O cartunista e quadrinhista mineiro Henfil (1944-1988) tinha uma forma peculiar de ver o que acontecia à sua volta. Contundente, com tiradas inteligentes e geniais, criou personagens de quadrinhos que viraram lenda no imaginário popular nas décadas de 1960 a 1990, nas páginas do jornal O Pasquim, porta-voz da luta pela redemocratização do país durante a ditadura militar. Mas havia outra faceta sua tão boa quanto a de fazer rir: dar entrevistas. É o que se vê no livro inédito “Sick da Vida – As Grandes Entrevistas de Henfil”, que o jornalista e editor Gonçalo Junior levou mais de uma década para produzir e que sairá pela Editora Noir, de São Paulo.
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O livro está em campanha de financiamento coletivo no Catarse, com previsão de finalização na primeira semana de janeiro e envio aos apoiadores e às livrarias para o mês de fevereiro de 2022. O desafio maior foi localizar as conversas antológicas do inquieto artista, pois ele dava entrevista para todo mundo. Gonçalo localizou o que considera as 18 maiores e mais importantes e no livro Cartas para um novo Brasil, organizado por Geneton Moraes Neto. “O que mais impressiona é que os temas praticamente não se repetem. Henfil sempre tinha um assunto novo e interessante para tratar e dar opiniões acertadas, sem se esquecer que são bastante atuais e importantes”, afirma o organizador.
“Sick da Vida” é uma obra fundamental para conhecer o quanto o humor gráfico foi importante na luta contra os arbítrios na ditadura militar, a partir de um artista de saúde bem frágil – era hemofílico – e de coragem imensa que se jogou como um camicase na luta pela volta da democracia. Ajuda também a entender o Brasil de hoje, com os resquícios, equívocos e traumas herdados por 21 anos de ditadura. “Não é possível compreender tudo isso sem ler os quadrinhos e os cartuns de Henfil e, agora, suas geniais entrevistas. Acredito que seja impossível sair o mesmo depois de conhecer suas ideias e seu posicionamento contundente como artista gráfico e humorista”, ressalta Gonçalo. 268 páginas. R$ 69.