“Viva Tu”, o último álbum de Manu Chao, foi uma viagem ao coração dos homens, onde as emoções não enganam. Guia de um mochileiro cujo único passaporte é a música, aquela que une corações e supera diferenças. “Viva Tu” foi menos um retorno do que uma confirmação: Manu Chao continuará fazendo o que lhe der na telha. Viaja de um continente a outro, toca aqui e ali, em salões lotados e em povoados que mal aparecem no mapa. E, quando decide gravar novas canções, não o faz por uma agenda, mas pelo desejo de testemunhar um pedaço de vida – a sua e a das almas que cruza ao acaso em suas peregrinações. Liberdade total.
KAROL G HOMENAGEIA A CULTURA LATINA EM TODO SEU RITMO, RESILIÊNCIA E BRILHO NO ÁLBUM “TROPICOQUETA”
Em “A me mi piace”, um aceno para “Me gustas tú”, colaborou com Alfa, o artista italiano. Em “Solamente”, dirige-se ao México para um dueto com Santa Fe Klan, o rapper originário de Guanajuato. E, com “Viajando por el Mundo”, presenteia com o tempo de uma canção ao sol, um momento de comunhão no álbum da estrela colombiana Karol G.
Hoje, ele apresenta um novo EP de sete faixas, “La Couleur Du Temps”. Nele estão incluídas duas faixas de “Viva Tu”, “Tom & Lola” e “La Couleur du Temps”, em suas versões originais e, em seguida, remixadas por Mariano Mellino, o jovem prodígio da cena eletrônica argentina. Passamos do acústico, do sussurro, para um sopro sintético, um baixo com redondezas aveludadas e um ritmo que marca o compasso perfeitamente.
O remix de “La vie à 2”, publicado em 1998 em seu primeiro álbum solo, “Clandestino”, nos transporta para o passado para escrever melhor o presente. “É meia-noite em Tóquio, são 5 da manhã no Mali, que horas são no paraíso?”, canta ele. Esta canção trata de um amor que se consome na intimidade, de carícias e despedidas. Manu Chao desfia seus remorsos e lembranças em uma atmosfera quase apagada, como se sussurrasse sentimentos que se desvanecem.
Aqui, Demayä, o DJ e produtor, nos revela um remix intrépido, uma imersão no coração de uma boate sem porteiros nem áreas reservadas, onde os corpos se esquecem de si mesmos dançando, suados e cúmplices, apesar dos porquês. Em seguida, temos a alegria de reencontrar “Sénégal Fast Food” e sua harmônica esperançosa, com Amadou e Mariam, de 2004 – um hino aos deslocados, àqueles que viajam impulsionados pela miséria, uma canção que ressoa dolorosamente em 2025, em uma época de discursos retrógrados e desinibidos… e “L’Automne est las”, retirada de seu álbum gravado inteiramente em francês em 2004, “Sibérie m’était contée”, um pop com uma magia melancólica e mil cores, um aceno à poesia de Jacques Prévert, quando as folhas caem e a chuva anuncia o fim do verão.
Por fim, a faixa “Où tu veux, on y va” marca a gravação conjunta de Manu Chao e Gambeat, seu amigo e baixista de longa data. Inspirada no dub, no reggae e em um espírito sem fronteiras, a canção encarna a essência de Manu Chao: uma mistura de gêneros e a vontade de superar todas as barreiras para celebrar livremente os prazeres simples da vida. É um táxi sem destino, que compreendeu que o terminal importa menos do que o caminho percorrido e que uma aventura só é bonita quando se avança juntos. É inevitável pensar no falecido Amadou quando Manu e Gambeat revivem a memória de um táxi em Bamako… É uma faixa luminosa e reconfortante, uma mão estendida para partir longe, lá onde a humanidade ainda respira. Ouça o EP:


