Há tanto para ser dito. Há tanto para ser experienciado. Mas as asas são amputadas pelas tesouras que colocam em nossas mãos para que façamos o corte.
Há um choro doído na alma que arde no coração, fazendo secar a boca, fios de cabelos caírem assim como os olhos, e as vontades, os desejos, escorrem ao chão junto com as lágrimas.
Há tudo isso acontecendo enquanto um sorriso é expressado na roda de amigos, familiares e ou desconhecidos. Uma autossabotagem que nos acostumamos a praticar, e diante de cada desafio, do mais simples aos mais complexos, pegamos aquela tesoura que nos foi dada e a usamos em nossas asas mais uma vez. E cultivamos, muitas vezes no silêncio e solitários, a dor que chega sem demonstrar intenção de ir embora.
Somos atacados diariamente por este mal que gera outros amargores, forjando sentimentos de incapacidade, frouxidão, vergonha, sem força para lutarmos contra, mesmo sentindo vontade de sair da caverna e encarar o sol, o vento, o mar. Acabamos nos acomodando naquele sofá, diante daquela tela, nos alimentando das frustrações alheias que são cantadas por outros iguais, mas que nos faz continuar no mesmo assento, vendo no feed aquelas caras “felizes” vivendo aquilo que gostaríamos e assim nos afundamos mais e mais.
Na dor não há competições pra ver quem sofre mais, pois cada um sabe onde o calo aperta, e ouvindo outros e outras saberemos que o número de nosso sapato é diferente do dela, ou do dele, assim como as digitais, porém há uma cura no desabafo. Ao abrir nossa boca para vomitar aquilo que está engasgado na alma, estaremos indo de encontro a dias melhores. Ao abrir nossos sentidos para escuta, estaremos também indo de encontro a dias melhores, pois assim identificamos nossas feridas e podemos deixá-las cicatrizar.
Como diz o poeta Jeremias: “Quero trazer á memória aquilo que me pode dar esperança”. Ela, a esperança, é um alimento para nosso ser. Bora tentar de novo, fazê-la crescer, a duas, quatro, sete ou quantas mãos for necessárias. Não vamos usar aquela tesoura para cortá-la também.
EMICIDA REÚNE PABLLO VITTAR, MAJUR E BELCHIOR NO CLIPE DE “AMARELO”
E antes de encerrar, faço dois convites: a ouvir com atenção a canção de Emicida com Pabllo Vittar e Majur, “AmarElo” e assistir ao filme premiado “Café com Canela” (Amazon Prime), com direção de Glenda Nicácio e Ary Rosa. E depois me conte o que achou.