Quantas camadas uma artista da magnitude de Maria Rita possui? Cantora, produtora, mãe, dona de oito Grammy’s Latinos e de um legado imenso, Maria tem uma força que transborda quando canta. Como ela mesmo diz, “se querem saber como eu sou, basta ouvir meus trabalhos”. Está tudo ali, na intensidade da entrega. Por isso, depois de um hiato de quatro anos e de uma quarentena reclusa e reflexiva, essa artista brasileira apresenta seu novo álbum, “Desse Jeito”, em que incluiu pela primeira vez composições autorais e em que gravou, de uma vez só, sua voz para as faixas. O EP chegou em todas as plataformas digitais pela Som Livre com clipe da faixa homônima. (assista abaixo)
Quando Maria Rita terminou de passar a voz guia de “E Eu?”, primeira faixa do disco, ela sentiu que não precisava regravar. De primeira, ela conseguiu transmitir vários sentimentos enquanto cantava a composição de Fred Camacho, Fabrício Fontes e Cassiano Andrade, e isso bastava. Ali estava a força da música, que reflete sobre um relacionamento em que uma pessoa se anula pelo bem do amor – uma doce ilusão: “E eu fingi que nunca foi assim / E eu fugi de tudo até de mim / E eu menti por nós em nome do amor”. E Maria decidiu que assim seriam as outras faixas, com a sua voz crua, sem tratamento.
A ideia inicial era soltar uma música de cada vez, “como os mais jovens estão fazendo”, brinca ela. Mas, ao final das gravações, as faixas conversavam, tinham unidade juntas. E, por sugestão da equipe, o lançamento não mais deveria ser fragmentado, mas, sim, um bloco que representa a potência da Maria neste álbum carregado de axé. Como ela canta em “Desse Jeito”: “Quem cuspiu a cangibrina do santo / Veste branco em dia de Oxalá / Tem a ginga do andar do malandro / Não é qualquer um que vibra na força de Ogum / Valei-me Deus um Saravá / Axé, Mojuba, Zambi, Kolofé / Qual é? Cada um com a sua fé / Eu vou desse jeito que o rei mandou / Kaô, Cabecilê, meu pai Xangô”.
Faixas como “De Bem Com a Vida” e “Correria” são outras provas de que “Desse Jeito” é um EP de samba legítimo, popular, com um time de músicos virtuosos e a voz da Maria à vontade no meio deles. E, além de exímia cantora, ela entrega mais um projeto em que concilia outras funções (produtora, compositora, mãe…) e apresenta participações ilustres. Em “Canção da Erê Dela”, composição de Maria com Pretinho da Serrinha e Rachell Luz, ela convida Teresa Cristina para mais uma faixa que saúda o candomblé. Thiaguinho, por sua vez, participa de “Por Vezes”, outra música que Maria também assina, e em que as vozes se complementam em um samba apaixonante e de tirar o fôlego.
“Esse projeto é um apontar pros próximos 20, 40 anos do que eu entendo ser meu lugar na música — cantora, produtora e compositora. Busco trazer mais pessoas que admiro, que respeito e amo para perto, busco explorar meus limites, quebrar meus próprios telhados de vidro. Proponho uma identidade visual um pouco distante do que já apresentei, no anseio de separar e distinguir momentos. Inspirar e buscar inspiração, ensinar e aprender, sempre trazendo as minhas verdades para esse ofício, sendo a mais plena operária que eu puder ser!”, finaliza a artista. Ouça o EP na integra: