“MACACOS” TRAZ RELATO DE UM HOMEM NEGRO QUE BUSCA POR RESPOSTAS PARA O RACISMO

A CIA. DO SAL APRESENTA O MONÓLOGO EM CURTA TEMPORADA NO CENTRO CULTURAL SÃO PAULO
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11.07.2022

Edson Lopes Jr. / Noelia Nájera

“Macacos”, da Cia. do Sal estreia no Centro Cultural São Paulo dia 15 de julho, em curta temporada, com entrada gratuita. A obra foi criada por Clayton Nascimento, que também está em cena. O nome do espetáculo faz referência a uma das formas de xingamento mais usada para ofender os negros no mundo todo. O preconceito contra os povos pretos é abordado em cena a partir do relato de um homem-negro que busca respostas para o racismo que rodeia seu cotidiano e a história de sua comunidade. 

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Uma das preocupações centrais da obra é recontar a história do Brasil, com um novo olhar, e a partir de fatos históricos, uma vez que ela sempre foi contada pela camada social que pode estudar e estruturar leis. Segundo Clayton Nascimento, a dramaturgia está amparada por uma pesquisa séria, que envolveu o projeto “História da Disputa: Disputa da História” idealizado pela historiadora Carol Oliveira, assim como pedagogos, intelectuais, entrevistas com mães vítimas do genocídio negro no Brasil, artigos e autores pretos para estruturar os fatos muitas vezes desconhecidos pelo grande público. A riqueza da obra fez, inclusive, com que um lote de 10 mil exemplares do livro fosse comprado para ser distribuído entre o material didático dos alunos do ensino público de São Paulo a partir de 2023. 

“Macacos” se desenrola num fluxo de pensamentos, desabafos e elucidações que surgem em cena, pautados pela história do Brasil e situações vividas por grandes artistas negros – de Elza Soares a Machado de Assis – até alcançar relatos e estatísticas do Brasil de 2022. De um modo desprevenido, o ator conduz o público a uma navegação de sonhos, reflexões, poesia e rock’n’roll. O espetáculo conta ainda com provocação cênica de Aílton Graça e preparação corporal de Ana Maria Miranda, professora da Escola de Arte Dramática da USP.

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“Criei essa peça na moradia da universidade, e como não conseguia vencer editais públicos, resolvi escrever, dirigir e interpretá-la; ao longo do tempo vieram os parceiros que tanto agregaram ao espetáculo, e, seis anos depois, ver que a peça respira, viajou o Brasil, ganhou prêmios, e ainda poder publicar a dramaturgia em livro pela Cobogó e entrar nos livros didáticos da cidade de São Paulo, me dão cada vez mais desejo de viver e de mostrar que o racismo, mesmo articulado e entranhado, nunca vence a profundidade da cultura popular brasileira, do mesmo modo que não existe raça, gênero, classe econômica ou credo que definam as potências de um alguém”, conta Nascimento.

“Macacos” começou a ser escrita em 2015 e fez sua estreia em 2016. Desde então, a peça já participou de festivais em Fortaleza, Curitiba, Brasília, Porto Alegre, Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Pernambuco e Amazonas. E acumula mais de uma dezena de premiações, entre eles “Prêmio Especial do Júri por Relevância Temática e Proposição Cênica”, “Melhor Ator”, “Dramaturgia ou Narrativas Urgentes” pelo Festival Niterói em Cena, Festival de Teatro do Rio de Janeiro, Festival de Teatro do Amazonas, entre outros. 

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Para essa estreia, o monólogo absorve questões atuais e que se tornam mais urgentes. O Brasil é um território com altos índices de homicídios causados pela Polícia Militar e Sociedade Civil à comunidade negra e indígena, o mais assustador é que a idade das vítimas ao longo dos anos vem diminuindo cada vez mais. 

“O dever do artista é refletir seus tempos”, já dizia Nina Simone. “Macacos faz um jogo entre arte cênica, as palavras, os fatos e o discurso para debater com o público a violência do racismo que sempre esteve presente na sociedade brasileira. Walter Benjamin diz que “nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim, (…) considera sua tarefa escovar a história a contrapelo”; por isso o texto reforça o compromisso de se comunicar com o povo negro, mas agora, com o nosso olhar”, completa o dramaturgo. Todos os profissionais envolvidos na produção são negros.

O texto da peça traz à luz fatos que não estão escritos nos livros didáticos, fazendo a relação entre números das estatísticas como as coletadas pelo Atlas da Violência do IPEA, e estatísticas coletadas pelo IBGE, livros históricos, entrevistas com mães que perderam filhos para o genocídio negro no Brasil e experiências cênicas.  

A dramaturgia foi criada a partir do caso do goleiro Aranha, do Grêmio, ofendido pela torcida tricolor gaúcha em 2014. “Já que o xingamento é infelizmente inevitável, transformamos então, em uma expressão artística para provocar a reflexão sobre essa origem e a nossa própria história. A peça é um convite a pensar sobre isso”, completa o artista. 

A montagem traz somente Clayton Nascimento no palco, a iluminação e um batom para falar sobre a urgência da vida negra no Brasil. Para amplificar esse debate, o artista receberá, ao final de cada apresentação, convidados para desdobrar temas pertinentes aos assuntos, fatos e estatísticas abordados na peça. A lista dos artistas convidados/as e as datas serão divulgadas nas redes sociais da Cia do Sal e do artista. 

SERVIÇO

Espetáculo “Macacos”

Onde: Centro Cultural São Paulo

Endereço: Rua Vergueiro, 1000, Paraíso – São Paulo

Quando: 15 a 31 de julho

Horário: quinta a sábado às 20h – domingo às 19h

Quanto: entrada gratuita – retirar os ingressos uma hora antes do inicio

Classificação etária: 14 anos

Duração: 80 minutos

Informações: Nos dias 23, 24, 30 e 31 de julho haverá uma conversa com convidados – acesse 

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