Procrastinar: aquela atitude não muito bem vista e tida como preguiçosa de deixar os afazeres para a última hora. Você é muito procrastinadora? Estudos recentes mostram que a pandemia do novo coronavírus nos traz um cenário muito propício para procrastinar. No episódio “O que a procrastinação diz sobre a sua insegurança” da série de podcasts Bom dia, Obvious, a Marcela Ceribelli e a psicóloga Catharine Rosas, esmiúçam as causas desse hábito tão comum na vida de muitas pessoas e garantem: procrastinação tem muito mais relação com insegurança e medo do que preguiça. Isso faz sentido para você?
Realmente o “deixar para depois”, sempre pareceu adiar algo que, pelo menos parte de mim, não queria realizar. Adiar desconfortos que a execução daquela tarefa podem me trazer, como por exemplo, a frustração por não conseguir realizar da forma como eu idealizei e, consequentemente, não me considerar digna para aquela função – alô, síndrome da impostora.
A pandemia do novo coronavírus contribui de maneira bem cruel para essa prática de deixar as tarefas para mais tarde. “Quando a Covid-19 surgiu, as pessoas não tiveram tempo de se acostumar ao novo estilo de vida nem de compreendê-lo. Como resultado das mudanças abruptas em relação à forma de viver das pessoas, a Covid-19 abriu caminho para a crise de saúde mental (aumento do estresse, da ansiedade e do humor deprimido) (…) Para piorar a situação, quando as pessoas estão assustadas, estressadas ou deprimidas, é mais provável que elas procrastinem, atrasem ou adiem as tarefas e deveres”, afirma Yaser Dorri, Ph.D., psicólogo no departamento de Psiquiatria e Psicologia do Sistema de Saúde da Mayo Clinic em Austin, Minnesota. Como produzimos bem em um momento em que somos diariamente bombardeados por notícias ruins e preocupantes?
A era digital também colabora demais para a procrastinação. Navegar nas nossas redes sociais, assistir filmes, séries e acompanhar memes, são atividades que podem ser muito mais prazerosas e menos complexas nesses momentos. “Você ‘tá’ a uma aba de explorar tudo que o universo online tem pra te oferecer. Então existe ali uma luta, a gente pode colocar como uma luta interna de você querendo se concentrar ao máximo, e você ali super tentada a pegar o celular e responder uma mensagem, entrar no Instagram…”, diz a psicóloga Catharine Rosas no podcast Bom dia, Obvious, ao comentar sobre a sensação rápida e passageira de prazer que sentimos ao ficar nas redes sociais. Ela conclui: “Você ‘tá’ ali diante de uma cadeira cheia de pequenas angústias que viraram um grande monstro, que nem aquela pilha de roupa que de noite você acha que é uma pessoa te olhando. Aquela é sua angústia no final do dia”.
A VIDA ANSIOSA OFERECIDA ÀS MULHERES
O fato de que muitas pessoas passaram a estudar, trabalhar e descansar no mesmo cômodo da casa, olhando para as mesmas paredes e objetos, também tem influência na procrastinação, porque envolve uma dificuldade gigantesca para estabelecer horários regrados e dissociar o seu quarto, por exemplo, do descanso, tranquilidade etc. O cenário realmente não é dos mais animadores e muitas de nós estamos sentindo na pele – sabemos que vivemos em uma sociedade que atribui muito mais tarefas às mulheres. E a procrastinação pode, na verdade, ser muitas outras coisas como cansaço, falta de organização, uma forma do nosso corpo reagir a tudo que tem acontecido no mundo, entre outras coisas.
Por isso, o mais importante é perceber como você consegue trabalhar a sua procrastinação, entender as causas, os seus motivos. Analisar se é insegurança ou medo e perceber de onde eles vieram. Tentar organizar melhor seus horários e atividades também pode ser válido. Mas, uma das coisas principais, acredito ser a autocompaixão. “Existem vários motivos que podem resultar na procrastinação, ela é sempre o resultado, nunca a causa. Ela causa muita culpa, muita frustração, e aí se você ficar nadando nesse mar de coisas muito ruins sobre você mesma, é mais difícil ainda sair da procrastinação. Então se você vier com uma dose cavalar de autocompaixão e entender que talvez não seja preguiça, talvez a gente esteja falando de um momento pandêmico que a gente ‘tá’ vivendo, que talvez seja cansaço, talvez seja tantas coisas (…) é muito maior do que só preguiça, por exemplo, ou só falta de disposição para realizar uma atividade.” conclui Catherine Rosas.