materializando o estado mental conturbado do protagonista atravessada por vozes, presenças e ausências que invadem a tela. Já Penélope (Ana Carolina Marinho) multifacetada e ambígua o acompanha como testemunha de uma busca que nunca se completa, ela surge em diferentes corpos e vozes, compondo um quadro emocional que escapa da estabilidade romântica. São memórias, fragmentos de discurso, fantasmas.
Ao trazer para a São Paulo contemporânea o clássico personagem de Homero, o diretor investiga com o passado ainda existe no presente numa metrópole marcada por seu concreto, incertezas e um abismo social.
“Um cinema marginal, enfim, ao retratar um indivíduo também percebido desta forma. Por isso, os bairros que abrangem o Minhocão, no centro de São Paulo, se tornam essenciais, com o acréscimo da figura de Jean-Claude Bernardet, no papel do homem em situação de rua, que já apareceu em projetos anteriores,” escreve Bruno Carmelo, em Meio Amargo.
“O material sobrevive por nunca negar sua essência: um projeto experimental que caça a linguagem em sua composição híbrida, investigando o trabalho de atores e atrizes, ecoando em cena não apenas as vozes do processo criativo, mas também as da própria finalização, bem como as expectativas e a recepção de uma plateia hipotética,” comenta Marcio Tito, em Deus Ateu.


