MAM SÃO PAULO APRESENTA “MOQUÉM_SURARÎ: ARTE INDÍGENA CONTEMPORÂNEA”

A MOSTRA QUE ESTREIA EM 4 DE SETEMBRO ATESTA QUE O TEMPO DA ARTE INDÍGENA CCONTEMPORÂNEA NÃO É REFÉM DO PASSADO
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21.08.2021

Divulgação

A partir de 4 de setembro, o Museu de Arte Moderna de São Paulo exibe a mostra “Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea”, coletiva que tem curadoria de Jaider Esbell – artista macuxi convidado da 34ª Bienal. Correalizada entre MAM Fundação Bienal de São Paulo, a exposição integra a rede de parcerias da 34ª Bienal e conta com assistência curatorial da antropóloga e programadora cultural Paula Berbert e consultoria do professor do departamento de antropologia da FFLCH/USP Pedro Cesarino, e realização pelo Edital Proac Expresso 09/2020.

MOSTRA “ENCONTROS AMERÍNDIOS” TRAZ UM RECORTE DA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE POVOS INDÍGENAS DAS AMÉRICAS

Moquém designa a tecnologia milenar utilizada pelos povos indígenas para conservar os alimentos após a caça coletiva e facilitar seu transporte até as aldeias. O título da mostra –Moquém_Surarî – também refere-se à narrativa makuxi sobre a transformação do Moquém em uma mulher que, nos tempos antigos, subiu aos céus à procura de seu dono que a havia abandonado. Uma vez no céu, Surarî se transforma na constelação responsável por trazer a chuva, marcando o fim do mundo e o começo de um novo. A tecnologia de moquear é usada então para refletir sobre a troca e transformação de saberes que atravessam diferentes tempos e espaços- trânsitos que constituem os movimentos da arte indígena contemporânea.

Anna Senkamanto

Um dos principais objetivos da curadoria é mostrar ao público que existem outras histórias da arte e não tentar encaixar a arte indígena em uma narrativa canônica. “Queremos reproduzir um estilhaçamento da história da arte e mostrar como esse tipo de relação temporal é cronicamente negado no Brasil, intelectuais indígenas foram rechaçados, seja na arte ou pensamento no Brasil”, afirma Jaider Esbell.

Moquém_Surarî apresenta trabalhos de 34 artistas indígenas dos povos Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Makuxi, Marubo, Pataxó, Patamona, Taurepang, Tapirapé, Tikmũ’ũn_Maxakali, Tukano, Wapichana, Xakriabá, Xirixana e Yanomami. Segundo Esbell, são obras que corporificam transformações, traduções visuais das cosmovisões e narrativas do corpo de artistas, presentificando a profundidade temporal que fundamenta suas práticas. “As obras atestam que o tempo da arte indígena contemporânea não é refém do passado. A ancestralidade é mobilizada no agora, reconfigurando posições enunciativas e relações de poder para produzir outras formas de encontro entre mundos não fundamentados nos extrativismos coloniais”, reflete Cesarino.

“Maldita e Desejada”, Jaider Esbell – 2012

O público vai se deparar com obras em suportes diversos, há desde desenhos criados por artistas como Ailton Krenak – emblemático líder indígena, escritor e filósofo -, Joseca YanomamiRivaldo Tapirapé e Yaka Huni Kuin; tecelagens de Bernaldina José Pedro; esculturas de Dalzira Xakriabá e Nei Xakriabá; fotografias de Sueli Maxakali e Arissana Pataxó; vídeo de Denilson Baniwa; gravura de Gustavo Caboco; pinturas de Carmésia EmilianoDiogo Lima Jaider Esbell; dentre outros.

Trata-se de um corpo artístico diverso, que une artistas de Roraima que refletem sobre os efeitos políticos e territoriais das invasões pecuárias da região, passando por outros artistas indígenas contemporâneos conhecidos no circuito das artes visuais ocidentais, até artistas que não têm relação com o mercado de arte contemporânea, mestres das práticas xamânicas, como pajés. “São obras que mostram o que são os regimes visuais indígenas, de existências milenares e dos quais a arte indígena contemporânea é tributária”, explica Berbert.

“Tartaruga” – série Yãmiy/Homem-Espírito, 2009 – Sueli Maxakali

Segundo Cauê Alves, curador-chefe do MAM, “a presença dessa exposição na programação do Museu de Arte Moderna de São Paulo indica uma postura institucional que desconstrói pressupostos coloniais. Moquém_Surarî inaugura um diálogo direto com artistas indígenas que permitirá que o MAM repense e amplie sua política de aquisição de acervo, incluindo grupos étnicos sub-representados ou negligenciados ao longo da história.” E completa, “as narrativas dos descendentes de Makunaimî contadas por eles mesmos, certamente abrem outras perspectivas para além daquelas imaginadas pelos artistas e intelectuais modernistas centrais para fundação do MAM”.

“A mostra Moquém_Surarî não apenas amplia a visibilidade da arte indígena contemporânea, como também sinaliza o interesse do MAM em valorizar a cultura de povos ancestrais que nos últimos 500 anos tem tido sua existência ameaçada”, comenta Elizabeth Machado, presidente do museu.

Além da exposição na sede do MAM, a mostra contará com uma série de depoimentos inéditos em vídeo de sete artistas de Roraima, que serão divulgados ao longo do período expositivo nos canais digitais do museu, como também ampla programação educativa, que contará com oficinas e lives com os artistas sobre assuntos como arte e xamanismo, povos indígenas e a história da arte no Brasil e a força das mulheres indígenas nas artes.

SERVIÇO

Mostra “Moquém_Surarî: Arte Indígena Contemporânea”

Onde: Museu de Arte Moderna de São Paulo

Endereço: Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3 – Parque Ibirapuera

Quando: 4 de setembro a 28 de novembro

Horário: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)

Quanto: Entrada gratuita, com contribuição sugerida. Agendamento prévio necessário (AQUI)

Informações: (11) 5085-1300

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