A Pinacoteca de São Paulo apresenta “Jonathas de Andrade: O Rebote do Bote”, a mais abrangente exposição do artista organizada até o momento. Com curadoria de Ana Maria Maia, curadora-chefe do espaço, o projeto, que ocupa o quarto andar da Pinacoteca Estação, oferece ao público um panorama da produção realizada por Jonathas durante os últimos quinze anos.
Dividida em três salas, cada qual pensada como um núcleo conceitual, a mostra apresenta a produção deste artista que se dedica a construir abordagens e vivências, nas quais o acesso ao outro e às diferenças é motivado pelo desejo e, consequentemente, também carregado de performances do poder, disputas e questões éticas. “A ideia era percorrer momentos diferentes da carreira de Jonathas de Andrade, mas sem necessariamente criar uma cronologia. Pensamos em grandes temas, mas o fio condutor foi entender os aspectos dessas relações que ele propõe com pessoas, com colaboradores, personagens dos trabalhos”, afirma Ana Maria Maia.
Na sala 1, intitulada “Corpo Para Jogo”, a narrativa da mostra começa apresentando a sexualidade em um conjunto de obras que incorrem em tematizações da masculinidade e do homoerotismo. Vemos suas passagens por cidades, arquivos e histórias e, por meio delas, percebemos que a busca desse corpo é a todo tempo carregada de perigos e promessas.
Na sala 2, intitulada “Jogos de Corpos”, existe uma reflexão sobre as dinâmicas de alteridade, dotadas de mecanismos de escuta, colaborações e resistência. O artista costuma refletir sobre questões laborais e negociações constantes de lugares, agências e memórias sociais. Representado no exercício de sua ocupação, o trabalhador encontra formas de resistir ao olhar fotográfico; sua excelência no manejo do ofício torna-se ferramenta para tensionar o fetiche e disputar a direção da cena.
O destaque fica por conta da obra inédita “Museu da Caravana do Nordeste” (2022), que funciona como um desdobramento da obra “Cartazes” para o Museu do Homem do Nordeste (2013) [pp. 7, 102-105], adquirida para o acervo da Pinacoteca pelo Programa de Patronos da Arte Contemporânea, em 2017, e atualmente em exposição na apresentação do acervo do museu.
Também se destaca a obra “Teatro das Heroínas de Tejucupapo” (2022), em primeira exibição no Brasil e que apresenta uma encenação da batalha ocorrida no séc. XVII, na Zona da Mata de Pernambuco, na qual tropas holandesas foram expulsas do vilarejo por um grupo de mulheres. A presença desse trabalho nessa sala abre caminhos para pensar a questão de gênero, que na história e na pesquisa estética de Jonathas é predominantemente abordada por um viés da masculinidade.
A sala 3, intitulada “Escalas de Devoração”, aborda o jogo tenso de convívio e cuidado, preservação e saque, nos âmbitos sociais, institucionais e ambientais. A curadoria provoca um encontro de obras de tempos distintos. A peça “Nostalgia”, sentimento de classe (2012) traz o tema da arquitetura modernista, que por um bom tempo foi amplamente explorado pelo artista. A instalação discute a ideia de que, quando o patrimônio arquitetônico não é tratado como um bem coletivo, ele só resiste como fetiche, como posse. A obra envolve as paredes externas da sala do vídeo “Nó na Garganta” (2022), obra comissionada e produzida pela Fondazione In Between Art and Film, que fez parte da instalação “Com o coração saindo pela boca”, exibida no Pavilhão do Brasil na 59a Bienal de Veneza. Nele, se estabelece uma relação limítrofe entre os cuidadores de um zoológico e diversas cobras.
Nessa sala é também apresentado o projeto “Decalque Estilhaço” (2022), o primeiro exercício de autorrepresentação na carreira de Jonathas, que sempre se dispôs a mostrar a figura do outro e do coletivo. A obra evoca o começo de um processo criativo no qual colocar-se em cena, tornar-se imagem, é parte do exercício artístico e político de se implicar.
A mostra terá um catálogo bilíngue, que será vendido nas lojas físicas e on-line do museu. A Pinacoteca ainda produzirá um vídeo e um tour virtual para serem disponibilizados ao público no site do museu ao longo da exposição.
SERVIÇO
Exposição “Jonathas de Andrade: O Rebote do Bote”
Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo
Endereço: Largo General Osório, 66, 4o andar, Luz – São Paulo
Quando: 24 de setembro de 2022 a 28 de fevereiro de 2023
Horário: quarta a segunda, das 10h às 17h
Quanto: entrada gratuita
Informações: (11) 3335-4990 ou através do site