Estreou o espetáculo “Oroboro”, no dia 27 de abril, no Centro Cultural São Paulo. Idealizado pelos artistas Thais Dias e Jefferson Matias, a peça tem dramaturgia inédita de Tadeu Renato, encenação de Felipe de Menezes e direção musical de Fernando Alabê. “Oroboro” remete ao símbolo da cobra que morde o próprio rabo, mas também à concepção de povos africanos, como Bantu e Iorubá – em um tempo circular ou cíclico, que sempre acaba por retornar.
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Unindo elementos presentes em clássicos das tragédias gregas com universos do real, o espetáculo reflete sobre os arquétipos dos orixás, o terreiro e os corpos dos povos originários afro-atlânticos, que foram apartados de suas tradições sendo obrigados a se moldar a uma sociedade conduzida a partir de costumes e embasamentos eurocêntricos, remodelando de tempos em tempos, dentro desses mesmos padrões, afastando-se cada vez mais dos fundamentos afro-atlânticos.
Uma mistura entre cruzos que além de trazer a noção dos orixás nos corpos do cotidiano, faz nascer uma cena polifônica e anti realista que discute, também, outras formas e conteúdos para a cena preta contemporânea.
“Um ponto de encontro entre o pensamento e a cena para resgatarmos aquilo que ficou preso no passado, desenterrar nossas ancestralidades e devolver o grito aos corpos pretos que foram silenciados ao longo da história econômica e social de nosso país. Buscamos trazer à cena um imaginário fora do senso comum em relação aos arquétipos dos orixás, buscando viabilizar um espetáculo cheio de potência e um verdadeiro chamamento público para a exumação do que não foi dignamente enterrado”, explica Felipe de Menezes, responsável pela encenação do espetáculo.
O espetáculo transita pelo tempo de vida de Amara, que após muitos anos de separação, reencontra seu irmão Akin e acaba estabelecendo um vínculo que traz ao presente acontecimentos do passado, como a loucura da mãe, a separação da família e os cuidados de seu tio Benin. É nesse retorno conflituoso do que parecia esquecido, que ela começa a compreender as visões vindas de outro plano que a assombram, como um pedido do mundo dos mortos.
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“Assim como nas tragédias gregas, a peça lida com poderes diferentes ou superiores. Há uma discussão sobre se enredar nos poderes do mundo espiritual, para o enfrentamento contra o esquecimento da história, refletindo sobre os poderes do Capital sobre nossas subjetividades”, comenta o dramaturgo Tadeu Renato.
Em uma espécie de embate entre a estrutura clássica (tragédia grega) e elementos das culturas iorubás e bantos, a peça tem uma escolha pela forma poética dos Orikis, que são poemas-orações desses povos já citados e que tem uma estrutura própria, muito imagética e sonora, por vezes até misteriosas, apontando para uma investigação de uma estrutura mais “brasileira”, se valendo de algo comum do samba que é a repetição, em um jogo entre pergunta e resposta. Com canções originais escritas por Tadeu Renato e por Fernando Alabê em parceria com Melvin Santhana, “Oroboro” conta com uma trilha musical inserida na construção da cena.
“Todo caminho sonoro foi feito a partir dos sambas, jongos, maracatus, funk, soul, spiritual, rumbas, amapiano, semba, kuduro, sabar, orikis, orins, aduras, angorossi, sassanhas, loas e lundus em instrumentos de couro, metal e cordaoamentos convencionais e digitais em nosso Eletro-Xirê. Onde dubsteps, ragga e hip hop se infiltram e são permeados pelos movimentos da palavra e do corpo, atrelados a um conceito de ‘modernidade preta atemporal’”, comenta Fernando Alabê que assina a direção musical.
SERVIÇO
Espetáculo “Oroboro”
Onde: Centro Cultural São Paulo
Endereço: Rua Vergueiro, 1000, Vergueiro – São Paulo
Quando: 27 de abril a 21 de maio
Horário: quintas a sábados às 21h e domingos às 20h
Quanto: entrada gratuita
Classificação etária: 16 anos
Duração: 90 minutos
Informações: (11) 3397-4002 ou através do site