Prejudicado nas bilheterias, ‘Han Solo’ merece mais do que vem colhendo

Lançamento equivocado nos EUA e paralisações no Brasil limitam potencial do filme
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01.06.2018

Divulgação / Reprodução

Menos de seis meses após a estreia de ‘Os Últimos Jedi’ (2017), o universo de Guerra nas Estrelas retorna aos cinemas com ‘Han Solo: Uma História Star Wars’, contando o início da amizade entre o piloto e seu fiel companheiro, Chewbacca.

O filme estreou nos EUA na sexta, 25 de maio, exatamente o aniversário de lançamento de ‘Uma Nova Esperança’ (1977) e ‘O Retorno de Jedi’ (1983), respectivamente o início e o encerramento da trilogia original da franquia, onde Han e Chewie aparecem pela primeira vez. Só a coincidência de datas pode explicar – mas não justificar – uma estratégia de lançamento tão arriscada.

A Disney, sua produtora e distribuidora, não só rompeu a prática dos últimos três anos, em que estreou os novos filmes da saga sempre em dezembro, como ainda lançou ‘Han Solo’ apenas três semanas após o aguardado ‘Vingadores: Guerra Infinita’, do qual também detém os direitos. Para complicar, a Fox – legalmente ainda fora dos domínios da Disney, a quem foi vendida meses atrás – decidiu antecipar ‘Deadpool 2’ de junho para 18 de maio, uma semana antes de ‘Han Solo’.

O azar também deu as caras. Nos EUA e no Brasil. Lá, apesar de estrear em um feriado prolongado (Memorial Day, na segunda, 28), teve importantes eventos esportivos como principais adversários. Enfrentou duas das provas mais tradicionais e populares do automobilismo norte-americano (uma à tarde, e outra à noite), que já são praxe no último domingo de maio, e ainda encarou improváveis jogos decisivos da liga de basquete local (NBA) – decididas em melhor de sete partidas, há 39 anos as finais de suas duas conferências não eram definidas apenas no sétimo jogo, o que significou um novo duelo decisivo em cada um dos quatro dias do feriado, sempre em horário nobre. Todas essas competições atraem milhões de telespectadores no país.

Por aqui, como se sabe, a falta de combustível gerada pela paralisação dos caminhoneiros (e não julgamos aqui o mérito do ato) deixou muita gente receosa para sair de casa no final de semana, ocasionando salas de cinema vazias (algumas sequer abertas) por todo o país.

O resultado desse “fogo amigo”, somado à infeliz coincidência de datas, é que a carreira de ‘Han Solo’ nas bilheterias tem ecoado sua própria história: luta muito para superar as dificuldades que lhe são impostas desde a juventude. Sofre com caos político-econômico à sua volta. Sobreviver a mais um dia (em cartaz; em seu planeta) é a prioridade.

critica han solo star wars

Embora soe paradoxal, é preciso, antes de tudo, tentar ao máximo esquecer Harrison Ford, cativante intérprete original do personagem. É quase inevitável, mas compará-lo com Alden Ehrenreich (o novo Solo) é injusto porque nos priva de enxergar o bom trabalho que o ator acaba por desenvolver, o que pode prejudicar nossa recepção ao filme.

E pobre de quem pensa em escapar da realidade ao assisti-lo. O letreiro inicial logo avisa tratar-se de “um tempo sem lei”, e que há competição “por comida, medicamentos e combustível”. Como um raio, o noticiário dos últimos dias nos vem à mente.

Desde o começo, contudo, o filme procura cumprir seu propósito maior, de cativar uma nova e jovem plateia, sem deixar de reverenciar o antigo fã. Sendo assim, há de termos paciência com os costumeiros diálogos superficiais desse tipo de filme. Gradualmente eles vão diminuindo. Entre as recompensas, estão deliciosas referências não só aos episódios anteriores da série, mas também a clássicos do cinema de ficção dos anos 80.
‘Blade Runner’ (1982) inspira boa parte do visual inicial, um ambiente futurístico distópico, sombrio, com o jovem Han Solo ao volante de um carro, em planos que remetem à trilogia ‘Mad Max’ (1979-81-85). Pouco depois, na mesma sequência, os fãs dos videogames dos anos 90 notarão a semelhança desses veículos com os de F-Zero (Nintendo, 1990), jogo de corridas ambientado no século 26, onde os veículos flutuam a poucos centímetros do chão, em pistas claramente delineadas, tal como no filme.

A partir daí a trama ganha contornos mais sérios. Solo vai à guerra lutar pelo Império. Lá, conhece Beckett (Woody Harrelson, sempre competente), que se torna uma espécie de mentor para o jovem. De maneira até surpreendente, a fotografia de Bradford Young (indicado ao Oscar 2017 por ‘A Chegada’) permanece escura e gélida, descolando, com sucesso, este filme da artificialidade colorida que vemos, por exemplo, nos títulos da Marvel.

E não pode passar batido a metáfora lançada quando os protagonistas partem em busca de combustível não refinado num longínquo planeta quente e desértico, onde o produto é extraído de seu subterrâneo por trabalhadores explorados pelos donos do negócio. O terceiro mundo sempre cedendo matéria-prima às custas de mão de obra barata. Numa outra leitura, a eterna cobiça do ocidente pelos preciosos recursos minerais do Oriente Médio.

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Quer dizer, ‘Han Solo’ traz tudo que se espera de um “blockbuster”: ação, bom humor, efeitos visuais, reviravoltas. Traz, inclusive – demanda dos tempos – forte apelo à inclusão social e igualdade de direitos, de maneira até criativa, embora um tanto esquizofrênica: repare no destino de Val, personagem de Thandie Newton (Maeve, da série ‘Westworld’), ou no momento em que Chewbacca finalmente assume a pilotagem da nave Millennium Falcon.

Mas ganha muito ao ser roteirizado por Lawrence Kasdan (em parceria com o filho, Jonathan), autor de ‘O Império Contra-Ataca’ (1980), segundo episódio da trilogia original, considerado por muitos o melhor de toda a saga. Ganha ainda mais pela direção do experiente Ron Howard (vencedor do Oscar 2002, por ‘Uma Mente Brilhante’), contratado às pressas após a demissão dos diretores originais.

Além do forte elenco de apoio, com Paul Bettany (o Visão dos ‘Vingadores’) juntando-se aos já mencionados Harrelson e Thandie, traz ainda uma das personagens mais interessantes da nova fase da franquia. Qi’ra, namorada de Han, interpretada por Emilia Clarke (a Daenerys de ‘Game of Thrones’), prova que merece voltar a figurar no universo cinematográfico de Star Wars. Aliás, a deixa para isso existe, após uma surpreendente aparição no final. Que a Disney reconheça seu erro e não deixe que a bilheteria inicial abaixo da expectativa frustre esse plano.

Han Solo: Uma História Star Wars (Solo: A Star Wars Story) – EUA, 135 min, 2018 – Direção: Ron Howard – Estreou em 24/5. Assista ao trailer:

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