Após lançar, em sequência, três de suas produções mais singulares, a Marvel parece voltar ao “normal” com ‘Homem-Formiga e a Vespa’, vigésimo título de seu amplo universo cinematográfico. Acontece que, mesmo em modo “piloto automático”, os filmes do estúdio parecem ter atributos suficientes para agradar o grande público.
Se, por fatores distintos, ‘Thor: Ragnarok’ (2017), Pantera Negra (2018) e ‘Vingadores: Guerra Infinita’ (2018) oferecem desafios maiores ao seu espectador regular – o rompimento da quarta parede, aliado ao tom farsesco e auto-irônico no primeiro; o engajamento pela representatividade afrodescendente do segundo; ou a profunda personalidade do vilão e o final menos convencional do terceiro – este novo ‘Homem-Formiga’, tal qual seu predecessor (de 2015), apoia-se mais claramente nas fórmulas de roteiro que garantiram o sucesso das produções passadas.
Como mencionado em ‘Guerra Infinita’, Scott Lang/Homem-Formiga (Paul Rudd) segue cumprindo prisão domiciliar por ferir o “Acordo de Sokovia”, ao participar do conflito interno entre os membros dos Vingadores, em ‘Capitão América: Guerra Civil’ (2016). Quem nos recapitula os fatos, logo no início, é o agente do FBI Jimmy Woo (Randall Park), ao relatar toda a história, na velocidade de um locutor de rádio, à pequena Cassie (Abby Ryder Fortson), filha de Scott. Há maneiras mais sutis e elegantes de lembrar ao público ações de filmes anteriores do que nos comparando com pequenas crianças a quem se deve uma impaciente explicação.
A tônica do filme é a possibilidade real de que Janet Van Dyne (Michelle Pfeiffer), esposa do Dr. Hank Pym (Michael Douglas), ainda esteja viva, encolhida no mundo quântico há várias décadas. Pym e sua filha Hope/Vespa (Evangeline Lilly) precisarão da ajuda de Scott para provar essa hipótese. Terão que lidar, no entanto, com a ganância do contrabandista Sonny Burch (Walton Goggins), e o desespero de Ava/Fantasma (Hannah John-Kamen), cuja sobrevivência depende diretamente dos experimentos de Hope e Pym.
A presença de consagrados astros de Hollywood no elenco garante boa parte da empatia pelos personagens. Além de Pfeiffer e Douglas, Laurence Fishburne (o Morpheus, da trilogia ‘Matrix’) tem importante participação interpretando Dr. Bill Foster, antigo colega de Hank Pym. Como que para compensar tanta teoria física, química e matemática, carregadas de termos técnicos desconhecidos ao leigo, os alívios cômicos surgem na mesma proporção, encabeçados por Luis (Michael Peña), sócio de Scott na empresa de segurança privada que dirigem. Entre as já esperadas cenas de ação e mistério, há inúmeros diálogos bem-humorados, como os que acostumamos ouvir nesses dez anos de estúdio Marvel, e que foram menos frequentes em ‘Pantera Negra’ e ‘Guerra Infinita’.
É provável que o estúdio já tivesse ideia da pesada carga emocional a que o fã seria submetido diante dos acontecimentos do recente ‘Vingadores’. Por isso, conscientemente, apostou em algo mais leve para fechar seus lançamentos de 2018. Agora, só em março do próximo ano teremos contato com este universo novamente, com a estreia de ‘Capitã Marvel’, último elo a ser encaixado na imensa franquia antes de sua esperada conclusão.
E não esqueçam de aguardar as duas cenas pós-crédito. Especialmente a primeira delas!
Homem-Formiga e a Vespa (Ant-Man and the Wasp) – EUA, 118 min, 2018. Direção: Peyton Reed – Estreou em 5/7. Assista ao trailer:
