Que saudades de Clodovil Hernandes, com sua língua afiada não deixava nada e ninguém passar impune a ela, dono da razão, nos deixou há doze anos, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), mas suas verdades ainda perduram em poucos diálogos da sociedade. O estilista não pode ser esquecido, se depender do ator e diretor Eduardo Martini isso não acontecerá.
Martini estreou no Teatro União Cultural, em São Paulo, o monólogo “Simplesmente Clô” que retrata de forma sublime a obra e momentos de solidão de Clodovil. O que ambos têm em comum? Afirmamos em auto e bom tom, inteligência, raciocínio rápido, versatilidade e primam pela qualidade de seus trabalhos. “Acho que a coisa que temos em comum mais forte é o amor pelo trabalho e o respeito pelo público. Disso eu não abro mão. Qualidade”, frisa Eduardo.
Eduardo Martini é um guerreiro multifacetado incansável da cultura tupiniquim, emenda um espetáculo após o outro, passeando pelo humor, área que domina com maestria até o drama, claro, um ator com esse gabarito, não podíamos esperar menos. Em tempos difíceis de pandemia, consegue levar público ao teatro, com todas as normas de segurança. “Fazer teatro com ou sem pandemia nunca foi fácil, mas eu sou apaixonado pelo palco, por interpretar, por realizar, seja teatro, TV ou cinema. Me virar em outras pessoas me dá ensinamento de vida. O Clô é um espetáculo que quase não foi planejado, e quando começamos a fazer tudo deu certo, muito certo”, diz o ator.
Após sua morte, Clodovil não recebeu nenhuma homenagem póstuma, o que é de se admirar, pois estamos falando de um ícone da moda nacional, por mais que era amado por muitos e odiado, ainda mais, por outros, Clô não pode se tornar um espectro da sociedade. Essa nova geração precisa conhecer o mestre da acidez. E não é momentânea essa vontade de criar algo em homenagem ao estilista e deputado federal, Martini namora a ideia há dez anos. “Eu planejei fazer esse espetáculo com o Luiz Carlos Goés, mas não deu tempo, ele partiu antes, e eu acho que as coisas acontecem na hora que tem que acontecer, e aconteceu agora. Eu sempre quis falar da solidão que eu achava que ele vivia, mostrar um outro lado desse homem tão polêmico”, comenta.
Com direção de Viviane Alfano e autoria de Bruno Cavalcanti, o espetáculo traz traços, trejeitos, cenário minimalista, mas que dizem mais que um amontoado de informações. O figurino é um detalhe a parte que em sintonia com o ator formam um perfeito dueto. “O diretor disse uma coisa ótima. A [peça] é um inventário da vida do Clodovil, então eu não julguei, não critiquei, não aliviei, apenas eu fiz. Durante a pandemia fiz uma pesquisa assistindo as entrevistas dele e por intuição tudo veio à tona. O tom da voz, o jeito, as paradas de mão, de corpo, a única coisa que eu não quis fazer foi a risada, nunca ninguém vai conseguir reproduzir exatamente. Escolhi uma música que representasse ele num todo, idealizei o cenário e figurino partindo do ponto do “inventário””, afirma Martini.
“A solidão sem o pejorativo é a melhor arma para você saber quem você é. Como você lida com você mesmo. São momentos que, se você é um ser humano preocupado com sua evolução, lhe permite essa conversa interior”, finaliza.
Viva Clodovil!
SERVIÇO
Espetáculo – Simplesmente Clô
Onde: Teatro União Cultural
Endereço: Rua Mário Amaral, 209, Paraíso
Quando: até 28 de fevereiro
Horário: sábado às 21h – domingo às 19h
Quanto: R$ 70 (inteira) R$ 35 (meia)
Classificação etária – 12 anos
Informações: (11) 3885-2242