Leal, compositor, cantor, educador, ativista cultural e socioambiental, iniciou sua vida musical a partir da atuação na área de educação e em trabalhos nas periferias paulistanas. Ao longo de suas vivências profissionais e pessoais, Leal foi acumulando um repertório autoral formado por canções que tratam das belezas e complexidades das relações, assim como expressam uma visão crítica e reflexiva sobre diversidade social.
UNINDO ITALIANO E PORTUGUÊS, A BANDA SELTON SE UNE À NEY MATOGROSSO NA OBRA PRIMA “SANGUE LATINO”
A partir do exercício da composição, nasceu a vontade de dar voz às suas canções. Foi então que o artista iniciou o processo de produção do projeto “LEAL”, lançando agora, o EP intitulado “SIM”. Com direção geral de Lua Leça, que também assina direção artística junto a Patrícia Palumbo e Rebeca Brack, o projeto autoral, produzido por Big Rabello e Felipe Roseno, costura reverencia os mestres e mestras da cultura tradicional brasileira, mesclando diferentes referências da MPB e da world music e, propõe assim, uma trama pop fundamentada em nossas raízes para expressar, através de suas composições, histórias ao mundo em que vivemos e toda sua pluralidade.
“SIM” chega com o frescor do novo, uma brisa breve que deixará a sensação de ‘quero mais’, trazendo em dose homeopática o que está por vir com o álbum “LEAL”. O EP antecipa quatro faixas autorais e já entrega ao público participações especiais de Ney Matogrosso e Davi Kopenawa. O cantor nos apresenta de prima “Balanço”, uma canção que traz a importância de se amar para ser amado, o desejo e as imperfeições inerentes a ele. Um convite para uma dança, para a busca de um equilíbrio que faça valer uma relação e acalmar o coração. “Mas se você não vier pra dança/ Eu te chamo, eu te canto/ Eu te ganho/ Eu te trago pra cá”.
Se a primeira faixa já envolveu, a segunda chega de uma forma arrebatadora. A voz de Leal, que nesse momento já soa familiar ao público, é entrelaçada pelo icônico timbre inconfundível de Ney Matogrosso em “Karma”. Com um ritmo traçado em cima de referências latinas, “Karma” é uma ode ao querer. Fala sobre aspectos dionisíacos do ser humano e sobre a necessidade de equilibrá-los para não sucumbir a eles. Sobre excessos, limites, possibilidades e curas através do amor. “Como é que eu faço pra saber do amor/ Que existe em mim/ Que existe em ti/ E vai prevalecer aqui pegando fogo”.
Seguindo para “Cúmplice”, composta durante a pandemia, esta música a respeito dos desafios da vida a dois e como crises nunca são construídas de forma unilateral. Por isso o título. A canção se constitui numa espécie de confissão que reconhece o que poderia ter sido feito de melhor, aquilo que se quebrou ou não pôde ser transformado até então, apesar de um amor que ainda faz brilhar os olhos. Expõe a frustração de expectativas e dores vividas ao longo do caminho, mas termina apostando na possibilidade de reconstruir laços, superar frustrações a partir da força de um amor capaz de sonhar e se reconectar para construir um novo momento. “Teu céu ainda me ilumina/ Tua luz é brilho em meu olhar/ Meu desejo te afasta/ Te perco na hora de dormir”.
JOÃO FÊNIX E NEY MATOGROSSO SE UNEM NA CANÇÃO “NADA MAIS (LATELY)”, CLÁSSICO DE STEVIE WONDER
Para finalizar, Leal se junta a Davi Kopenawa, escritor, ator, xamã e importante líder político yanomami, em “Lógica Maneira”, um manifesto iniciado em uma visita à Mamirauá na Amazônia, intercalando versos em português e em yanomami. A viagem fez parte de um trabalho de aprofundamento em modelos de turismo de base comunitária, vividos a partir da parceria com comunidades ribeirinhas na região de Santarém, junto ao “Programa Saúde e Alegria”. A experiência de apoio a empreendimentos de base comunitária suscitou uma série de reflexões sobre a dinâmica perversa, entre diferentes modelos de desenvolvimentos, para a região em que comunidades tradicionais ribeirinhas e povos originários sofrem com o avanço de um modelo predatório de exploração de madeira, pasto, soja e mineração.
“Wamaki noa thai maki/ Nós falamos com vocês mas vocês não escutam/ Wamaki thëpë ã hiripraimi/ Vocês não se interessam pelas nossas falas/ Wamaki ã huoproimi maki/ Mas, mesmo assim, continuamos insistindo/ Yamaki ã hwai heiyatio/ Em fazer com que vocês entendam”.
“Essas canções são minha forma de partilhar visões de mundo e vivências pessoais a partir da música e da poesia. Uma interpretação da realidade e também reflexões e posicionamentos acerca de questões sociais. As músicas foram se transformando numa forma de expressão sonora, ora contando histórias, ora cantando afetos, a partir de diferentes estilos, a serviço das mensagens e imagens poéticas primordiais de cada tema em cada composição. Ao final do percurso, pensando sobre os caminhos para o lançamento do álbum, a ideia de iniciar lançando um EP foi ganhando sentido na medida em que se constitui como uma espécie de resumo da obra. Sinto que o EP representa o álbum e o artista ‘Leal’ de forma muito íntegra e verdadeira. É um SIM pra mim, imensamente honrado pelas participações e profissionais envolvidos, que compartilho com o mundo, como um convite, um jeito de pedir licença, um chamado”. Ouça o EP na íntegra: