“Quando o instrumento do medo não funciona, a gente adquire um poder inimaginável”. É com esta frase, cunhada por Marcelo Yuka durante entrevista em 2016 (ouça abaixo), que o Planet Hemp abre o álbum “Jardineiros“. Já disponível nas plataformas de áudio pela Som Livre, o grupo mostra que o discurso combativo que sempre caracterizou a banda está de volta. Apesar da energia de indignação ser o combustível para uma gama de mensagens questionadoras ao longo das 15 tracks, o primeiro projeto de inéditas da banda após um hiato de 22 anos tem como missão semear ideias, visões e utopias.
APÓS 22 ANOS, PLANET HEMP LANÇA EM TOM CRÍTICO, “DISTOPIA”, PARCERIA COM CRIOLO
“É importante lembrar que não existe apenas um caminho no mundo, nem dois apenas, mas vários. Queremos trazer essa pluralidade de volta e podemos dizer que ela se expressa de todas as formas, inclusive na quantidade de estilos presentes no álbum”, diz BNegão.
A faixa “Jardineiro” que inspirou o nome do álbum – traz versos diretos: “Jardineiro não é traficante / Ouça o que eu tô lhe dizendo, cumpadi, não compre, plante”. “O disco nasceu de uma ideia de coletivo, de fazer deste novo projeto mais que uma banda, e sim um movimento que une vários produtores diferentes, artistas, públicos de diferentes gerações, ideias e referências”, completa Marcelo D2.
Com formação atual composta por Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru, neste aguardado novo trabalho, o Planet Hemp usa como referências a sua própria caminhada e o momento atual do país para escrever este novo capítulo da sua história: valoriza o passado, mantém os pés firmes no presente, mas sem perder de vista o futuro. Unindo o melhor dos dois universos, “Jardineiros” traz reflexões acerca de temas como a crítica à política sobre drogas (como em “Remedinho” e “Jardineiro“) e questões sociais (presente em “Eles Sentem Também” e “Veias Abertas“, entre outras), ao mesmo tempo em que expande o leque de sonoridades, se unindo a nomes como MC Carol de Niterói (que aparece em “Onda Forte“) e o jovem trapper argentino Trueno (feat em “Meu Barrio“).
“Este disco carrega a diversidade do Planet Hemp, não tem uma música muito parecida com a outra“, comenta BNegão sobre a safra de 15 faixas selecionadas para o projeto. “Os temas importantes pro grupo estão presentes nas letras, apresentados de forma nova, com outros pontos de vista“.
Uma das faixas de destaque do álbum é “Taca Fogo“, um punk trap que não se furta a fazer críticas ao cenário político atual brasileiro e que começa com a chamada “Está no ar a Rádio Libertadora“, em referência ao pronunciamento do revolucionário Carlos Marighella durante a tomada da Rádio Nacional. Com trechos como “Olho pra minha coroa e o sorriso dela me fez acreditar / Aquele telefonema, quando eu tava preso, pra não parar de lutar“, a faixa contará ainda com um videoclipe dirigido por Marcelo D2, a ser lançado na próxima terça-feira (25).
Embalada na batida do miami bass, “Ainda” – outra faixa certeira do disco -, resgata não só a fama do grupo por seu histórico com a cannabis, mas também a estética da música carioca na década de 90, época de seu surgimento na cena underground.
Dentro desta coletividade sonora, além das já citadas participações de Trueno e MC Carol, e de Criolo – feat do primeiro single desta nova leva lançado pelo grupo, “Distopia” -, estão ainda Black Alien (integrante honorário da Ex Quadrilha da Fumaça, que participa na faixa “O Ritmo e a Raiva“), Tropkillaz (“Ainda“) e Tantão e Os Fita (“Veias Abertas“). O disco foi produzido pela própria banda, ao lado de outros grandes nomes da indústria como Mario Caldato, responsável pela finalização do álbum em Los Angeles (EUA), Nave e Zegon. Ouça na íntegra: