Aos 56 anos, completados no início de julho, Tom Cruise mantém todas as características que, há pelo menos três décadas, fazem dele o grande showman dos filmes de ação e aventura em Hollywood. O charme e a resistência física ainda disfarçam bem sua baixa estatura (1,70m) para os padrões deste tipo de filme. Tom continua se agigantando em cena, e fiel à moda antiga de se filmar ações.
Em ‘Missão: Impossível – Efeito Fallout’, mais longo (147 minutos) e novo episódio de sua “magnum opus”, o astro permanece abrindo mão do uso de dublês, arriscando-se, ele mesmo, nas cenas mais perigosas. Entre as peripécias da vez, saltou de um avião a mais de 2 mil metros de altitude, andou de moto em alta velocidade, na contramão – e sem capacete! – pelas ruas de Paris, pilotou helicóptero, sozinho a bordo, entre estreitos desfiladeiros, e ainda quebrou o tornozelo ao saltar entre dois prédios – mesmo assim continuou a tomada, mancando, e é assim que a cena é exibida. Consequentemente, são poucas as paisagens e cenários digitalmente inseridos. É quase tudo registro real.
O resultado desse esforço? As cenas soam mais autênticas, naturais, como se tem visto cada vez menos em produções deste gênero. Outro fator louvável: os momentos de luta corporal parecem, de fato, cuidadosamente preparados. Nada de movimentos de câmera frenéticos, indo de um lado para o outro em plano fechado, cansando mais a vista do espectador do que os combatentes em cena. Vemos, sim, em planos mais abertos, uma caprichada coreografia, à moda das antigas fitas estreladas por Van Damme, por exemplo. Neste quesito, deixa muito filme de super-herói comendo poeira.
É esse modo “raiz” de se produzir que garante parte do sucesso que a franquia ‘M:I’ tem feito desde seu primeiro lançamento, em 1996. A outra parte do êxito, bem sabemos, é inevitavelmente associada à presença carismática de Tom Cruise. Mais uma vez, seu personagem, Ethan Hunt, precisa evitar que uma rede de terroristas detone bombas nucleares pelo planeta. Figuras conhecidas da cinessérie retornam para ajudá-lo: Luther (Ving Rhames), Benji (Simon Pegg), Ilsa (Rebecca Ferguson) e seu superior imediato, Alan Hunley (Alec Baldwin). Quem também está de volta é sua ex-mulher, Julia (Michelle Monaghan), cuja participação rende o momento mais sensível do filme. Hunt contará, ainda, com a questionável ajuda de August Walker, interpretado por Henry Cavill (o atual Super-Homem), cuja beleza e vigor físico, aliás, não escondem sua canastrice.
Mesmo valendo-se de clichês manjados da franquia (o disfarce com próteses faciais, o mais famoso), a produção se esforça para acrescentar novos elementos à saga. Pela primeira vez, trata-se de uma sequência direta do filme anterior, trazendo, inclusive, o mesmo vilão de ‘Nação Secreta’, Solomon Lane (Sean Harris), fato igualmente inédito na série. Sinal dos tempos, a presença feminina é maior – e melhor – em ‘Efeito Fallout’, com personagens ambíguas, que enriquecem a trama. Interessante, também, a discreta presença de percussões “abrasileiradas” que o escocês Lorne Balfe mescla à trilha sonora.
No mais, e apesar de não superar ‘Protocolo Fantasma’ (2011), quarto ‘M:I’, e ainda o melhor de toda a série, ‘Efeito Fallout’ segue, passo a passo, a cartilha que faz de ‘Missão: Impossível’, ao lado dos filmes de 007, um marco na história dos blockbusters de ação e espionagem. E daí já sabermos de antemão que, no final das contas, Ethan Hunt salvará o dia mais uma vez? Não é justamente por isso que pagamos o ingresso? Longa vida a Tom!
Missão: Impossível – Efeito Fallout (Mission: Impossible – Fallout) – EUA, 147 min, 2018 – Dir.: Christopher McQuarrie – Estreou em 26/7. Assista ao trailer:
