Figura de singular trajetória na arte contemporânea, o franco-venezuelano Carlos Cruz-Diez (1923 – 2019) dedicou sua vida ao estudo da cor nas artes contemporâneas e acaba de ganhar a mostra “Cruz-Diez: A Liberdade da Cor”, em cartaz até o dia 2 de fevereiro, no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo, com curadoria de Rodrigo Villela.
Artista profícuo, autor de pinturas, fotografias e instalações, foi aos poucos afastando suas criações das formas, anedotas, símbolos e até mesmo signos, num radical mergulho na cor em si, liberta ao máximo do aspecto decorativo ou secundário na representação artística. Nascido em Caracas, na Venezuela, Cruz-Diez interessou-se pela cor ainda criança, ao admirar a dança luminosa das garrafas que seu pai fabricava artesanalmente. Manteve a paixão pelas cores e pela potência expressiva dos fenômenos luminosos por toda a vida. Em meados de 1950, iniciou suas experimentações artísticas com a cor, o movimento e a luz e, na década seguinte, mudou-se para França, onde residiu e produziu incessantemente até seu recente falecimento, em julho do ano passado.
A exposição reúne 30 trabalhos, entre instalações, fotografias e obras de colecionadores brasileiros, além de vídeos documentais sobre a trajetória do artista. Juntas, fazem um percurso imersivo em diferentes fases da obra de Diez, apresentando sua pesquisa e pensamento para além da arte cinética, movimento no qual é reconhecido como expoente pela crítica mundial.
“Cruz-Diez fez um percurso bastante tocante em busca da cor como potência singular. A questão é que, normalmente, nossa experiência das cores se liga a algum suporte, ou seja, a cor é percebida como um aspecto de algo, o que muitas vezes pode tender ao decorativo. Um exemplo é quando colorimos uma forma qualquer desenhada, uma flor, por exemplo, como se a cor fosse um recurso que dá mais beleza e graça. Mas o desenho da flor poderia existir sem a cor e continuaríamos entendendo o que é”, explica Rodrigo Vilella. “É nesse sentido que Cruz-Diez se afasta gradualmente das formas e procura um contato direto com a vibração da cor e seus efeitos, algo que não depende necessariamente de uma forma. Os ambientes de cromossaturação, presentes na mostra, são um bom exemplo. E é em homenagem a esse belo mergulho, fundamental também para a arte contemporânea e a chamada pintura abstrata, que escolhemos ‘A Liberdade da Cor’ como título da exposição”, completa.
A mostra ultrapassa a área expositiva da instituição com uma obra inédita, agregada à arquitetura externa do prédio, podendo ser vista tanto da rua quanto da Praça do Espaço Cultural Porto Seguro. “O trabalho que eu realizo em áreas e edifícios urbanos fazem parte de um discurso gerado no tempo e no espaço que cria situações e eventos cromáticos, e muda a dialética entre o espectador e o trabalho”, afirmava o artista.
SERVIÇO
Exposição “Cruz-Diez: A Liberdade da Cor”
Onde: Espaço Cultural Porto Seguro
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 610, Campos Elíseos – SP
Quando: até 2 de fevereiro de 202
Horário: terça a sábado das 10h às 19h / domingos e feriados das 10h às 17h
Quanto: entrada gratuita