RAYSSA LEAL, ATLETAS BRASILEIRAS, GERAÇÃO Z E NOSSA PARTICIPAÇÃO NO EMPODERAMENTO FEMININO

VAMOS JUNTAS AUXILIAR NOSSAS CRIANÇAS A LUTAR E JOGAR COMO UMA GAROTA, AFINAL, LUGAR DE MULHER (DESDE CEDO) É ONDE ELA QUISER
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02.08.2021

Gabriel Bianchini

Quem não se apaixonou pela querida fadinha, Rayssa Leal, adolescente de 13 anos que trouxe a medalha de prata inédita do skate feminino para o Brasil, na modalidade street, pode-se considerar morto por dentro. Além do mais, a atleta é pura representatividade: mulher, nordestina, pioneira e a atleta mais jovem a trazer uma medalha para nosso país.

Rayssa nasceu em Imperatriz, no Maranhão, e começou a andar de skate aos seis anos, por influência de um amigo de seu pai. Ela pediu e foi presenteada com um skate em seu aniversário, aprendeu várias manobras e as divulgava na internet. Num desses vídeos, Rayssa andava vestida de Sininho, a personagem de Peter Pan, e acertou um heelflip. Assim, não demorou em que ela passasse a ser chamada de “fadinha do skate”.

Tony Hawk, um dos maiores skatistas de todos os tempos, compartilhou esse vídeo da fadinha nas suas redes sociais e, graças à consistência e talento dela, se tornou um verdadeiro sucesso nas mídias e nas pistas de skate. Em entrevista ao Estadão, em 2019, Rayssa disse que sofria muito preconceito da própria família, por praticar o esporte, mas que teve todo apoio de seus pais, que foi fundamental para que continuasse e nos orgulhasse tanto. Já sua prima, que praticava junto com ela, desistiu, por conta das pressões familiares.

Além dela, ao longo da Olimpíada, admiramos muitas mulheres maravilhosas que representam nosso país, nas diversas modalidades do esporte: Letícia Bufoni e Pamela Rosa, do skate, Rebeca Andrade, medalhista de prata na ginástica artística, Formiga (jogadora que atua na seleção desde 1996) e Marta (uma das maiores jogadoras de todos os tempos), ambas do futebol feminino, Carol Gattaz, que completou 40 anos em quadra e teve sua primeira convocação nessa Olimpíada, a judoca Mayra Aguiar, primeira brasileira com três medalhas individuais. Até as nossas comentaristas têm dado show e nos enchem de orgulho: Daiane dos Santos, a primeira negra a ganhar uma medalha na ginástica artística no mundo, nos emociona a cada comentário, e Karen Jonz, tetracampeã mundial no skate, ensina na prática o feminismo, autenticidade e sororidade, na transmissão dos jogos olímpicos e na educação de sua filha.

E PRA VOCÊ, O QUE É SER MULHER?

Ademais, a Olimpíada de Tóquio consagra-se por ser a Olimpíada da Diversidade. E esse é um reflexo dos tempos que vivemos e da Geração Z. Os grupos etários, também conhecido como gerações, apresentam valores, necessidades e padrões de comportamento semelhantes, formando assim uma subcultura que pode conter importantes segmentos de mercado (Mowen; Minor, 2003), afinal, cada grupo etário sofreu grandes influências e foi marcado por fatos históricos, tecnologia, valores, atitudes e predisposições de uma época (Parment, 2013).

De acordo com os autores Blackwell, Miniard e Engel (2011), existem grupos etários importantes para as empresas, os quais denominam-se como:

Baby Boomers: são pessoas nascidas no período após a Segunda Guerra Mundial, de 1946 a 1963 (algumas literaturas falam que é até 1964).

Geração X: nascidos entre 1964 (algumas literaturas falam que é a partir de 1965) e 1979

Geração Y (Millenials): composta por pessoas nascida entre 1980 e 2000. Alguns autores também alegam que a geração Y nasceu de 1980 e 1995.

Geração Z: nascidos de 1995 até 2010, ou de até 2000 até 2010. 

Geração Alpha: nascidos pós 2010, ainda crianças e pré-adolescentes.

A Geração Z, também conhecida como Nativos Digitais e “Z-lennial”, se adaptam facilmente às novas tecnologias e velocidade na captação de conteúdo. Esta geração é muito marcada por mudanças políticas, sociais e tecnológicas que influenciaram e alteraram as suas crenças e formas de viver, e isso podemos ver na Olimpíada. Sempre conheceram um mundo instável e estão acostumados à turbulência que os rodeia. Um marco dessa geração é a queda do World Trade Center, nos Estados Unidos, em 2001. Logo, esses jovens encaram o mundo de uma forma mais pragmática e realista do que os seus pais. Particularmente, muitos enfrentaram a crise econômica diretamente, vendo os seus pais cortarem despesas do lar ou até a perderem os seus empregos (Silva, 2017).

São jovens ativos, multifacetados, conseguem fazer várias coisas ao mesmo tempo. É uma geração empreendedora e inovadora, que procura deixar a sua marca pessoal em tudo que faz. Outra característica dos indivíduos dessa geração é trabalhar com mais facilidade com a diversidade, igualdade de gênero e globalização, já que para eles não existem fronteiras geográficas e a globalização é um termo que utilizam desde a infância (Singh, 2013).

Além do mais, a Geração Z também possui espírito crítico em relação aos assuntos que os rodeiam, pois convivem com mudanças em diversos âmbitos, desde que nasceram, sendo muito sensíveis aos assuntos de igualdade social e às alterações climáticas (Silva, 2017).

Por conta da sobrecarga de informações, os Z procuram, de maneira corriqueira, momentos de diversão e formas de fazer mais rápido, melhor e de maneira mais divertida uma tarefa, na sua vida social, no local de trabalho ou mesmo nas suas compras. Valorizam experiências incríveis e significativas na sua vida (Silva, 2017).

É lindo ver as atletas supracitadas brilharem e observar a diversidade na Olimpíada, que refletem a Geração Z, mas eu me questiono: será que nós, outras mulheres, incentivamos as nossas garotas a serem quem elas quiserem? Como estamos incentivando nossas garotas a chegarem até a Olimpíada, por exemplo? Já que o slogan da Olimpíada é “despertar o melhor que há dentro de cada um de nós”, convido a todos para essa reflexão. 

Será que estamos agindo, ao longo de todos os outros anos sem Olimpíada, como os pais de Rayssa, ou como os parentes dela? Será que incentivamos as meninas a serem mais fortes ou a desistirem de seus sonhos?

Quando você é chamado para ir a um aniversário de uma garota, qual presente você compra? Você compra roupas que ressaltam apenas a beleza física dessa criança (escrita linda, princesa), ou estimula essa garota a ser corajosa, com frases motivacionais na camiseta? Ou roupas confortáveis, que incentivem essa garota a praticar esportes? E os brinquedos? Você compra brinquedos e fantasias que estimulem a memória, concentração e criatividade, ligados aos jogos, música, esporte e leitura, ou você compra pequenos utensílios domésticos, maquiagem e itens rosa?

As meninas podem brincar de boneca e de cuidar da casa (junto com os meninos), mas é importante variar as brincadeiras, porque assim ela vai descobrir o que realmente a toca, os seus talentos e seu propósito na Terra.

Quando você está em um parque, ou na praia com uma garota, você a incentiva a brincar livremente, ou fica repreendendo-a a todo o momento a ser “comportada, ficar sentada, não se sujar e não sentar com as pernas abertas”? Você a incentiva, em qualquer ambiente, a ser amorosa com todos os adultos, até mesmo aqueles que a tratam mal e invadem seus corpos, abraçando-as sem a sua permissão (vide a polêmica da semana com o amigo do cantor Wesley Safadão)? Adorei uma fala do site Mil Dicas de Mãe, que alega que ao ensinarmos a garota a ser uma ‘boa menina’, ensinamos intrinsecamente as garotas a obediência passiva. E o que queremos é que elas exponham seus pontos de vista, com respeito: “por ‘ser uma boa menina’, ela pode enfrentar dificuldades para sair dos mesmos relacionamentos. Incentive que as garotas digam ‘não’ sem ter medo de machucar os sentimentos alheios. Fortaleça sua autonomia e admire sua determinação”. Logo, o site nos sugere a incentivarmos as garotas a serem respeitosas, não obedientes passivamente, para que se imponham, com educação, mas não sejam passivas.

Você elogia uma garota por sua inteligência, destreza, criatividade, ou apenas seus atributos físicos? É muito bom sairmos do elogio “como você é linda”, “olha que princesa”, e valorizarmos outros atributos, para que essa criança cresça se valorizando e valorizando os outros, além das aparências.

Incentive as garotas a confiarem em si mesmas. Outro dia, uma grande amiga participava de um projeto social e deu para suas sobrinhas uma verba, para que elas fabricassem e vendessem ovos de Páscoa, de modo a levantar fundos e auxiliar no projeto. Minha amiga e seus familiares foram os primeiros a comprarem os ovos e elas conseguiram arrecadar bastante dinheiro para o projeto social. Lindo, né?

Minha amiga também comprou Kindle para elas e, além disso, as levou ao Interior de São Paulo num parque ecológico, para fazerem trilha, terem contato com a natureza e praticar alguns esportes radicais. Outra coisa que podemos evitar, para formarmos uma geração de mulheres fortes: parem de rivalizá-las. Incentivem uma garota a ter empatia por outras. Vide o exemplo da Simone Biles sentada na arquibancada torcendo para Rebeca Andrade, atleta brasileira que ganhou a prata na ginástica artística.

SIMONE BILES: ENTENDA SEUS LIMITES E SAIBA A HORA CERTA DE PARAR

E as donas marcas? Será que fazem postagem apenas exaltando as mulheres no momento com o qual ganham a Olimpíada, ou contratam mulheres para os cargos estratégicos? Apoiam as causas de empoderamento feminino ao longo dos anos e incentivam as suas colaboradoras a serem empoderadas e terem diálogo aberto na empresa? Destinam seus impostos à projetos da Lei Rouanet, que estimulam a prática de esportes por mulheres, crianças, jovens e adultas?

Para que continuemos a ter uma safra maravilhosa de atletas femininas, não basta admirarmos essas mulheres a cada quatro anos: torna-se fundamental o nosso apoio, enquanto adultas, às garotas serem quem elas quiserem, estimulando a sua coragem, criatividade, liderança e autoestima que vai além da aparência e rivalidade feminina.

Vamos estimular as nossas garotas a exercerem as potencialidades da Geração Z: Saber dizer não ao que não faz parte de seu propósito e verdade, não ter medo de pontuar o que é certo e errado, em suas vidas. Para isso, elas precisam ser incentivadas a experimentarem outros tipos de brincadeira, além de Barbies e panelinhas;

Trabalhar com maior cooperação e menor competição: para isso, nós, adultas, precisamos estimular a sororidade, desde pequenas, e fazer as garotas brincarem em grupo, tendo contato com uma diversidade de crianças;

Ter tolerância ao diferente, aceitação à diversidade e maior engajamento e sensibilidade com as causas sociais e ambientais. Para isso, precisamos incentivar as garotas a terem contato com brincadeiras e vivências, como o exemplo da minha amiga;

Levar a vida de uma maneira mais leve, não se esquecendo de trazer e priorizar a diversão (sempre que possível) nos diversos âmbitos da vida: incentivar as meninas a terem autoestima, não comparar as garotas, principalmente seus corpos e elogiá-las além das características físicas, faz a diferença, com pequenas atitudes. Incentivarmos o empreendedorismo, a prática de esportes, música, cinema, artes e contato com a natureza e com as causas sociais, muito além das bonecas, maquiagem para criança e “cor rosa”. Elas podem também brincar de casinha, se é isso que elas gostam, mas devem conhecer outras maneiras de brincar.

Vamos juntas auxiliar nossas crianças a lutarem, como uma garota, jogarem, como uma garota, afinal, lugar de mulher (desde cedo) é onde ela quiser.

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