Após o sucesso estrondoso da primeira temporada, a série “Round 6” que estreou a segunda parte no último dia 26 de dezembro de 2024, já atingiu a marca de 68 milhões de telespectadores, segundo informações divulgadas pela Netflix. Na sequência da trama sanguinária, após vencer o sádico e famoso torneio, Gi-hun (Lee Jung-jae) busca vingança. Agora mais preparado, ele coloca em prática tudo o que aprendeu nos jogos anteriores para localizar os verdadeiros responsáveis pelas tragédias que presenciou, a primeira prova, a famosa “batatinha frita” faz com que o jogador 456 alerte os demais participantes, achando que as provas seguintes serão iguais a do primeiro jogo – ledo engano.
Seu destino, porém, pode estar ligado ao líder, um dos campeões que venceu a competição e se tornou organizador do torneio. Os desafios testam seus limites morais e físicos, enquanto ele desvenda os mistérios por trás dos jogos mortais. Além de enfrentar novos jogos, Gi-hun deve lidar com a corrupção da polícia que tenta esconder a verdade sobre o jogo. A segunda temporada aprofunda-se na investigação de Gi-hun, explorando suas interações com outros vitoriosos e suas tentativas de derrubar a organização por trás dos jogos, e se você acha que essa temporada está igual a primeira, assista com atenção, pois a série traz assuntos importantes que faz o telespectador refletir.

O público já sabia que Hwang Dong Hyuk, diretor da série, não queria dar continuidade ao projeto, mas devido à popularidade da primeira temporada, o forçou a escrever a segunda parte que possui sete episódios, dois a menos da anterior, e os episódios finais da terceira e última temporada que deve estrear ainda este ano. “Escrevi as temporadas dois e três ao mesmo tempo, e estávamos em produção para ambas simultaneamente. Quando eu estava escrevendo o roteiro para as duas temporadas, senti que havia um grande ponto de virada ou um ponto de inflexão, e esse foi o final do episódio sete, então pensei que faria justiça ter uma temporada separada depois disso. É por isso que tive os primeiros sete episódios como temporada 2 e depois o resto da temporada 3”, explicou Hwang em entrevista ao site Deadline.
ROUND 6: POR QUE TANTO SUCESSO? AS MEGATENDÊNCIAS E A NEUROCIÊNCIA PODEM AJUDAR A EXPLICAR
A trama sul-coreana joga holofote na ganância e desespero de um grupo de pessoas endividadas, fato real, que assombra milhões de pessoas no cenário mundial, que buscam melhorar de vida, passando por cima de tudo e todos para alcançar o próprio objetivo – incluindo matar o adversário que está em seu caminho.
“Round 6” vai além de uma narrativa cruel e sanguinária com jogos mortais, ela destaca o perigoso mundo dos influenciadores digitais que colocam a vida financeira de milhões de pessoas em risco, como é o caso do jogador 333 (Yim Si-Wan), uma subcelebridade do mundo digital que influência seus seguidores a investirem em criptomoedas, fazendo com que muitos deles percam tudo o que possuem, tanto é que muitos jogadores endividados estão no jogo por conta do “influenciador”. Um deles é o rapper Thanos, jogador 230 (T.O.P – Choi Seung-hyun), vitima do golpe das criptomoedas, que acabou se tornando um dos vilões da temporada.

Segundo informações divulgadas no site InfoMoney, em 2022, a autoridade de anti-lavagem de dinheiro da Coréia do Sul, abriu uma investigação contra 16 empresas estrangeiras de criptomoedas, que segundo ela operam sem aprovação regulatória no país, fazendo com que os usuários das criptomoedas fiquem vulneráveis a riscos de violação de informações pessoais e possíveis ataques de hackers. As cenas mostram que as pessoas devem pensar muito antes de investir todo o seu capital nesse tipo de transação, pois os riscos podem ser irreversíveis. Outro ponto importante é a explosão de influenciadores digitais que de forma errônea fazem com que seus seguidores tomem atitudes impulsivas, colocando suas vidas em risco.

Na primeira temporada, entre os 456 participantes havia somente um jogador de outra nacionalidade – um paquistanês – que perdeu sua vida por acreditar em outro jogador sul-coreano – e nesta nova edição, ao sentir que os jogos poderiam ser finalizados, após as revelações de Gi-hun, o líder imediatamente entra na arena sanguinária como o jogador 001 (Lee Byung-hun), ganhando a confiança de todos, incluindo o jogador 456, mas que na reta final apunhala a todos pelas costas, mostrando que nos dias atuais, infelizmente não podemos confiar em mais ninguém, pois o inimigo está ao seu lado.
“Eu quis escrever uma história que fosse uma alegoria ou fábula sobre a sociedade capitalista moderna, algo que retrate uma competição extrema de alguma forma semelhante com a competição da vida. Eu quis usar os tipos de personagens que todos nós já conhecemos na vida real”, disse o diretor à Variety.

Cada participante recebeu um cartão com uma simbologia similar ao do controle do game Playstation – quadrado, triângulo e um círculo – símbolos que estavam estampados nas máscaras dos “carrascos”, cada um com sua função na competição. No controle da empresa japonesa, o quadrado refere-se a um pedaço de papel como se fossem documentos a serem acessados, o triângulo significa ponto de vista e a direção a seguir, o círculo simboliza a decisão positiva a ser tomada, exatamente os comandos que cada um segue no jogo seguindo as ordens do superior, ao contrário da primeira temporada, desta vez o ícone X, que no videogame aborda a decisão negativa, ou seja, simboliza o fim do jogo para o participante, foi incluído, fazendo com que os jogadores pudessem optar por continuar ou desistir ao final de cada jogo.

E você já prestou atenção na trilha sonora da série? Ao fim de cada jogo sangrento, até mesmo na hora de dormir ou acordar, a música é do mesmo gênero – clássica. Segundo estudos científicos, esse tipo de música faz com que a pessoa fique mais concentrada, relaxada, alivia possíveis dores no corpo e melhora o sistema circulatório, afinal, os competidores devem estar bem dispostos ao inicio de um novo massacre.
Outro fator importante da série é a presença da personagem Hyun-ju, a jogadora 120 (Park Sung-Hoon), que trata-se de uma mulher trans, ex-soldado das forças especiais da Coréia do Sul, jogando holofote na causa LGBTQIA+. Até o momento, o país não possui uma lei que proteja a comunidade, mas por outro lado, ao completar 20 anos de idade a pessoa pode fazer a cirurgia de redesignação sexual, um dos sonhos da personagem que a fez a entrar no jogo. Desde 2007, foram feitas tentativas de aprovar uma lei antidiscrimatória no país, mas nenhuma teve andamento.

Segundo informações da revista Corea In, o tópico da discriminação contra pessoas transgênero ganhou mais força após a morte de Byun Hee-soo, em março de 2021. Byun foi a primeira soldado transgênero do exército sul-coreano, e movia um processo contra a instituição, após ter sido dispensada sob alegação de problemas psicológicos. Após a morte de Byun, o Tribunal Distrital de Daejeon considerou a dispensa ilegal e cancelou o ato. Ainda assim, não foi criada nenhuma lei ou medida para proibir que esse tipo de discriminação se repita. A exclusão de cidadãos transgêneros também pode ser considerada um tipo de “ironia”, pois muitos deles lutam pelo direito de servir às forças armadas, em uma sociedade onde os heteronormativos constantemente tentam evadir do alistamento.

“Round 6” pode até ser uma série violenta, sanguinária e doentia, mas traz assuntos importantes que nunca paramos para ter uma profunda reflexão. E que venha a terceira e última temporada.